20/09/2011
por Roberto Rodrigues
As exportações do agronegócio brasileiro têm apresentado um crescimento realmente espetacular. Em 2000, o setor exportou US$ 21 bilhões, e esse valor passou a US$ 76,4 bilhões no ano passado: um salto de 262% em dez anos. Embora esses números por si sós sejam notáveis, há pelo menos três outras razões para comemorarmos.
A primeira é o saldo: em 2010, as exportações do agro corresponderam a 38% do total exportado pelo país, mas o saldo do setor foi de US$ 63 bilhões, três vezes maior que o saldo total, de US$ 20,3 bilhões. Em outras palavras, isso significa que o agro salvou o saldo comercial.
A segunda razão para comemoração é a ampliação da pauta de exportações. Há 50 anos, o café era absoluto nessa área. Hoje, não chega a 10%. Nos anos 60 do século passado, as carnes, a soja e o etanol nem sequer existiam como produtos exportáveis. Hoje, são os líderes: em 2010, a cadeia da soja representou 22% de nossas vendas externas, seguida pelas carnes, com 18%, e açúcar/etanol, também com 18%. Nem por isso o café está vendendo menos; ao contrário, segue crescendo em números absolutos. É que a participação relativa dele diminuiu, graças à explosão de demanda dos outros produtos, determinada pelo aumento da renda – e do consumo – dos países emergentes.
E a terceira razão: em 2000, a UE comprou 41% de tudo que exportamos. No ano passado, isso caiu para 27%. Há dez anos, os Estados Unidos eram, de longe, o maior país comprador, com 18% de nossas exportações. Em 2010, caiu para 7%. Na verdade, as vendas para ambos os mercados também cresceram em valor absoluto, tendo reduzido sua participação relativa. Por quê? Porque a China saltou de 3% para 14%, a Ásia de 11% para 16%, a África de 3% para 8%, e assim por diante.
Portanto, há realmente muito que celebrar no crescimento de nosso saldo comercial externo, que se deve ao aumento de nossa produção rural, em função das tecnologias sustentáveis geradas em nossos órgãos de pesquisa, difundidas por nossos extencionistas e cooperativas e utilizadas por nossos modernos e competitivos produtores rurais.
Mas podemos fazer muito mais. Primeiro, porque a demanda segue subindo, uma vez que o crescimento populacional mais expressivo se dá nos países onde a renda per capita aumenta mais. E poucos países – como o nosso – têm condições de ampliar a área cultivada e a produtividade.
Isso, no entanto, não basta. Precisamos desenvolver uma política comercial mais abrangente. Nos últimos dez anos, colocamos todas as nossas expectativas na Rodada Doha da OMC, que até agora foi um rotundo fracasso.
E não cuidamos de negociações bilaterais com países potencialmente consumidores de nossos produtos, como já fizeram outros latino-americanos, como o Chile, o México e a Colômbia.
Só recentemente conseguimos colocar oito – e apenas oito – adidos agrícolas em embaixadas brasileiras no exterior para promover o agro.
Mesmo no Mercosul há muito por fazer. É inacreditável, mas a Argentina colocou tarifas tão altas sobre nosso açúcar que é inviável exportar esse nosso competitivo produto para lá. Por quê? Para proteger o ineficiente setor sucroalcooleiro portenho. Isso tem de mudar.
Um ajuste simples poderia ser feito: os argentinos passariam a produzir etanol em vez de açúcar, nós compraríamos seus excedentes e lhes venderíamos nosso açúcar. Seria um win win game: todos ganham.
É preciso ter criatividade e determinação para uma política comercial mais agressiva, que resulte em maior exportação do agro brasileiro, com vantagens evidentes para todo o país.
Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp e professor de economia rural da Unesp/Jaboticabal (SP)