O ano de 2005 foi bastante positivo para a cafeicultura brasileira, com melhoria de rentabilidade, das exportações e do consumo doméstico. Poderia ter sido melhor não fosse a valorização da taxa de câmbio.É importante lembrar que há poucos anos o setor cafeeiro enfrentou uma grande crise, enquanto outros segmentos se destacavam positivamente. De 1997 a 2001, […]
O ano de 2005 foi bastante positivo para a cafeicultura brasileira, com melhoria de rentabilidade, das exportações e do consumo doméstico. Poderia ter sido melhor não fosse a valorização da taxa de câmbio. É importante lembrar que há poucos anos o setor cafeeiro enfrentou uma grande crise, enquanto outros segmentos se destacavam positivamente. De 1997 a 2001, o preço médio composto da Organização Internacional do Café (OIC) recuou cerca de 66%. O contrato C na Bolsa de Nova York caiu 70%. O plano de retenção que objetivava enxugar o mercado não atingiu seu objetivo de elevar as cotações e ainda causou perda de mercado mundial para o Brasil. Houve abandono de lavouras, redução de tratos culturais e endividamentos. Enfim, um período para ser esquecido. No final de 2002, as cotações iniciaram uma recuperação até atingir um nível razoável para a atividade em 2004. Em 2005 o desempenho foi ainda melhor. O preço médio internacional (contrato C) aumentou 41% em relação a 2004. O preço doméstico do café arábica subiu cerca de 37%, mesmo com a valorização da taxa de câmbio em 17%. Essa melhoria ocorreu na esteira da redução dos estoques mundiais, em razão de uma combinação de menor safra no Brasil e no Vietnã (clima seco), de perdas de produção e estoques em países da América Central e Estados Unidos (furacões) e de crescimento do consumo mundial, que superou a produção em cerca de 9 milhões de sacas de 60 quilos. As exportações brasileiras de café fecharam o ano em US$ 2,9 bilhões, com incremento de 44% em relação ao ano anterior, e a estimativa para o consumo interno é de 15,8 milhões de sacas, o que equivale a 48% da última safra. A melhoria da qualidade do café, aumento de cafeterias e a promoção do consumo auxiliaram essa expansão. Apesar das especulações acerca do volume a ser produzido pelo Brasil, os baixos estoques de passagem da safra 2005/2006 devem garantir preço médio internacional para 2006 ligeiramente acima do ano passado. A previsão de aumento na safra brasileira e normalização da oferta vietnamita, porém, deve causar um recuo maior do preço do café ao longo da colheita no Brasil, salvo alguma anormalidade climática. O primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica produção de 42 milhões de sacas para a safra 2006/2007, ante 32,9 milhões de sacas em 2005/2006. No caso do Vietnã, na última safra houve uma produção de aproximadamente 12,3 milhões de sacas, ante 15 milhões esperados inicialmente. Para 2006/2007 este último patamar poderá ser atingido caso as condições para o desenvolvimento da lavoura sejam adequadas. Apenas estes dois países, portanto, poderiam disponibilizar pelo menos 11,8 milhões de sacas adicionais. Considerando mais aproximadamente 1 milhão de sacas da Colômbia e outros países em conjunto, ceteris paribus (“todo o resto sem mudanças”) a safra mundial poderá atingir 121 milhões de sacas em 2006/2007, para um consumo próximo de 118,7 milhões de sacas. Os estoques finais, estimados em 50,1 milhões e 41,2 milhões de sacas em 2004/2005 e 2005/2006, respectivamente, iriam para 43,5 milhões no atual ano-safra, mantendo rentabilidade ao cafeicultor. A safra brasileira 2007/2008 será de bianualidade baixa (cafezais com ciclo de produção menor), o que garante suporte aos preços. Enfim, a situação estatística entre oferta e demanda de café vai se manter mais ou menos justa nos próximos anos, com a demanda crescendo mais de 2 milhões de sacas por ano. Com isto, espera-se uma certa sustentação nas cotações e uma forte influência do weather market, sempre de maio a setembro. Fatores como estiagem no desenvolvimento dos frutos ou risco de geada devem provocar grandes oscilações de preço. Será fundamental uma boa gestão de risco, pois, além do recuo dos preços durante a safra, a volatilidade deverá ser grande. A venda de parte dos estoques até março e abril, a comercialização antecipada de parte da próxima safra por meio de Cédulas do Produto Rural (CPRs) ou do mercado futuro e a utilização de opções de venda privadas e públicas são alternativas que precisam estar na pauta do setor. Em março de 2005 a saca atingiu R$ 400; essa mesma saca, corrigida pelo juro, equivaleria hoje a R$ 460, bem acima dos atuais R$ 270 a R$ 280 pagos no mercado físico enquanto escrevemos este texto. A estratégia de reter o produto para tentar vender apenas no auge dos preços raramente é bem-sucedida. O grande desafio para o Brasil nos próximos anos certamente passa pelo aumento de participação no mercado mundial de café, atualmente em 30%. Um caminho para isso será pela agregação de valor, ou seja, incrementar as exportações de café torrado e moído, de café solúvel e de café verde (em grão) de melhor qualidade. O consumo nos países do Oriente Médio, Europa Oriental e no Japão tem crescido bastante e é preciso aproveitar as oportunidades que são abertas. O segmento de cafés especiais continua crescendo a taxas próximas de 10% e o Brasil ainda participa pouco desse nicho (cerca de 5%). É importante o esforço do setor produtivo para ingressar nesse segmento, já que ele tem a função de olhar para dentro e para fora do País. Para dentro, no sentido de induzir a práticas produtivas mais adequadas e melhoria contínua de qualidade. Para fora, essa inserção promove a imagem do produto brasileiro no mercado mundial e abre novos mercados. A melhoria da qualidade do café, com critérios que incluem o teor de cafeína, o sabor e o aroma, também serve de catalisador do consumo mundial, de acordo com estudo da OIC de 2004. Essa idéia é reforçada pela correlação positiva entre o consumo de café e a participação do café arábica no blend (mistura de grãos no preparo da bebida) dos países tradicionalmente importadores. *José Roberto Mendonça de Barros é sócio-diretor da MB Associados. E-mail: jr.mendonca@mbassociados.com.br ; Glauco Carvalho é economista e pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite. E-mail: glauco@cnpm.embrapa.br |