Marli Lima e Alexandre Inacio |De Curitiba e São Paulo
Menos de dez dias depois de fechar a compra da paranaense Café Damasco, a americana Sara Lee anunciou o fechamento da fábrica da empresa em Curitiba e a demissão da maior parte dos funcionários. A unidade está fora de operação desde a última sexta-feira e apenas as pessoas que cuidam do processo de demissão trabalham atualmente. \”Foi vendida apenas a marca. A fábrica ficou com os antigos donos\”, diz Antonio Sérgio Farias, presidente do Sindibebidas, Sindicato dos trabalhadores em Curitiba e Região Metropolitana. De acordo com Farias, todos os empregados (cerca de 150) foram dispensados. \”Estamos tentando negociar aviso prévio em dobro, mas está difícil\”, conta.
O presidente da Damasco, Guivan Bueno, não tem falado sobre o assunto. Ele é presidente do sindicato patronal da indústria de torrefação de café no Paraná. Farias disse que buscou informações e soube que os antigos sócios da Damasco não podem atuar no ramo de café nos próximos cinco anos, mas teriam ficado com o imóvel que abrigava a fábrica e as instalações.
O fechamento da fábrica em Curitiba é resultado dos termos do negócio entre a Sara Lee e os antigos donos do Café Damasco. O Valor apurou que o imóvel onde estava instalada a fábrica paranaense, de fato, não foi incluído na venda para a multinacional americana. Com isso, além de todas as marcas pertencentes à Damasco – Maracanã, Bom Taí, Pacheco e Damasco -, apenas as as máquinas e equipamentos da unidade de Curitiba foram vendidos.
No caso da fábrica na Bahia, tanto as instalações quanto o imóvel entraram na operação de venda. No mercado, esse é um sinal claro do interesse da Sara Lee nos mercados da região Nordeste, onde a empresa ainda tem uma participação pequena e encontrava dificuldades para ganhar participação.
Com isso, dos 180 funcionários que trabalhavam em Curitiba, apenas aqueles ligados à força de venda e com a rede de distribuição serão incorporados ao quadro da Sara Lee, segundo a assessoria da multinacional. \”Em relação à reestruturação no quadro de funcionários da fábrica de Curitiba, a Sara Lee informa que faz parte do processo de transição, e a empresa oferecerá todo o suporte necessário, sendo observadas todas as regulamentações e procedimentos locais exigidos\”, informa nota divulgada pela Sara Lee.
O término das operações fará com que a produção de Curitiba seja totalmente transferida para a unidade da Sara Lee em Jundiaí, no interior de São Paulo. Fontes do mercado informaram que a planta paulista estava parcialmente ociosa e por isso tem capacidade de absorver toda a produção originada no Paraná, sem comprometer o abastecimento das marcas recém-adquiridas.
\”As marcas receberão investimentos e continuarão sendo comercializadas nos pontos de vendas atuais, através do mesmo sistema de distribuição, passando a ser produzidas em nosso site, em Jundiaí\”, diz a nota.
A unidade da Sara Lee em Jundiaí foi inaugurada em 2006 após um investimento de R$ 90 milhões. A fábrica tem capacidade instalada para produzir anualmente 100 mil toneladas de café torrado e moído e é uma das maiores indústrias do mundo.