O aumento das cotações das commodities exportadas pelo Brasil contribuiu significativamente para o bom desempenho das exportações brasileiras pelo terceiro ano consecutivo. Os preços de exportação dos produtos básicos cresceram 14% em 2005, conforme dados preliminares da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), obtidos pelo Valor.
A variação é pouco inferior aos 18% registrados em 2004 e supera a alta de 10,5% apurada em 2003. O atual ciclo de ganho de preços das commodities que o Brasil vende ao exterior mais do que compensou a baixa de 23% registrada na comparação entre dezembro de 2002 e dezembro de 1997, período em que as cotações estiveram deprimidas.
O desempenho dos preços dos produtos básicos em 2005 surpreendeu os economistas, que apostavam em uma desaceleração por conta de uma demanda mundial mais fraca. Só que as economias de China e Estados Unidos continuaram crescendo de forma expressiva em 2005.
Os preços das commodities exportadas pelo Brasil atingiram seu mais alto nível em oito anos em novembro e mantiveram esse desempenho em dezembro. No acumulado de 2005, as exportações dos produtos básicos aumentaram mais de 20%, impulsionadas pela alta de 14% nos preços. As quantidades embarcadas cresceram apenas 6%, por conta da quebra da safra agrícola do país.
Segundo Fernando Ribeiro, economista da Funcex, os produtos básicos contribuíram com 25% do crescimento total das exportações brasileiras, percentual proporcional ao peso do grupo nos embarques do país. “Esse efeito ajudou a contrabalançar o menor ritmo de crescimento dos embarques de manufaturados”, diz. A quantidade exportada de manufaturados cresceu 11% em 2005, ante 26% em 2004.
Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan, destaca que, embora tenha sido mais expressivo entre as commodities, o movimento de alta dos preços de exportação ocorreu em todas as categorias. Segundo os dados da Funcex, os preços dos produtos semimanufaturados cresceram 12%, enquanto o volume embarcado aumentou 6%. Nos manufaturados, o quantum subiu 11%, e os preços também aumentaram 11%. No total, o volume exportado pelo Brasil cresceu 9% e os preços expandiram 12%.
No caso das commodities, alguns produtos contribuíram de forma expressiva para o bom desempenho dos preços. O grande destaque foi o minério de ferro, devido ao aumento espetacular de 71,5% negociado pela Vale do Rio Doce com as siderúrgicas no início do ano passado. As negociações para os preços cobrados este ano devem terminar até março.
Outros produtos, como alumínio, café e suco laranja, também tiveram um desempenho positivo. Para a soja, principal produto da pauta de exportação do país, a expectativa era negativa, já que os preços derreteram em 2004. Mesmo assim, as cotações acabaram sustentadas em 2005 nos níveis históricos, devido aos problemas climáticos enfrentados pelos agricultores no Brasil.
O açúcar foi o destaque do fim do ano, contribuindo para a puxada do preço das commodities exportadas durante o terceiro trimestre. Só em dezembro, a cotação do açúcar aumentou 14%. Fábio Silveira, economista da RC Consultores, explica que há uma escassez estrutural do produto, porque a produção brasileira de cana-de-açúcar foi baixa nas duas últimas safras. Além disso, as usinas produziram mais álcool para atender a demanda criada pela frota de carros bicombustíveis. “A cana é uma cultura perene. Teremos mais dois anos de preços sustentados até a normalização da oferta”, afirma.
O indicador dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, calculado pela RC Consultores, registrou alta de 16% na comparação entre a média de 2005 e a média de 2004. O desempenho do país acompanhou o mercado mundial, já que o índice de preços das commodities mundiais calculado pela Goldman Sachs subiu 15,3% em 2005.
Os economistas novamente apostam que os preços das commodities não devem subir tanto em 2006. O desempenho do comércio mundial deve manter um ritmo forte. As estimativas apontam para alta de 3,8% do PIB global e crescimento de 7% na quantidade de mercadorias transacionadas no planeta. Mas os economistas sustentam que os preços das commodities já atingiram um nível elevado e a tendência é de acomodação.
Callegari pondera, no entanto, que os preços dos produtos básicos exportados pelo país começaram 2006 em um nível recorde. Se esse patamar ficar estável ao longo do ano, os preços dessa categoria, na média, cresceriam 10% em 2006 ante 2005, o que seria um bom resultado.