Entre os negócios rurais da família Ayrton Senna estão 500 hectares de Café irrigados

Por: Dinherio Rural por luiz fernando sá








Com tecnologia e gestão avançada, clã da velocidade colhe algodão, soja, café, milho e cria gado em algumas das fazendas mais modernas e produtivas do País

A velocidade, ali, não é importante. O que a equipe exige do piloto ao volante da máquina vermelha que, na tarde úmida e abafada de dezembro, avança sobre o imenso planalto verde é cuidado e precisão. Afinal, o anônimo tratorista que pulveriza as lavouras de soja da Fazenda Campo Aberto carrega a reboque a tradição do nome Senna: como o supercampeão Ayrton nas pistas, como a empreendedora Viviane no campo social, como o ativo Leonardo no mundo corporativo, a eficiência e o profissionalismo são regra também na face rural dos negócios da família. Basta perguntar a qualquer um no chamado Anel da Soja – região que engloba os municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, no progressista cerrado baiano. Não há lista das melhores e mais produtivas propriedades da região que não inclua a jóia de 6,2 mil hectares que, há mais de uma década, os Senna mantêm por lá e de onde tiram expressivas safras de algodão, café, soja e milho, além do gado que é criado em parte das terras. Como em tudo em que põem a mão, a Campo Aberto funciona de maneira exemplar, no estado da arte da tecnologia, da gestão e até mesmo das práticas sociais. “Buscamos no agronegócio o mesmo nível de excelência que sempre mantivemos em nossas outras atividades”, afirma Leonardo Senna, que comandou outras empreitadas empresariais bem-sucedidas da família, como a recém-encerrada associação com a montadora Audi no Brasil.

A vocação rural dos Senna antecede a geração de Ayrton, Leonardo e Viviane. Milton da Silva, pai dos três irmãos, é empresário rural há mais de 30 anos. Já nos anos 60 criava gado no então remoto Centro-Oeste – ainda hoje possui duas fazendas na região, nas quais cria 5 mil cabeças de gado nelore. Em uma de suas fazendas em Goiás, o pequeno Ayrton Senna, ainda com sete anos, iniciava-se nas artes da pilotagem guiando um jipe do pai. Em outra fazenda de “seu Milton”, a de Tatuí, no interior de São Paulo, o piloto construiu um kartódromo particular. “Desde aquele tempo, quando ia visitar as fazendas, já voava sobre o cerrado baiano e imaginava a riqueza daquelas grandes áreas planas”, contou seu Milton à DINHEIRO RURAL, numa de suas raras entrevistas (discreto, ele não se deixa fotografar). “É uma região abençoada, com altitude e índices pluviométricos fantásticos para quem souber produzir lá”. É o que família tem feito, em parceria com dois sócios de longa data, o empresário Ubirajara Guimarães, o Bira, e Ricardo Teixeira, filho de Armando Teixeira Botelho, que, no início da carreira de Ayrton, gerenciou os interesses do jovem piloto. Teixeira vive na Campo Belo e administra in loco o andamento das várias atividades da fazenda. Bira, de São Paulo, divide com Leonardo Senna o planejamento e as grandes decisões empresariais. Seu Milton é o olhar crítico, a voz que se sobrepõe. Uma vez por mês pousa seu King Air na pista de 1,5 mil metros da propriedade – homologada pelo Departamento de Aviação Civil e tida como a melhor da região – para conferir de perto a produção.

Mais que uma simples fazenda, a Campo Aberto é um empreendimento agroindustrial, totalmente mecanizado, que entrega aos seus clientes produtos já passados por uma primeira fase de beneficiamento. O algodão, principal cultura local, é um exemplo claro desse processo. Lá, são plantados, por safra, 1,5 mil hectares da fibra em sequeiro (área sem irrigação) e outros 1 mil hectares em regime irrigado, em sistema de plantio direto. O projeto de irrigação é modelo de uso racional de água, captada do subsolo e do Rio de Janeiro, que corta a propriedade. Nove enormes pivôs centrais a distribuem sobre a lavoura. Tudo é medido minuciosamente por equipamentos de última geração, do nível do aqüífero de onde a água é retirada à umidade do solo, o que permite saber a quantidade exata de água a ser despejada em cada ponto da plantação. O zelo permanente tem rendido altas produtividades – 320 arrobas por hectare na área irrigada, 250 na de sequeiro. Após a colheita, o algodão é processado em usina própria, onde a pluma é separada do caroço. Este é vendido para indústrias de óleos vegetais ou usado na alimentação de animais. Já as plumas permanecem na usina. São classificadas, primeiro visualmente e depois por modernos equipamentos eletrônicos, e posteriormente embaladas em fardos de 200 quilos para comercialização. “Este ano, exportamos 95% da produção”, conta Bira. “A fibra que se colhe na região é resistente, branca e de alto brilho, o que garante ótima aceitação do mercado”.

