Antônio Carlos dos Santos – Doutor em administração e docente da Universidade Federal de Lavras (Ufla) Mara Luiza Gonçalves Freitas – Especialista em cafeicultura empresarial e mestre em administração – Ufla O Brasil consolidou-se como tradicional exportador de café verde e solúvel, deixando como lacuna histórica a oportunidade de inserir-se no mercado internacional como grande vendedor também do produto torrado em grão e/ou moído (T&M). Ao contrário da indústria de café solúvel, estruturada para o atendimento do mercado internacional e que atualmente responde por um volume exportado de US$ 280 milhões anuais, o segmento de T&M voltou-se apenas para o mercado interno. Não se pode dizer que essa especialização no mercado consumidor nacional foi totalmente ruim, pois ela colaborou para que o país se tornasse o segundo maior mercado consumidor mundial per capita. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o mercado brasileiro caminha para assumir a liderança mundial, a ser atingida até 2010, por meio do consumo de 21 milhões de sacas por ano. No que diz respeito à ação internacional do segmento de T&M, criou-se uma miopia e por que não dizer um certo receio deste segmento em atuar além das fronteiras, que começaram a ser superadas por algumas torrefações brasileiras no início da década de 90, colidindo com o processo de abertura da economia nacional. A compreensão desse recente processo de expansão internacional foi tema de dissertação de mestrado produzida no Programa de Pós-graduação em Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), a qual buscou avaliar o olhar do executivo sobre essa nova modalidade de negócio da indústria de torrefação e moagem de café nacional. De acordo com o estudo, a expansão internacional é um processo construído ao longo do tempo, para torrefações já consolidadas no mercado interno, mesmo que essas sejam fruto de investimento de grupos de produtores de café, fixados em território nacional e com histórico de atuação no comércio internacional de café in natura. Para que a internacionalização da torrefação dê-se de forma sólida e consistente, os resultados apontam para a necessidade prioritária de ampliarem-se investimentos em tecnificação das plantas industriais e, respectivamente, em processos de certificação acreditados internacionalmente, bem como para um aumento maciço de investimentos em marketing setorial/promoção internacional de marcas brasileiras. Nesse sentido, ressalta-se que a presença do Estado como principal fonte financiadora do processo de internacionalização é fundamental, especialmente para pequenas e médias empresas, na fase de acesso a mercados. Atualmente a presença do Estado concentra-se em atividades que envolvem diplomacia, organização de missões empresariais e de projetos bipartites, como os programas setoriais integrados (PSI), da Agência de Promoção das Exportações (Apex-Brasil). Além dos aspectos citados acima e não menos importante, está o uso das exportações de cafés industrializados de alta qualidade (gourmet) como estratégia de posicionamento dos exportadores nacionais, tanto para mercados tradicionais como para os emergentes. O investimento em qualidade, aliado ao aproveitamento da vocação natural do Brasil como principal país produtor, a proximidade da indústria com o produtor e a capacidade instalada da torrefação nacional geram vantagens competitivas e comparativas ímpares: o melhor café brasileiro chega às gôndolas internacionais com preços até 50% mais baratos que os similares disponíveis no mercado externo, favorecendo a conquista de consumidores pelo gosto e pelo bolso. O preço médio negociado em 2005, de acordo com a Abic, foi de US$ 3,75, o quilo. A mensagem que esse estudo deixa é que o sucesso até então alcançado com a recente ação internacional da indústria de café oferece a força motriz para que, gradativamente, mais torrefações expandam seus negócios e ampliem a geração de emprego e renda. Isso significa contribuir para o desenvolvimento nacional, ao mesmo tempo em que se corrobora para a construção de um novo horizonte para a cafeicultura brasileira no cenário mundial. |