Incentivo à Qualidade – Empresas e associações promovem prêmios e programas que bonificam produtores e os incentivam a investir em cafés de qualidade

Empresas e associações promovem prêmios e programas que bonificam produtores e os incentivam a investir em cafés de qualidade

14 de fevereiro de 2011 | Sem comentários Cafés Especiais Produção

 








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Durante décadas o Brasil construiu fama internacional como grande produtor de café. A quantidade exportada colocou o grão verde nacional em posição de destaque. Compradores de todo o mundo vinham ao País em busca do ouro verde para compor seus blends. O Instituto Brasileiro do Café (IBC) estimulou investimentos e regulou preços, apoiou produtores e exportadores por longos anos, mas esqueceu de um fator que a partir dos anos 1990 faria toda a diferença no mercado mundial de café. A qualidade, característica sempre lembrada por aqueles que compram e consomem café atualmente, não era comumente trabalhada por aqui até a metade da década passada.


O reflexo da falta de preocupação dos produtores com seus cafés chegou aos torrefadores. Muitos passaram a apostar no café colombiano como referência de qualidade. Outros foram à África em busca de sabores e aromas exóticos que poderiam resultar em uma bebida diferenciada. Ainda assim alguns conhecedores da cafeicultura brasileira apostaram no produto nacional e decidiram arregaçar as mangas e procurar a qualidade em todos os recantos, na busca por um café gourmet. Dessa forma começaram a surgir os prêmios e programas de qualidade na cafeicultura brasileira.


Entre os pioneiros nessa aventura pela qualidade perdida esteve Ernesto Illy, fundador do Grupo Illy SpA, empresa que desde a fundação, há 75 anos, usa os cafés brasileiros na composição de seus blends. Falecido em 2008, é sempre lembrado em congressos e reuniões em que a pauta seja qualidade e valorização do produtor. Outros que se destacam nesse tema são a Syngenta, com seu programa Nucoffee, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), com o prêmio Cup of Excellence, e a Nestlé, com o programa AAA da Nespresso. Estas iniciativas possuem características distintas, mas todas estão voltadas à busca e à cultura de um café de qualidade, que possa ser lembrado por aqueles que o apreciam.


 


PRÊMIO ILLY


“Uma estratégia inteligente da empresa para selecionar os bons produtores.”



Criado em 1991 por Ernesto Illy, o prêmio busca identificar o café de qualidade nas diferentes regiões produtoras do País. Foi inspirado em um concurso de lã da marca Ermenegildo Zegna, realizado na Austrália. Illy, intrigado com a dificuldade em encontrar um café que resultasse em bebida com aroma e sabor satisfatórios à sua marca, acreditou no potencial que já conhecia do Brasil e veio decidido a achar um produto à altura de seus blends. Segundo o dr. Aldir Alves Teixeira, “esta foi uma estratégia inteligente da empresa para selecionar os bons produtores, recompor o Brasil em seu blend e ampliar o volume”. Ele lembra ainda que algumas regiões que não têm condições favoráveis à produção de um café de qualidade vêm conseguindo destacar-se no concurso. “Existem algumas regiões que nitidamente têm qualidade inferior pelo clima e umidade, como a Sorocabana e a de Piraju, mas tem ganhador daquela região, assim como tem ganhador da Zona da Mata, do Espírito Santo e de Arapongas, por exemplo.”



 

NUCOFFEE

 



“Um canal que faz a conexão entre o produtor, a cooperativa e o torrefador do exterior”



Entre os recentes programas de qualidade está o Nucoffee, da empresa de defensivos agrícolas Syngenta. O Nucoffee é um programa de qualidade onde o produtor pode trocar seu café por produtos que serão usados em sua lavoura. Quando há demanda, ainda existe a possibilidade de o produtor fechar contratos com compradores do mundo todo, com garantia de rastreabilidade e preços acima da média de mercado. Para Daniel Friedlander, coordenador de Comunicação e Marketing da Syngenta, a melhor definição para este programa é que “este é um canal que faz a conexão entre o produtor, a cooperativa e o torrefador do exterior, tudo com muita transparência”.

