Em um cenário macroeconômico machucado, os Estados Unidos vinham mostrando sinais relativamente melhores que outras economias “ricas”. Ao que tudo indica o inverno ameno por aqui ajudou a estimular o consumo, adicionando trabalhadores no mercado e por consequência deixando muitos analistas mais otimistas para o ano de 2012.
Na sexta-feira os ânimos esfriaram com as revisões negativas da criação de postos de trabalho no mês de abril, e dos números de maio que vieram bem abaixo do esperado.
O efeito negativo fez com que o índice Dow Jones devolvesse todos os ganhos do ano, deixando no verde apenas o Nasdaq com ganho de 5.46% (graças principalmente a Apple), o S&P que está positivo 1.63% e o DAX (Alemanha) que ganhou 2.58% até 1º de junho.
Os investidores, mesmo receosos, tem dado preferência ao dólar americano (ou seria falta de opção?), que está no maior patamar desde 2010 considerando uma cesta de moedas (o DXY). Da mesma forma os títulos da dívida americana atingem recordes históricos (e rentabilidade-real negativa).
A moeda comum da Europa quebrou o patamar de 1.25 contra o dólar, pressionando os principais índices de commodities. Os três mais seguidos, CRB, DJUBS e SPGSCI, caíram 4.84%, 4.27%, e 6.11% respectivamente. Um indicador de retração da atividade industrial Chinesa divulgado na semana também trouxe vendas para praticamente todas as matérias-primas.
No café a estória não foi diferente, fundos mais uma vez liquidaram compras e colocaram vendas novas nos livros (em NY). A queda no arábica foi de US$ 13.62 por saca em cinco dias, e no robusta US$ 4.50 por saca.
Curioso notar que os comerciais, leia-se torradores e dealers, corajosamente compraram mais de 1 milhão de sacas entre os dias 23 e 29 de maio – e provavelmente compraram um pouco mais na quarta, quinta e sexta também.
Por outro lado, no físico não se fala de muitos negócios. A demanda para cafés suaves é muito retraída e a procura pelos naturais é feita com parcimônia – dada a crença de que a entrada da safra brasileira pressionará os diferenciais.
No robusta os preços mesmo estando altos encontram melhor interesse. A arbitragem entre LIFFE e ICE beira os US$ 60 centavos por libra, nível que poderemos encontrar um suporte momentâneo dada a posição bem comprada dos fundos em Londres, e bem vendida dos mesmos em Nova Iorque.
Mais números sobre produção divulgados na semana chamaram a atenção dos baixistas. O USDA disse que a safra 12/13 do Vietnã pode chagar a 22.45 milhões de sacas. No Brasil a agência Safras fala de uma produção de 54.9 milhões de sacas, sendo 14.5 milhões de conillon. Os que batem o pé dizendo que a produção do conillon será de 17 milhões, adicionam outros 2.5 aos 54.9, ou seja 57.4 – olha a confusão que se cria…
Dados de que as exportações mais baixas dos países membros da OIC, menor em 12.77% em abril comparado com o mesmo mês de 2011, nos faz crer em estoques ainda mais baixos nos destinos. Em algum momento isto será positivo, mas para tanto a indústria tem que usar mais do que está nas mãos dos intermediários (que não se incomodam em carregar estoques em função da estrutura do mercado).
A saca do café no Brasil a R$ 380.00 a bica causa desconforto aos que achavam que venderiam a R$ 600.00. Não dá para falar muita coisa a não ser o que sempre escrevemos por aqui, que só sabemos qual foi a alta depois que ela passou, e aí é tarde demais, portanto a disciplina é a regra do jogo.
A deterioração dos mercados internacionais pode pesar um pouco mais para o “C”, eventualmente fazendo o mesmo testar os US$ 150 centavos por libra.
O “limite” da alta por ora ficará ao redor de 170/175 centavos.
Uma excelente semana a todos e muito bons negócios.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting