O Nim – Azadirachta indica – um Inseticida Natural

Por: Sueli Souza Martinez - Pesquisadora






Introdução



O nim pertence à família Meliaceae, que apresenta diversas
espécies de árvores conhecidas pela madeira de grande utilidade, como o mogno, o
cedro, a santa-bárbara, ou cinamomo, o cedrilho, a canjerana, a triquília, etc.
É originário do Sudeste da Ásia e é cultivado em diversos países da Ásia, em
todos os países da África, na Austrália, América do Sul e Central. É usado há
séculos na Ásia, principalmente na Índia, como planta medicinal. Tem diversos
usos, em especial anti-séptico, curativo ou vermífugo; é utilizado no preparo de
sabões medicinais, cremes e pastas dentais. A árvore é usada para sombra e
possui madeira de qualidade para a produção de móveis, construção, batentes e
portas, caixas e caixotes, lenha, carvão,etc.Seu uso como inseticida se tornou
bem conhecido nos últimos 30 anos, quando seu principal composto, a
azadiractina, foi isolado. A molécula da azadiractina é muito complexa e ainda
não pôde ser sintetizada; assim, todos os produtos que contêm azadiractina são
produzidos por extração da planta.
Os inseticidas naturais de nim são
biodegradáveis, portanto não deixam resíduos tóxicos nem contaminam o
ambiente.Possuem ação repelente, anti-alimentar, reguladora de crescimento e
inseticida, além de acaricida, fungicida e nematicida. Por sua natureza, os
extratos de nim são mundialmente aprovados para uso em cultivos orgânicos.A
planta possui mais de 50 compostos terpenóides, a maioria com ação sobre os
insetos. Todas as partes da planta possuem esses compostos tóxicos, porém é no
fruto que se encontra a maior concentração. Esses compostos são solúveis em água
e podem ser preparados de maneira simples e barata, por pequenos e médios
produtores.












Outras espécies de meliáceas têm propriedades semelhantes.
Entretanto, seus extratos são mais tóxicos aos vertebrados e são menos eficazes
contra os insetos. Os extratos de nim são praticamente inócuos aos vertebrados e
ao homem.

A Árvore

Originária de clima
tropical, a planta se desenvolve bem em temperaturas acima de 20ºC, em solos bem
drenados, não ácidos e altitudes abaixo de 700 m. Nessas condições, pode iniciar
a produção de frutos em cerca de dois anos, podendo atingir 10 kg de semente
seca/planta, sendo que cada quilograma de sementes secas contém aproximadamente
3000 sementes.
No Brasil, as primeiras introduções realizadas para pesquisa
do nim como inseticida foram realizadas pelo IAPAR, em Londrina PR, em 1986 com
sementes originárias das Filipinas. Em continuidade ao projeto, em 1989 e 1990,
material oriundo da Índia, Nicarágua e República Dominicana foi plantado em
Londrina, Paranavaí PR (região mais quente e arenosa), Jaboticabal SP e Brasília
DF, para avaliação de desenvolvimento.
Nos anos noventa, principalmente nos
últimos cinco anos, as propriedades da planta se tornaram mais conhecidas no
País, dando-se início ao plantio de áreas comerciais em São Paulo, Goiás, Mato
Grosso, Pará e outros. Esses estados apresentam clima favorável seu cultivo,
esperando-se portanto produções próximas ao obtido nos países de origem. Em
condições menos adequadas, como as do Norte do Paraná, com clima subtropical, as
plantas se desenvolvem mais lentamente, iniciando a produção de frutos após
cerca de seis anos, atingindo a produção máxima de 3 a 4 kg de semente
seca/planta após 10 anos do plantio (dados obtidos no IAPAR).
O IAPAR está
trabalhando para conseguir plantas mais adaptadas às condições subtropicais. Em
1998, foi realizada a enxertia de nim sobre o cinamomo, Melia azedarach, que tem
excelente desenvolvimento e alta produção de frutos no Sul do Brasil. O
pegamento do enxerto foi muito bom e há hoje 150 plantas enxertadas em duas
estações experimentais do IAPAR para avaliação, com florescimento já no primeiro
ano.

