Bruno cirillo
Variedades chegam a proporcionar 20% de alta da produtividade; custo é de R$ 20 por quilo de sementes – o mesmo de espécies já tradicionais – São Paulo
Depois de vinte anos de testes e pesquisas, as cultivares Arara e Acauã-novo chegam ao setor cafeicultor com duas características principais: imunidade à doença da ferrugem e potencial produtivo de 10% a 20% maior do que as variedades tradicionais do café. Além delas, outras duas espécies, classificadas como Catucaí-amarelo, também são novidades com resistência parcial ao fungo e potencial produtivo similar.
A Catucaí-amarelo 24/137 já se encontra plantada em lavouras da Zona da Mata e do sul de Minas Gerais, de acordo com o pesquisador Carlos Henrique Siqueira de Carvalho, da Fundação Procafé. “Só agora [as quatro variedades] estão sendo registradas para a comercialização de sementes”, ele diz. O preço não ultrapassa o razoável: cerca de R$ 20 por quilo.
“Entre as vantagens, uma produtividade mais elevada do que as espécies existentes e a resistência à ferrugem”, reforçou Siqueira. A doença, segundo o gerente-geral da Embrapa Café, Paulo César Afonso Júnior, é “um dos elementos econômicos que devem ser tratados com muito cuidado na produção do café”.
Para evitá-la, os novos cultivares vêm sendo desenvolvidos desde os anos ’80. A entrada da Embrapa Café, criada há 12 anos, na coordenação do Programa de Pesquisa em Café, e a criação de um consórcio setorial, em 1997, contribuíram para essas e outras pesquisas. Cerca de 50 instituições participam do grupo, focado na melhoria dos cafezais.
Em quinze anos de existência, o Consórcio Pesquisa Café desenvolveu algo entre 700 e mil projetos, de acordo com Afonso Júnior. A iniciativa recebe apoio do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), gerido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do qual recebeu cerca de R$ 150 milhões na última década e meia.
Nesse período, o consórcio lançou 30 cultivares especiais, com resistência a altas temperaturas, à seca ou a pragas, entre outras. Vale dizer que as mudanças climáticas e a evolução das doenças podem tornar obsoletas as espécies de café que, criadas em laboratório, eram resistentes. De modo que as novas pesquisas buscam a experiência das antigas para se (re)criarem.
Afonso Júnior destaca que o investimento em um cafezal, cultura perene, leva cerca de três anos para maturar. “Não se pode mudar a lavoura facilmente.”
“Os projetos de pesquisa são de média e longa duração. 50% dos projetos atuais são relativamente novos, com um ano de desenvolvimento”, diz o gerente-geral da Embrapa Café. “Para desenvolver um cultivar, leva-se de 20 a 30 anos. Com biotecnologia, reduz-se o período pela metade”.
E em biotecnologia o Consórcio Pesquisa Café trabalha com marcadores moleculares – uma tecnologia já explorada em outras culturas, mas recentemente aderida pelo negócio do café. Ou seja, sabe precisar no código genético do café quais partes correspondem ao período de floração ou a outras funcionalidades do grão. “Em vez de ir ao campo para testar todas as possibilidades, levamos a variedade ao laboratório e identificamos nela as características agronômicas desejáveis”.
Segundo Afonso Júnior, a biotecnologia vem se agregando cada vez mais à manipulação dos genes, vide o exemplo dos marcadores genéticos. As ações nesse campo incluem o mantimento, por consorciados da entidade, de “biofábricas”, nas quais o material genético de cultivares é apropriadamente armazenado.
O especialista indicou a realização de outro trabalho de vanguarda que está acontecendo no universo da cafeicultura, na área da irrigação. Trata-se de provocar nas lavouras um “estresse hídrico”, isto é, deixá-las sem água por períodos calculados, que podem variar em torno de um mês, dependendo da região, de modo que a “sede” das plantas deixe a florada mais homogênea.
“Mas isso deve ser feito em períodos bem calculados e bem acompanhados, com formato de adubação diferenciado e manejo especial. As plantas têm que estar fortes e bem nutridas”, previne.
Na área de “pós-colheita”, a Embrapa Café e parceiros do consórcio de pesquisa buscam organizar informações relativas à cafeicultura e disponibilizá-las para o pequeno produtor, “criando oportunidades e oferecendo alternativas”, diz Afonso Júnior. Mas o trabalho da entidade não se restringe à pequena lavoura, mas, sim, ao agronegócio. “O que lançamos hoje é reflexo de ações de dez anos atrás”, reforça o gerente-geral.
Comentários
NICOLA FILARDO
nicofilardo@gmail.com
Sr. Afonso Jr.
Moro em Caconde e curso o Superior em cafeicultura no IF Sul de Minas.
Em minhas andanças pela zona rural do município tenho visto cafezais abandonados espalhados por todo município. Tenho ouvido que as doenças e pragas tem aumentado de forma assustadora. Não seria o caso de implantação de um programa fito-sanitário que inclua a erradicação de hospedeiro representado pelo cafeeiroabandonado ?
Um abraço, Nicola.