A Melitta do Brasil anunciou ontem a compra da Café Bom Jesus, torrefadora com sede em Caxias do Sul (RS). A aquisição faz parte da estratégia da multinacional alemã de expandir e consolidar seus negócios no Sul do país, afirmou ao Valor o presidente da subsidiária brasileira, Bernardo Wolfson. As negociações envolvendo a aquisição da Bom Jesus se desenvolveram ao longo de todo o ano passado, de acordo com Wolfson. O valor do negócio não foi divulgado pelas duas empresas. Segundo Wolfson, além de ampliar a presença no Rio Grande do Sul – a Café Bom Jesus é líder em torrado e moído no mercado gaúcho, mas disputava mercado com a própria Melitta -, a compra também vai permitir que a múlti avance em Santa Catarina, onde a companhia adquirida tem boa penetração. No ranking nacional da Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café), a Bom Jesus ocupava a 14ª posição em 2005. Com a aquisição, a Melitta consolida-se como a terceira maior companhia torrefadora do país. A empresa já ocupava a posição, atrás da americana Sara Lee e da Santa Clara Participações, segundo Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic. A Santa Clara anunciou, no dia 30 de dezembro último, uma joint venture com a israelense Strauss-Elite, controladora da Café 3 Corações. “Com essa operação, a empresa consolidou-se na vice-liderança”, disse Herszkowicz. A Melitta informou que vai manter a marca Café Bom Jesus, que deverá ter estratégia de marketing distinta dos produtos Melitta. “Um dos motivos pelo qual a Melitta decidiu adquirir a empresa é a boa aceitação do produto no Sul do país”, afirmou Wolfson. O executivo disse que a companhia deverá fazer investimentos para elevar a capacidade de produção da Café Bom Jesus, mas não quis divulgar os valores e nem quanto a empresa processa por mês de torrado e moído. O Valor apurou no mercado que a Bom Jesus é considerada uma empresa de médio porte, com um processamento que gira em torno das 400 toneladas de café por mês. Com vendas de R$ 370 milhões em 2005, 18,2% mais que em 2004, a Melitta do Brasil representa o segundo maior faturamento do grupo no mundo, atrás da matriz na Alemanha, disse Wolfson. A múlti chegou ao Brasil em 1968. Oito anos depois, adquiriu a fábrica Celupa, em Guaíba, onde passou a produzir seus filtros de papel, produto em que a empresa é líder absoluta no país. Em 1980, construiu sua primeira torrefadora na cidade paulista de Avaré, única fábrica da companhia no país até a aquisição anunciada ontem. Fundada há 40 anos, na cidade de Bom Jesus, a torrefadora Bom Jesus, por sua vez, faturou R$ 25 milhões no ano passado. Segundo Antônio Irineu da Rocha, ex-diretor presidente, a venda da empresa não colocará um ponto final na história da família no café. “A Melitta concretizará o sonho do meu pai de expandir os negócios da empresa para o país”, disse. Rocha disse que não vai se aposentar e estuda continuar nos agronegócios, mas não deu pistas. “Agora vou me dedicar à pesca”. Com cerca de 1.100 empresas torrefadoras no país e mais de 2 mil marcas, o mercado brasileiro de torrado e moído começou a ser redesenhado com a chegada da Sara Lee, no fim de década de 90. Segundo Herszkowicz, o crescimento de torrado e moído no país – consumo em torno de 16 milhões de sacas -, o setor está propenso a novas operações de fusões e aquisições. |