SÃO PAULO, 12 Abr (Reuters) – O recuo recente visto nos preços do café não deve ser prolongar por muito tempo, uma vez que o setor trabalha com um balanço ajustado entre demanda e oferta globais nesta temporada, disse o presidente da maior cooperativa de café do mundo nesta quarta-feira.
“Espero uma recuperação dos preços ao longo deste ano porque tem um equilíbrio muito bom de oferta e demanda. O consumo continua bom. Os fundamentos são positivos”, disse à Reuters Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé, no intervalo de evento na BM&FBovespa em homenagem aos 80 anos da cooperativa.
Costa observa que os cooperados iniciaram o ano com uma perspectiva de preços em torno de 500 reais por saca de 60 kg, mas com a queda recente nos preços internacionais da commodity, os valores atuais oscilam perto de 390 reais a saca.
Na bolsa de Nova York, os café chegou a oscilar perto de 3 dólares por libra-peso em maio de 2011, maior valor em 34 anos. Agora o primeiro contrato está na casa de 1,8 dólares por libra-peso.
Diante da retração dos preços, os produtores estão limitando as vendas do café enquanto aguardam a melhora das cotações.
Em 2011, a cooperativa encerrou o ano com um salto de 68 por cento no faturamento, para 3 bilhões de reais, com sustentação dos melhores preços. Deste total, cerca de 80 por cento foram provenientes da comercialização do grão.
As entregas de café na Cooxupé no ano passado somaram 4,3 milhões de sacas e os embarques somaram 2,46 milhões de sacas.
A Cooxupé estimou na semana passada o recebimento de café em 6 milhões de sacas neste ano, contra as 5,1 milhões de sacas em 2010, último ano de alta no ciclo bianual do café.
As exportações são previstas em 2,9 milhões de sacas, volume que se concretizado representará um salto de quase 70 por cento ante dois anos atrás.
Segundo Costa, o tempo mais seco no primeiro trimestre afetou o desenvolvimento dos ramos dos cafezais, que poderão ter efeito na nova safra.
Quanto à qualidade dos grãos, a expectativa será quanto ao clima nos meses à frente. “A chuva na colheita é uma preocupação, porque pode afetar a qualidade do grão”, disse.
A colheita do café se inicia em maio e a entrada do produto no mercado consumidor ocorre em julho.
O presidente ressaltou que o cenário é muito promissor para a cooperativa para o segmento dos cafés certificados. Do total exportado em 2011, 52 por cento foram de cafés certificados, contra 23 por cento do ano anterior.
“O produtor está cada vez mais preocupado com a certificação. A expectativa é aumentar a fatia do produto certificado, pelo prêmio que é oferecido”, disse Costa.
Segundo ele, este prêmio tem ficado em média torno de 20 reais por saca, mas pode chegar a até 50 reais dependendo do tipo certificado.
LIQUIDEZ
O presidente da Cooxupé destacou, durante seu discurso no evento, sua preocupação com a baixa liquidez na bolsa brasileira de commodities.
“A BM&FBovespa está entre as maiores bolsas do mundo, mas é inaceitável que não dê liquidez ao produtor. Esta baixa liquidez da BMF nos preocupa muito”, disse, ele referindo-se ao segmento da bolsa que negocia commodities.
A Cooxupé, atualmente, responde por cerca de 40 por cento das operações com café da BM&FBovespa e é membro do conselho da bolsa. A cooperativa opera em Nova York e outros mercados internacionais de commodities.
O diretor de comunicação e marketing da Cooxupé, José Florêncio, explica que esta baixa liquidez também é um reflexo da cultura. Enquanto nos Estados Unidos é grande o número de pessoas físicas atuando em bolsa, seja por meio de consórcios ou corretoras, aqui no país a prática para o setor de commodities não está difundida.
Florêncio disse que a cooperativa tem expectativa de aumento do número de participantes operando nas commodities para dar mais liquidez a este mercado, a exemplo do que acontece nos EUA. Segundo ele, a Cooxupé vem trabalhando com a bolsa em ações no sentido de dar liquidez e dar suporte para operações de estrangeiros.
(Por Fabíola Gomes)
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