Plantio e Condução

As sementes
devem ser plantadas o mais rápido possível, dado que o poder germinativo, de
cerca de 80%, se reduz em cerca de dois meses a praticamente zero. Sementes
mantidas em geladeira podem manter o poder germinativo por mais tempo.
As
mudas podem ser feitas em sacos plásticos, mantendo-se boa irrigação durante seu
desenvolvimento. As sementes germinam após duas semanas. Ao atingir 50 cm, após
cerca de três meses, a planta pode ser transplantada para o campo.
O
espaçamento recomendado para o plantio do nim é variável, já que o
desenvolvimento da planta depende das condições de solo e clima, sendo
necessário que toda a copa receba a luz do sol. Assim o espaçamento deve
permitir boa insolação. No Brasil recomenda-se de 5 a 8 m entre árvores, com o
maior espaçamento nas regiões mais quentes. Deve-se conduzir o tronco sem ramos
até 1,5 m de altura e os ramos devem ser podados regularmente. O ponteiro apical
pode ser cortado quando a planta alcançar 4 a 6 m, de modo que a árvore não
atinja um tamanho muito grande e apresente uma copa bem desenvolvida. Desse modo
a produção de frutos é maior e a colheita é facilitada.

Modo
de Ação


A ação dos extratos de nim sobre insetos é
bastante variável de espécie para espécie. Há registro de ação sobre mais de 300
espécies. A maior parte das investigações foi feita em laboratório, sendo
necessários mais estudos para poder se determinar com maior segurança quais as
pragas pode controlar, as doses, freqüência de aplicação, etc.
De modo geral
a azadiractina afeta o desenvolvimento dos insetos de diferentes modos. Pela sua
semelhança com o hormônio da ecdise (processo que possibilita ao inseto trocar o
esqueleto externo e, assim poder crescer), perturba essa transformação e, e m
altas concentrações pode impedí-la, causando a morte do inseto. Por essa razão,
as formas jovens de insetos são mais fáceis de controlar. Não causa a morte do
inseto imediatamente, dado o seu efeito fisiológico, porém, além de afetar a
ecdise, reduz o consumo de alimento, retarda o desenvolvimento, repele os
adultos e reduz a postura nas áreas tratadas. Também tem maior ação por
ingestão, de modo que os insetos mastigadores são mais facilmente
afetados.
As espécies mais facilmente controladas são as lagartas, pulgões,
cigarrinhas, besouros mastigadores. Resultados de pesquisa do IAPAR mostraram
efeitos letais e deformidades em larvas e pupas de lagarta-do-cartucho do milho,
curuquerê do algodoeiro, ácaros e bicho-mineiro, cochonilhas e redução de
postura em bicho-mineiro, broca-do-café e mosca branca. Em testes com a
joaninha, inimigo natural de pulgões, extratos de nim não causaram morte dos
adultos e sua ação sobre as larvas foi mediana para uma espécie e inócua para
outra, não reduzindo sua voracidade, o que comprova seu potencial para uso em
associação com inimigos naturais contra as pragas.
O uso de folhas misturadas
ao alimento do gado ou a aplicação de extratos das folhas ou sementes no dorso
dos animais tem sido indicado para controle de carrapato e mosca do chifre. No
Brasil se usam 5l de solução a 2% do óleo emulsionável ou 2,5-5% do extrato da
folha, por animal. O óleo também pode ser encontrado na forma pour-on,
indicando-se 10 ml/100kg peso vivo de animal.
Nos países onde o óleo é
extraído também se prepara a pomada, feita com os resíduos da extração do óleo,
que pode ser utilizada no controle de sarna em animais e outras infecções da
pele.

