Mais tecnologia das multinacionais no agronegócio Por Luiz Silveira

20/09/2012 
 

Estabilidade e marcos regulatório estimulam companhias do setor a elevar investimento em pesquisa básica no País
 
Luiz Silveira ESPECIAL PARA O ESTADO

Ainda que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras instituições públicas tenham tido um papel fundamental no aumento da produtividade do agronegócio do Brasil nos últimos 40 anos, hoje empresas internacionais estão ocupando cada vez mais espaço no desenvolvimento da inovação no setor. A estabilidade econômica e a criação de marcos regulatórios nos últimos 15 anos estimularam as grandes multinacionais de tecnologia agrícola, habituadas a apenas adaptar aqui as invenções de suas matrizes, a ampliar os investimentos em pesquisa básica no Brasil.


Empresas como Monsanto, DuPont, Sygenta, Dow AgroSciences já planejam investimentos que chegam a centenas de milhões de reais nos próximos anos. Os projetos abrangem desde sementes tolerantes a herbicidas a defensivos agrícolas específicos para a cana de açúcar; “biofábricas” capazes de produzir mudas em escala; variedades de grãos, capim e cana de açúcar mais adequadas à produção. Já a DuPont investiu US$ 11 milhões nos últimos cinco anos em seu centro de pesquisa em Paulínia (SP), que atende também segmentos não agropecuários da companhia.


No caso da Monsanto, a empresa chegou a aumentar seus aportes em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no País de US$ 30 milhões em 2007 para mais de US$ 82 milhões (R$ 170 milhões) em 2011. Nos próximos meses, a empresa vai lançar comercialmente a primeira semente transgênica desenvolvida por uma multinacional exclusivamente para o mercado brasileiro, uma soja tolerante a herbicida e resistente a lagartas, batizada de Intacta RR2 Pro. “A propriedade intelectual é protegida no Brasil, e isso determina onde investimos em pesquisa e desenvolvimento”, diz o diretor de regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger.


Produção de alimentos. De outro lado, a estabilização da economia contribui para atrair capital para inovação, diz o diretor de pesquisa e desenvolvimento(P&D) em defesa fitossanitária da DuPont para a América Latina, José Evanil. Há menos de dois anos, a filial brasileira lançou um defensivo agrícola desenvolvido exclusivamente para a cana-de-açúcar. A companhia, tradicional no setor químico, investe hoje 62% de seus recursos de P&D em tecnologias que aumentam a produção de alimentos. “O Brasil é o país que recebe a maior parte desses recursos depois dos Estados Unidos”, afirma Evanil. “Temos colaborado em pesquisas básicas, principalmente em café, cana-de-açúcar e ferrugem asiática da soja”, relata ele.


Já a pesquisa voltada ao cultivo da cana de açúcar tornou-se mais atraente ante a busca pela substituição dos combustíveis fósseis. Nesse contexto a Syngenta, líder em agroquímicos, criou integralmente no Brasil uma nova tecnologia de plantio mecanizado de cana-de-açúcar. E, em junho, a empresa lançou a primeira “biofábrica” de cana do mundo, em Itápolis (SP), com investimento de US$ 100 milhões. “Temos previsão de contratos de US$ 300 milhões nos próximos cinco a seis anos para essa tecnologia”, afirma o diretor de marketing de cana da Syngenta, Adriano Vilas Boas. A biofábrica da Syngenta produz toletes de cana que são tratados em laboratório contra doenças e pragas.


Syngenta e Monsanto também têm investido na pesquisa básica de canas transgênicas no Brasil nos últimos cinco anos. Em 2008, a Monsanto adquiriu as empresas de tecnologia de cana Allelyx e CanaVialis, do grupo Votorantim, por US$ 290 milhões em valores da época. A Allelyx é o braço de biotecnologia que busca a cana transgênica, enquanto a CanaVialis já comercializa variedades de cana melhoradas.


Oportunidade. A produtividade média da cana na América Latina cresceu uma vez e meia nos últimos 50 anos, enquanto nos grãos o aumento foi superior a duas vezes e meia, destaca Vilas Boas, da Syngenta. Para ele, é exatamente nesta lacuna que se encontra uma boa oportunidade de mercado.



FOCO NA CELULOSE DO BAGAÇO DA CANA
Nos planos da Graalbio até palha deixada no campo pode virar álcool Produzir combustíveis e bioquímicos a partir da celulose do bagaço da cana-de-açúcar é a meta da Graalbio, empresa criada há pouco mais de uma ano, que anunciou em maio a construção de uma usina de etanol celulósico de R$ 300 milhões em Alagoas. Outros US$ 200 milhões estão previstos para bancar pesquisa e desenvolvimento nos próximos cinco anos, incluindo o custeio das equipes e a compra de tecnologias.


De R$ 15 milhões a R$ 20 milhões serão aplicados no melhoramento genético para obter uma cana com alto teor de celulose. Esse, aliás, é um nicho inexplorado. Até hoje, todo o melhoramento da cana foi voltado ao aumento do teor de açúcar, e não de celulose. Nos planos da Graalbio, além do bagaço, também a palha da cana poderá virar álcool, por meio de um sistema para colher o subproduto hoje deixado no campo.


A empresa tem como acionistas membros da família Gradin, ex-sócios da Odebrecht. E usará tecnologias próprias e de terceiros, e um consórcio de pesquisa com a Unicamp. Em contraste com outras startups de biotecnologia que estão se instalando na região, a Graalbio tem como objetivo dominar todo o processo de produção de químicos a partir da celulose da cana, e não apenas fornecer a tecnologia.


Segundo o empresário Bernardo Gradin, neste primeiro momento, a Graalbio “vai utilizar um modelo de parcerias com usinas para provar que as suas tecnologias funcionam”. /L. S.
 
 
 

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