Vagner Ferrero, proprietário da Fazenda Pântano da cidade de Patrocínio, no Cerrado Mineiro, optou por participar do Nucoffee porque “a parte de controle de doenças é fundamental; sem ela não existe produto bom, por isso a Syngenta e por isso a Nucoffee; e para nós sobra não estragar o produto, pois quem faz qualidade é a planta e não nós”. Já Nelson Rivelini é proprietário da Fazenda São Martin, de 34 hectares, e alcançou a marca de 81 sacas por hectare. Ele acredita que “desde a prática diária na lavoura até a infraestrutura da fazenda, workshops, enfim, tudo vem sendo trabalhado de forma profissional. “Esse ano quero caprichar mais na qualidade para ir em busca do mercado lá fora; eu boto fé no que faço e vou seguir as orientações para vender meu café bem vendido”, orgulha-se Rivelini.


 


CUP OF EXCELLENCE


“Bom para apurar o paladar daqueles que estão do outro lado do mundo.”



Em sua 9ª edição em 2008, o Cup of Excellence é um concurso criado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) e idealizado por Silvio Leite, provador, classificador e conselheiro da entidade, e Marcelo Vieira, primeiro presidente da associação. Surgiu com o intuito de comprovar que o Brasil não era apenas produtor de quantidade, mas tinha também produtos de altíssima qualidade. Inspirado nos concursos de vinhos e azeites do mundo todo, a primeira edição foi realizada em 1999 e o evento foi chamado de Projeto Gourmet.

No ano de 2000, nos Estados Unidos, foi criada uma associação para facilitar a implantação do Cup of Excellence em outros países. Hoje o concurso é realizado na Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, El Salvador, Honduras e Ruanda. Segundo Silvio Leite, o objetivo do prêmio é valorizar o produtor que investe em qualidade e que tem cuidado com sua lavoura. “No final da segunda edição, em 2000, quando eu fazia os agradecimentos finais, um dos compradores fez uma intervenção dizendo que o concurso é bom para apurar a calibragem do paladar daqueles que estão do outro lado do mundo, e ainda me agradeceu por ensinar o caminho até os bons produtores”, revela Silvio. O ganhador do Cup of Excellence Brasil 2008, Ralph de Castro Junqueira, leiloou seu lote de 22 sacas a US$ 9,05 por libra-peso, o que totaliza US$ 26.336,42.


 


AAA (TRIPLE A)


“Um prêmio por todo café que passa nos critérios de qualidade para implementar as melhorias propostas.”



Após a criação da marca e sistema Nespresso, da empresa suíça Nestlé, a demanda por cafés com determinados perfis aromáticos cresceu mais do que por outros. Isso aconteceu porque a composição dos blends que recheiam as cápsulas da marca é definida com base nessa característica. O sistema fez sucesso em todo o mundo e o crescimento da marca, em 2001, ultrapassou os 30% ao ano, segundo Paulo Barone, representante no Brasil. Tal crescimento criou ainda mais demanda, e foi necessário localizar os produtores que tinham esse café e fidelizá-los como fornecedores da Nespresso.

Assim nasceu o AAA (triple A). México, Guatemala, Costa Rica e Colômbia, além do Brasil, são países que já participam do programa há alguns anos. Mas a expansão não para. “No Quênia estamos em pleno processo de estruturação de dois ‘clusters’ (regiões de atuação do programa) que devem estar completamente integrados em 2009, ano em que também começaremos o programa na Índia e na Nicarágua”, revela Barone. Quem participa recebe como pagamento prêmios que elevam em cerca de 30% o valor da saca em relação ao preço de mercado. “A Nespresso paga um prêmio por todo café que passa nos critérios de qualidade desde a primeira venda que o produtor faz depois de ter aceito participar do programa AAA. Isto serve de incentivo para abraçar o programa, implementar as melhorias propostas e ajudar a financiá-las”, explica Barone.


Fonte: Revista Espresso

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