Preparo de Extratos

Os extratos
podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em
água, deixando-se a mistura descansar por 12 horas e filtrando-se o líquido e
pulverizando-se sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser usado
para folhas, frescas ou secas, embora a azadiractina aí ocorra em menor
concentração.
O óleo inseticida é extraído pela prensagem das sementes,
obtendo-se no máximo 47% de óleo, que contém cerca de 10% da azadiractina
existente no fruto. A torta restante é, pois, muito rica em azadiractina, tem
efeito nematicida e serve como adubo orgânico. Pode, também, ser secada e
utilizada posteriormente para preparo de extratos inseticidas, em mistura com
água e filtração.
Para se armazenar sementes para preparar o extrato
posteriormente, os frutos devem ser colhidos, secos ao sol por dois a três dias,
e mais uns dois dias à sombra por dois dias e despolpados manualmente em água ou
utilizando-se despolpadeira com café. Deixa secar bem e armazena, de preferência
a baixa temperatura. As sementes que serão plantadas podem ser preparadas da
mesma forma.

Doses

 Ainda não há informações
detalhadas sobre doses específicas para cada inseto. Entretanto, de modo geral,
as seguintes doses têm apresentado eficácia no controle principalmente de pragas
de hortaliças:

* Óleo emulsionável: 5 ml/litro água

* Sementes
secas: 30 a 40 g /litro água

* Folhas secas: 40 g a 50 g / litro
água

Possíveis fornecedores de Mudas,
Sementes ou Óleo já Preparado


*Agroecologic – São Paulo – SP – (
0xx11) 3873-9954 – fax: (0xx11) 3676-0555 – e-mail: agroexotic@sti.com.br (mudas e óleo de
nim)

*Arlindo Cervo – Dalquim – Departamento Comercial – Itajaí – SC,
fone: (0xx47) 346-2070, 0800- 474848, e-mail: vendas@dalquim.com.br  (óleo de nim
e pour-on)

*Fazenda Santa Angelina – Agropecuária Santa Angelina,
Brejinho de Nazaré, Tocantins. Contato: Eduardo Barbosa, fone: (0xx11)
4688-0651/9975-0379 ou (0xx63) 521-1190 (sementes de nim)

*Manoel Vieira
– Avenida Benedito Rodrigues Lisboa, 2075, CEP: 15090-370 – S. José do Rio Preto
– SP, fone: (0xx17) 227-4912 (sementes e mudas)

*Natural Rural – Av.
Feijó, 582, sl 8 Centro 14.801-140 – Araraquara – SP – fone:(0xx16) 235-8711 –
endereço internet: www.naturalrural.com.br  (óleo de
nim)

*Nim do Brasil Ltda. – R. Clóvis Bevilacqua, 550, CEP: 13075-040,
Campinas – SP, fone: (0xx19) 212-0906, e-mail: hverde@correionet.com.br  (mudas
e óleo de nim)

*Orgânica Alimentos Ltda. – R. Senador Souza Naves, 1664 –
Londrina, PR – CEP: 86015-430, fone/fax: (0xx43) 3344-6718, organica@sercomtel.com.br , www.organicaalimentos.com.br
 (óleo de nim, pour-on e publicações)

*Passiflora – Fones:(0xx43)
3339-7505 (0xx43) 9997-7488 – Londrina-PR – e-mail: passifloras@bol.com.br
   (mudas)

*Roberto Malimpence – (0xx17) 5232430
Catanduva, SP (sementes e mudas)

Bibliografia sobre Nim

Brechelt, A.
& C. L. Fernandez. 1995. El Nim. Un Árbol para la Agricultura y el Medio
Ambiente. Experiencias en la Republica Dominicana. Fundación Agricultura y Medio
Ambiente, Amigo del Hogar, San Cristobal, Rep. Dom., 133 p.

