Maior feira de cafés especiais do mundo homenageia o Brasil e apresenta tendências

Maior feira de cafés especiais do mundo homenageia o Brasil e apresenta tendências
Durante quatro dias, visitantes de todo o planeta puderam conferir o potencial do café brasileiro

* 05.05.11
* TEXTO Mariana Proença | REVISTA ESPRESSO

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Durante três dias, Houston, no Texas, respirou café. Pessoas de diferentes partes do mundo estiveram na 23ª edição da Specialty Coffee Association of America (SCAA), que todo o ano proporciona ao mercado internacional um encontro de empresas de café, máquinas de espresso, moinhos, equipamentos de torra, máquinas de café filtrado, drinques à base de café, xaropes e aromatizantes, acessórios e todo o tipo de empresas que têm o grão como negócio.

Com mais de 750 estandes e uma visitação de mais de 8 mil pessoas, a SCAA cresce a cada ano com eventos paralelos e a união de organizações em busca do crescimento do mercado de café especial. A associação é a maior autoridade em café no mundo, com mais de 3 mil empresas-membro de mais de 40 países, de diversos segmentos do café especial, que representa até 13% da produção de grãos no mundo.

O mercado norte-americano é o primeiro consumidor de café no mundo e por isso eles ditam muitas tendências deste setor e acabam por influenciar o estilo de consumo internacional. É dali que partem as novas formas de preparo de café, de comunicar o produto para os consumidores e produtos relacionados que combinam com o ambiente da cafeteria. O chá é também um importante mercado que a feira explora, com expositores de diversas partes do mundo que vendem chás gourmet, além de acessórios para o preparo da bebida.

PERTO DOS PAÍSES PRODUTORES

Grandes investimentos em tecnologia também estão presentes na feira, que apresenta maquinários para o beneficiamento, a torra, a embalagem e a venda de café, sempre focado na praticidade e em soluções sustentáveis, regra básica para as empresas norte-americanas e que também tem ditado o comportamento mundial. Segundo Ric Rhinehart, diretor-executivo da SCAA: “para a indústria crescer dando aos consumidores a oportunidade de provar melhores cafés é preciso entender a agronomia e as variáveis desses processos que levam à qualidade como questão central”.

Nos estandes dos países produtores das Américas Central e Sul o que mais se viu foi o investimento em divisões de regiões de café e materiais que identificavam as peculiaridades sensoriais de cada localidade. Tradicionais produtores como Colômbia, México, Guatemala e Peru estavam com grandes estandes e ofereciam o café do país para os visitantes. Outra preocupação constante é com o meio ambiente e o diferencial dos produtores foi em mostrar a origem do grão, se havia produção orgânica, sustentável e comércio justo.

BRASIL, MUITOS SABORES

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Mas a grande estrela da festa, sem qualquer modéstia, foi mesmo o Brasil, o país homenageado deste ano na SCAA, ou em inglês, portrait country. O café nacional veio em peso resgatando o slogan: One country, many flavours (Um País, Muitos Sabores), e ofereceu aos visitantes a experiência de provar cafés de 12 regiões produtoras do Brasil e com diferentes beneficiamentos, desde o natural e cereja descascado, até o não tão comum no país, o lavado. Para atrair quem visitava a feira, o estande trazia a frase: Stop to have a “cafezinho” with us, forma carinhosa com que chamamos o café de todo o dia.

O espaço de 150 m2 deixou uma atmosfera acolhedora a quem quisesse sentar e degustar os cafés e conhecer mais sobre a produção brasileira e conversar com os produtores. Mais de 400 empresários de diferentes partes do Brasil prestigiaram a feira e vieram fazer negócios com compradores internacionais. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Luiz Paulo Dias Pereira Filho, “as oportunidades estiveram presentes e a cada dia mais o Brasil vem se fortalecendo no mercado de cafés especiais”.

Com grande investimento do governo federal no projeto Cafés do Brasil, em torno de 1 milhão de reais, para Avay Miranda Junior, gestor de projetos da Apex-Brasil: “a SCAA foi a oportunidade de mostrar o conjunto de opções que o Brasil oferece ao mundo. Os três principais pontos fortes brasileiros que procuramos enfatizar foi a diversidade de sabores, a alta tecnologia e a sustentabilidade”. Além do conceito, o estande trouxe uma novidade, um jogo interativo que os visitantes podiam brincar de preparar receitas com café, tocando em uma tela (touch screen) e colocando os ingredientes um a um dentro da xícara ou taça. Uma forma criativa de ensinar a preparar drinques à base de café e que movimentou o espaço brasileiro.

Também chamou a atenção a revista comemorativa de 20 anos da BSCA, distribuída aos visitantes e que mostrou a história da associação e as regiões produtoras de café do Brasil. A publicação bilingue, de 68 páginas, foi produzida pela Café Editora, com a chancela da revista Espresso e conteúdo importante para que os visitantes da feira levassem mais conhecimento sobre o café brasileiro de qualidade.

DESAFIOS E FUTURO

Na cerimônia de abertura, Robério Oliveira Silva, diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura (MAPA), destacou a presença brasileira no evento e os desafios que todos os países produtores têm de apresentar soluções para as novas demandas do mercado comprador. O principal destaque da abertura foi para o professor George Ray McEachern da área de horticultura da Universidade A&M, do Texas, que trouxe os desafios enfrentados há 30 anos pela indústria do vinho como paralelo para o mercado do café especial. Ele destacou a importância de haver uma relação constante entre “ciência e pesquisa para o desenvolvimento do mercado”. Tal ponto de destaque para a agricultura mostrou uma tendência do evento e da cadeia cafeeira de olhar com mais cuidado para a lavoura e os produtores de café. A responsabilidade com o cultivo, o destaque para a sustentabilidade e as novas soluções foram tema de diversas palestras durante o evento.

Desafio este que o Brasil também vem enfrentando: aproximar todas as pontas da cadeia cafeeira. Tarefa árdua pelo tamanho do país, pelas divergências de objetivos entre os produtores das regiões e pela constante insistência de parcela do mercado mundial de nos enxergar como o país da quantidade. O trabalho na SCAA foi coordenado por Vanusia Nogueira, diretora-executiva da BSCA, que acredita que o balanço foi positivo. “Desde 2010 conversamos com todos os envolvidos no processo produtivo de café brasileiro para que fizesse sentido estar na SCAA como país homenageado. A mensagem que tiramos de reuniões com as entidades foi de que não iríamos tratar nosso café como artesanal, mas que nem por isso ele não é de qualidade, mas que iríamos falar de diferentes sabores, pesquisa e tecnologia. Conseguimos dar nossa mensagem e reposicionar o café brasileiro. É um excelente início”.

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COFFEES OF THE YEAR

Durante a SCAA os visitantes tiveram a grande chance de provar dez cafés de origem selecionados após 140 amostras de 25 países. Considerados os melhores por provadores Q-Graders, os cafés receberam nota 82 pontos ou mais, numa escala de 0 a 100 que avalia aspectos de fragrância, aroma, sabor, acidez, corpo e finalização.

Os cafés foram preparados durante os três dias de competição e os visitantes provavam as bebidas numeradas de 1 a 10 e votavam na que mais haviam gostado. Na escolha do público, chamada de People’s Choice – Coffees of the Year, o café escolhido foi de Honduras, na fazenda Los Manzanos, da região de Cedritos, Santiago Puringla, La Paz. O produtor Teodoro Amaya Montoya recebeu um certificado no último dia do evento e agradeceu a todos os presentes. O café campeão do público teve nota 86,68.

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