AGROECONOMIA
31/08/2010
A Bolsa de Nova York está disposta a incluir o Brasil no grupo que negocia contratos de grãos de qualidade, mas enfrenta a ira dos outros países membros. E agora?
EDUARDO SAVANACHI | Dinheiro Rural
Que o café brasileiro já é um item muito bem-vindo nos Estados Unidos, não é novidade. Afinal, o país é o segundo principal destino do produto nacional, respondendo por 20% das vendas externas totais do grão. Só no primeiro semestre deste ano, as vendas para os americanos somaram US$ 2,6 bilhões, segundo dados do Conselho de Exportadores de Café (Ceca fé).
Esses números podem crescer nos próximos anos, já que os EUA pretendem escancarar suas portas para o produto brasileiro. Isso porque a bolsa de commodities de Nova York, a Ice Futures US, avalia incluir o grão brasileiro no contrato futuro do café arábica. A modalidade, que determina o padrão de qualidade do café negociado, é formada por um limitado grupo de países, entre eles México, Quênia, Nicarágua e Colômbia. 0 Brasil, maior produtor mundial do grão, está fora da turma. \”0 volume de produção de cafés despolpados no País era de cerca de 500 mil sacas anuais em 2004; hoje, está em torno de quatro milhões. A expansão é a principal razão pela qual a questão voltou a ser avaliada. Pela primeira vez, por iniciativa da própria ICE\”, explica o diretor do Cecafé, Guilherme Braga. De acordo com o especialista, a inclusão do Brasil nesse grupo propor-
um possível aumento do narcotráfico. \”A maioria dos nossos produtores são pequenos e vulneráveis ao mercado externo. A entrada do Brasil tiraria a sua competitividade e se eles não puderem se sustentar com o café irão procurar outras coisas, como o cultivo ilegal de coca, matéria-prima da cocaína\”, alertou o presidente da Federação de Cafeeiros Colombianos, Juan Esteban Orduz. 0 argumento é rechaçado por Braga. \”Essa é mais uma forma espúria de tentar deslocar a discussão do tema do plano comercial para o político\”, diz o diretor. \”Esse argumento já foi usado. Agora usado com mais veemência. Até quando o café brasileiro será refém da droga?\”, completa, referindo-se à última tentativa frustrada de colocar o Brasil nesse bloco, feita em 2004.
Nem a proposta de estipular um desconto de US$ 0,07 a US$ 0,09 centavos em relação ao contrato referencial, parece sensibilizar os outros membros do grupo. A Guatemala, que já entrega na ICE e cujos cafés têm reputação internacional, considera que o desconto não é suficiente e teme que o Brasil possa inundar o mercado com sua grande safra, provocando queda nos preços. \”Não existe uma estatística sobre a quantidade de café que o Brasil chama de lavados\”, explica o presidente da Associação de Produtores de Café da Guatemala (Anarafé), Ricardo Villanueva.
Apesar da chiadeira, as chances de um acordo favorável ao Brasil são boas. Principalmente porque nenhum país-membro do grupo tem poder de veto e a própria bolsa vem se mostrando aberta à inclusão. \”O volume de arábica brasileiro tem crescido e é bem-aceito pelos torrefadores. Acreditamos que o momento seja apropriado para rever a questão\”, comentou o vice-presidente de desenvolvimento de produto da Ice, Tim Barry.