02/08/2011
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um grande número de cafeicultores tem se engajado na produção de cafés especiais, garantindo ganhos competitivos para o setor.
A decisão de investir nesse segmento de mercado não é simples. Trata-se de uma aposta de ganhos futuros, que demanda recursos e tecnologia. Mais complexa é a decisão quando o mercado ainda é incipiente e, particularmente, nas condições em que ocorreu no Brasil.
Até os anos 90, a regulamentação do mercado internacional vedava ao setor toda estratégia de diferenciação. A política de regulamentação homogeneizou o produto, independentemente dos investimentos em qualidade feitos pelo produtor.
Como resultado, o mercado viu-se diante de uma seleção adversa, levando à origem da má reputação do café brasileiro.
Os fatores que influenciaram a ação empreendedora de diferenciação do café por qualidade foram alvo de pesquisa feita pela Universidade de São Paulo, que permite entender os caminhos para a melhora da competitividade brasileira no café.
Vale lembrar também que a possibilidade de diferenciação por qualidade com a desregulamentação enfrentava a estagnação ou o declínio do consumo mundial.
Nos EUA, principal comprador de café, o consumo em 1990 era 26% menor do que o verificado em 1970; até 2005, o consumo mantinha-se nesse mesmo patamar dos anos 90, segundo o Usda.
Nos anos 2000, o mercado de cafés especiais, apesar de apresentar taxa de crescimento significativo (15%), representava ainda parcela pequena do mercado.
Para ter uma ideia, somente a partir de 1999 é que o Usda passa a acompanhar o consumo de café especiais.
Em 1991, um pequeno grupo de produtores brasileiros se associa à Specialty Coffee Association dos EUA, criando a Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA).
A pesquisa com os cafeicultores apresentou aspectos interessantes que teriam influenciado na decisão desses pioneiros. A primeira delas é que a educação formal tem uma correlação positiva.
Os empreendedores qualificados tornam-se confiantes no seu conhecimento para lidar com incertezas. Mas, ao contrário do esperado, a experiência, medida pelos anos na atividade, não se mostrou relevante.
Esse achado sugere que a experiência pode agir impedindo que o empresário se envolva em atividades inovadoras, dada a inércia pelos anos na atividade.
Por fim, um achado interessante: o empresário com alto capital social (pertencente a associações/cooperativas) tem maior propensão para se envolver em novas atividades. Ou seja, empresários socialmente conectados têm maior acesso à informação, a recursos e a conhecimentos.
Esses resultados indicam que um empreendedor deve investir em educação e tirar proveito de seu capital social que promove conexões e acesso à informação para avaliar oportunidades e lidar com a incerteza.
SYLVIA SAES é professora do Depto. de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e coordenadora do Cors.