Está cada vez mais difícil ter uma opinião sobre os mercados de commodities, que sofrem mais influências dos fatores macroeconômicos e pouco conseguem ser analisados com base nos fundamentos.
A semana que passou deu mais uma prova disto com a volatilidade de diversos produtos e a falta de notícias que pudessem explicar os movimentos. Para piorar a situação – ou aumentar os intervalos de negociação dos preços – os números de contratos em aberto no café em Nova Iorque caem para os níveis mais baixos do ano, quando os preços da bolsa estavam ao redor de US$ 135.00 centavos por libra. Isto demonstra um esvaziamento do mercado, dado que os agentes naturais resolvem diminuir suas (ex)posições tamanha a incerteza da movimentação dos preços.
Os índices das commodities cederam nos últimos cinco dias, enquanto as bolsas e o dólar ficaram de lado. Olhando mais de perto podemos destacar a subida de quase 10% do gás natural, 4.77% da prata, 4.69 do café e de 3.33% do cacau entre os poucos ganhadores. Os perdedores (entre tantos) foram: o algodão que cedeu 8.76%, o alumínio com queda de 5.83% seguido pelas perdas de 4.87% da soja, e 3.97% do petróleo.
De novidade temos o relatório anual de café do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA em inglês), que divulgou uma revisão da estimativa da safra brasileira de 2010/2011 para uma produção de 54.5 milhões de sacas de 60 quilos, 800 mil sacas a menos do que originalmente previsto – a queda se deu na produção do conillon que caiu de 13.5 milhões para 12.7 milhões. Para o arábica nada mudou, a produção deve ser de 41.8 milhões de sacas. Com um consumo interno de 18.5 milhões e exportações de 33 milhões, a expectativa é de que o estoque de passagem para a safra 11/12 seja de 5.84 milhões de sacas – nada demais.
Aliás, aproveitando o momento de futurologia vamos considerar que o Brasil consuma 19.5 milhões de sacas no ciclo de 2011/2012, e que a exportação caia para 30 milhões, um desaparecimento de 49.5 milhões de sacas. Caso isto ocorra, para não zerar o estoque o país teria que produzir no mínimo 44 milhões de sacas – e aqui vale lembrar que alguns acreditam que a safra pode ser de 48/49 milhões. Pois bem, mesmo que a safra seja deste tamanho ou eventualmente um pouco maior, claramente podemos perceber que o mundo precisa que o Brasil produza safras cada vez maiores, o que não significa que os preços sejam impactados tão negativamente como muitos baixistas crêem (ou torçam).
Dado curioso no relatório do USDA foi a divulgação do custo de produção na região de Guaxupé, de US$ 156.39 por saca, que com o câmbio de 1.72 se converte em R$ 269.00 por saca. Considerando a média do indicador da ESALQ dos últimos 6 meses, os produtores venderam seus cafés a R$ 322.41, tendo um retorno de 19.86% – sem contar custos de dívidas. Ainda que não seja a rentabilidade almejada (como se isto fosse mensurável ou realmente definido), o resultado é melhor do que nos últimos anos, mas não necessariamente significa que estimulará uma explosão de novas lavouras – por ora…
Para a semana que se inicia resta ficarmos atentos as oportunidades de encaixar negócios e travar ganhos, sem a pretensão de tentar adivinhar o rumo do mercado no curto prazo. Caso Nova Iorque volte a negociar próximo de US$ 220 centavos, a saca de café no Brasil deve negociar a R$ 400.00 mais uma vez, porém eventualmente veremos menos vendedores dado que muitos produtores começam a olhar para a equalização do que terão que pagar de imposto de renda no ano que vem. Em uma eventual subida, os diferenciais também voltarão a baratear, ajudando a fluir mais negócios. Com o começo da notificação do contrato de Dezembro, os torradores voltam a ficar menos ansiosos para comprar o mercado, e mais caixa é liberado para os intermediários que querem comprar café em diferenciais atrativos. A semana é curta com o feriado do Dia de Ação de Graças (o mais importante por aqui) na quinta-feira dia 25 de novembro.
Resta saber se o pacote de ajuda financeira à Irlanda, e o incremento do depósito compulsório na China não vão atrapalhar os altistas. O macro vai continuar dando o tom, então não adianta ficar tentando justificar a movimentação dos preços do café com notícias recicladas.
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting