Para especialistas, corrente comercial chegará perto dos US$ 500 bi no ano

1 de setembro de 2011 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Valor Econômico

01/09/2011 
  
 
 
Por Sergio Leo | De Brasília


O vigoroso aumento nas operações de comércio exterior, em um mês com 23 dias úteis, garantiu para agosto um recorde nas exportações e importações brasileiras, como anunciará hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ao divulgar as estatísticas do mês que terminou ontem. Especialistas do setor esperam que o ministério confirme hoje exportações em torno de US$ 26 bilhões e importações acima de US$ 22 bilhões no mês passado. O Brasil deve terminar o ano com superávit de cerca de US$ 20 bilhões no comércio exterior.


“O total das importações e exportações, a corrente de comércio do Brasil, vai chegar perto de meio trilhão de dólares neste ano”, prevê o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, ex-secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento. Ramalho, depois de cumprir a quarentena ao deixar o serviço público, hoje representa as principais trading companies brasileiras, responsáveis por cerca de 10% do comércio exterior do país. Ele prevê que as exportações somarão US$ 250 bilhões neste ano, e as importações não menos que US$ 230 bilhões.


O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, informou que pretende anunciar hoje uma nova revisão na meta de exportações. Em maio, o ministro já havia revisto a meta, de US$ 228 bilhões para US$ 245 bilhões. O maior responsável pelo desempenho considerado “excelente” pelos analistas são os produtos básicos, como soja, petróleo e café. Embora venha crescendo a importação de bens de consumo, como automóveis, as compras ainda são puxadas principalmente por petróleo, componentes para a indústria e bens semimanufaturados, usados na produção de indústrias.


Especialistas em comércio exterior no país endossam o otimismo em relação à balança comercial. “O Brasil está tirando proveito da situação internacional. Os preços das commodities vêm subindo como se saíssem do zero”, comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior Brasileiro José Augusto de Castro. “Poderíamos tirar melhor proveito se tivéssemos melhor infraestrutura.” Ele prevê que as exportações chegarão a US$ 255,5 bilhões neste ano, superando em mais de US$ 26 bilhões as importações.


O economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, também prevê números recordes, de US$ 255 bilhões em exportações e US$ 229 em importações, e lembra que os preços das commodities continuam sustentando os resultados. O índice de preços de exportação de julho alcançou um recorde, diz ele, que espera uma redução suave, nos próximos meses, com a retração econômica mundial. “Já se percebe desaceleração na ponta: a taxa de crescimento é menor, mês a mês.”


Se mantidas as médias das três primeiras semanas de julho, as exportações chegarão a US$ 26,1 bilhões e as importações, a US$ 22,6 bilhões em agosto. Depois deste mês, os números tendem a baixar gradualmente, preveem os economistas. Tanto Castro quanto Ribeiro notam a influência dos investidores financeiros, em busca de porto seguro, nos preços altos das commodities. Ribeiro lembra, porém, que há bases reais para a elevação de preços, e que só um colapso súbito da economia asiática, que vem liderando a demanda de commodities, poderia alterar significativamente o quadro de preços encontrado pelos exportadores brasileiros.


“Os preços das commodities ficaram baixos por muito tempo, reduziu-se a oferta, e houve crescimento súbito da demanda”, notou o economista. “O crescimento da oferta demora a responder, e esse descompasso levará alguns anos a ser corrigido, a não ser que haja desaceleração muito forte na economia mundial.”


Em seu novo posto no setor privado, Ivan Ramalho se diz preocupado com o que considera uma “demonização” das importações. “As vendas da indústria estão crescendo, o país vai alcançar recordes positivos de comércio.” Apesar do crescimento nas importações de bens de consumo, os bens intermediários para produção e emprego no país ainda são o que mais pesa na balança, insistiu.
 

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