Carvalho,S.M.
& D. Trevisan. 1990. Santa-bárbara contra a vaquinha. Ciência Hoje. Tome
Ciência 11(65): 65-67

Depieri, A.R. & S.S. Martinez. 2002. Neem,
Azadirachta indica A. Juss., oil effects in the mealybug Planococcus citri
(Risso, 1813) (Hemiptera: Pseudococcidae). 19o Congr. Bras. Entomologia, Manaus,
junho 2002, Resumos, p. 136.

Leal A.C., A.L.M. Ramos, J.P. Pereira &
S.S. Martinez. 2000. Enxertia intergenérica entre neem (Azadirachta indica A.
Juss )e cinamomo ( Melia Azedarach L.).6ª International Congress &
Exhibition on Forestry. Instituto Ambiental Biosfera, Silvicultura:
127-128

Martinez, S. S. 1996. Effects of sublethal doses of azadirachtin
on the development of Spodoptera littoralis. Ph.D. thesis, University of
Reading, England, 250 p.

Martinez, S.S. 2002 (ed.) O Nim – Azadirachta
indica – Natureza, Usos Mútiplos, Produção. Londrina, IAPAR, 142
p.

Martinez, S.S. & A.M. Meneguim. 1999. Reduction of egg laying and
egg survival of Perileucoptera coffeella caused by neem oil. The Neem World
Conference, Canada, 18 a 21, May -1999.

Martinez, S.S. & H.F. van
Emden. 2001. Growth disruption, abnormalities and mortality of Spodoptera
littoralis caused by azadirachtin. Neotropical Entomology, 30 (1):
113-125.

Martinez , S.S. & H.F. van Endem., 1999. Sublethal
concentrations of azadirachtin affect food intake, conversion efficiency and
feeding behaviour of Spodoptera littoralis (Lepidoptera: Noctuidae). Bulletin of
Entomological Research, 89: 65-71.

Martinez, S.S., J.de Lima &
A.L.Boiça Jr. 1998. Avaliação agronômica e fitoquímica de neem , Azadirachta
indica de diferentes procedências em vários locais das regiões Sul e Sudeste do
Brasil. XVII Congresso Brasileiro de Entomologia, 9-14/8/1998. Sociedade
Entomológica do Brasil, resumos. p.831.

Meneguim, A.M & S.S.
Martinez. 1998. Avaliação da eficiência de neem (Azadirachta indica) para o
controle de ácaros. XVII Congresso Brasileiro de Entomologia, 9 a 14/8/1998.
Sociedade Entomológica do Brasil, Resumos. p. 1053.

Schmutterer, H.
(ed.). 1995. The Neem Tree Azadirachta indica A. Juss. and Other Meliaceous
Plants. VCH, Weinheim, 696 p.

Silva, F.A.C., S.S. Martinez & A.M.
Meneguim. 2001. Ação do Nim, Azadirachta indica A. Juss, na sobrevivência e
desenvolvimento do predador Cycloneda sanguinea (L.) (Coleoptera:
Coccinellidae). II Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, Resumos, p.
131.


Equipe
Técnica


*Sueli Souza
Martinez
–     [Doutora]  [
Currículo Lattes ]

*Ana Maria Meneguim
   [Mestre]   
[
Currículo Lattes]

*Celso Luiz Hohmann
     [Doutor]
   [
Currículo Lattes]

*João de Lima 
–              [Mestre]    [
Currículo Lattes]

*André Luiz M. Ramos
   [Mestre]   
[
Currículo Lattes]

*Alex Carneiro Leal
–        [Doutor]    [
Currículo Lattes]



Informações adicionais:(43) 3376-2217 – 3376-2373 – fax:
3376-2101
e-mail: suemart@sercomtel.com.br
  ou iapar@iapar.br



Clique aqui para
fazer o download do Texto (pdf)



Para adquirir  o livro
“O Nim – Azadirachta indica – natureza,
usos múltiplos, produção” 
consulte aqui

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.