No reino das sementes

06/04/2012


ROBERTO WITTER – Zero Hora
roberto.witter@zerohora.com.br
 



Aos 80 anos, Orlando Roos é dono da maior sementeira do Estado, especializada em soja. Sua trajetória empresarial se confunde com a história da agricultura no Rio Grande do Sul
 
Trabalho, perseverança e fartos investimentos em tecnologia fizeram de Orlando Roos o maior sementeiro gaúcho, segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Mas nada foi simples na caminhada do agricultor de 80 anos. Com bom humor, ele recorda os maus bocados que passou no início da vida empresarial, ainda na década de 1960, quando criou a empresa cerealista que mais tarde se transformaria também em produtora de sementes.


A bem-sucedida aventura começou em 1967. Com dois irmãos, Roos fundou a sementeira que leva seu nome. Antes, em 1963, já haviam iniciado a compra e a venda de grãos.


– Só tínhamos acesso à semente que vinha das cooperativas, mas era de baixíssima qualidade. Percebi isso e decidi trabalhar no ramo. Mas um grupo fechado de bancos e cooperativas temia a concorrência. Chegaram a bloquear financiamentos para as minhas sementes. Chegava lá e eles diziam: sementes do Roos não financiamos – conta.


A resistência que sofreu foi compartilhada por outros poucos produtores que também se aventuravam na atividade.


– Não financiavam sementes sem certificação, e as empresas criadas naquela época tinham dificuldade para conseguir isso com as cooperativas. Então, criaram a Associação dos Produtores de Sementes do Rio Grande do Sul (Apassul). Assim, certificavam as próprias sementes e conseguiam romper essa barreira – conta o presidente da Apassul, Efraim Fischmann.


O primeiro ano de funcionamento da sementeira de Roos, em 1967, foi o mais difícil. A produção ficou toda estocada devido à retaliação que sofreu. Em compensação, o ano de 1968 foi próspero.


– Deu uma seca muito forte e não tinham a quem recorrer. Eu estava com o armazém lotado. Vendi feito louco – lembra.


A melhor época para os negócios veio no final da década de 1970. Cafezais paranaenses foram queimados, forçando o investimento na soja. Já os anos 2000, trouxeram um baque à indústria gaúcha, acentuando a história de altos e baixos.


– Chegaram os transgênicos e muitos agricultores passaram a usar sementes clandestinas. Foi o momento mais complicado – recorda Roos.


Aquele momento, acrescenta o produtor, foi um marco para a produção gaúcha:


– Os transgênicos colocaram a biotecnologia no jogo. Como as pesquisas aqui eram proibidas, as multinacionais chegaram ao Estado com muita força e acirraram a disputa.



A cronologia


DÉCADA DE 1960 No final da década, surgem as primeiras sementeiras no Estado. A partir da dificuldade em certificar o produto, empresários criam a Associação dos Produtores de Sementes do Rio Grande do Sul (Apassul).


DÉCADA DE 1970 A ida de gaúchos para Estados como Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul dá início à expansão da semente gaúcha para o resto do país.


DÉCADA DE 1980 A soja começa a se popularizar no Brasil, aumentando a venda dos insumos.


INÍCIO DOS ANOS 2000
A chegada dos transgênicos põe em debate a biotecnologia. Sementes piratas tomam conta das lavouras. Com a liberação das pesquisas, multinacionais chegam ao Estado e acirram a concorrência.


HOJE O Rio Grande do Sul cultiva 50% de suas lavouras com sementes certificadas. O Estado produz 150 mil toneladas de sementes.


Os trunfos


HISTÓRIA
> O aspecto histórico confere peso à semente produzida pela indústria gaúcha. Na década de 1960, o Rio Grande do Sul foi o centro da expansão da agricultura, enviando o insumo para Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.


CLIMA
> O frio rigoroso durante o inverno é o maior fator positivo na produção de sementes. A umidade e a baixa temperatura fazem com que os armazéns virem uma espécie de geladeira, onde o produto fica acondicionado até o cultivo.


> Nos outros Estados, o calor faz com que a semente perca energia. Para resolver este problema, precisam investir em tecnologia para construir armazéns climatizados, coisa que aqui não ocorre – explica o presidente da Associação dos Produtores de Sementes do Rio Grande do Sul (Apassul), Efraim Fischmann.


 

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