No café, o processo se repete. São 500 hectares cultivados, irrigados por quatro pivôs, alimentados por água captada em uma represa artificial de 70 hectares de área e também no Rio de Janeiro. Pala fazê-la chegar à lavoura, foram construídos 6,5 quilômetros de adutoras metálicas e mais 4,5 quilômetros de canais a céu aberto. A irrigação precisa e a abundância de sol na região permitem o adensamento das lavouras (mais pés de café por hectare) e safras anuais acima da média (foram 18 mil sacas na última safra) numa cultura cuja marca, em outras regiões, é a da alternância de um ano bom e um ruim. A infraestrura da fazenda permite toda a preparação, maturação, classificação e beneficiamento dos grãos colhidos também em usina própria. “Produzimos um grão de qualidade, ideal para os cafés gourmet”, diz seu Milton. Os compradores, não raro, vêm do exterior ,em particular Itália e Alemanha.

Soja e milho, em regime de rotação, ocupam outros 500 hectares da propriedade. Equipamentos de secagem e silos permitem que a família Senna e seus sócios armazenem a produção à espera do melhor momento para vender. “A queda dos preços este ano não foi tão significativa, mas o câmbio desfavorável prejudicou nossos resultados”, afirma Bira. Ele, Leonardo, Ricardo e seu Milton têm disponíveis, a qualquer momento em seus computadores, todo o andamento da produção nas lavouras. “Para cada cultura temos uma espécie de gerente especializado”, explica seu Milton. Os técnicos agrícolas percorrem diariamente as plantações aparelhados de palmtops acoplados a sistemas de localização por satélite GPS recolhendo dados, vitais, entre outras coisas, para aplicação de fertilizantes e para o controle de pragas.

Campo Aberto tem a operação mais complexa. As duas fazendas próximas ao rio Araguaia, em Tocantins – Barra Bonita (2100 alqueires) e Horizonte (680 alqueires) –, voltadas para o gado de corte, têm estrutura semelhante, com sedes confortáveis e pista de pouso. Já em Tatuí, no Interior de São Paulo, Seu Milton troca a produção em larga escala pela lavoura orgânica, sem o uso de agrotóxicos. De lá, saem milho, arroz, feijão, soja, frutas, legumes, carnes e ovos. Boa parte é distribuída aos próprios moradores locais. “Lá trabalhamos mais a finalidade social da agricultura”, explica.

“Nós, que defendemos práticas socialmente eficazes na Fundação Ayrton Senna, não podemos deixar de dar o exemplo em nossas empresas”, confirma Leonardo. Nas fazendas dos grupos todos os trabalhadores são registrados. Na Campo Aberto, há 120 funcionários fixos, mas na época da colheita podem chegar a mais de mil. Por isso, a fazenda possui quatro refeitórios, que podem fornecer até 1200 refeições diárias preparadas sob acompanhamento de nutricionistas. “Nesse período, matamos um boi por dia para alimentar o pessoal”, conta Bira. Os alojamentos podem acomodar 700 pessoas simultaneamente. “Como usamos tecnologia de ponta e máquinas modernas, constantemente ministramos cursos de aperfeiçoamento, principalmente nas áreas de operações de tratores e pivôs”, diz Ricardo Teixeira. Também constantemente ele ciceroneia visitantes estrangeiros, alguns interessados em comprar a jóia agrícola da família Senna. Não é proposta que seduza Seu Milton e os sócios. “Nós vemos um grande futuro no campo”, diz ele. “Ao contrário, se aparecerem oportunidades, queremos crescer” diz Bira.

Colaborou Fabiane Stefano, de Barreiras (BA)

6,2 mil hectares é a área total da Fazenda Campo Aberto. A principal cultura é o algodão, que ocupa 1,5 mil hectares em sequeiro e 1 mil hectares irrigados

Produção
Café 500 hectares irrigados
Soja 500 hectares
Milho 500 hectares
5 mil cabeças de gano nelore em Tocantins
1 mil trabalhadores na colheita

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