A OIC (Organização Internacional do Café), divulgou seu relatório mensal de acompanhamento do mercado cafeeiro mundial de julho. O diretor-executivo da entidade, Néstor Osório, relata que a safra mundial 2009/10 (out-set) de café deverá totalizar 120 milhões de sacas de 60 quilos, queda de 6,3% ante as 128 milhões de sacas produzidas na temporada anterior. \”Para 2010/11, minha estimativa preliminar da produção segue inalterada, entre 133 e 135 milhões de sacas\”, frisa Osório.
A recuperação da produção projetada pela OIC para 2010/11 se dará principalmente pelo ciclo de alta na cultura do café arábica do Brasil, onde a produção de arábica + robusta está estimada em 47 milhões de sacas em 2010. A safra da Colômbia também deverá se recuperar, depois de dois anos de baixos níveis de produção. Já no caso do Vietnã, as estimativas iniciais de produção para a safra 2010/11 poderão vir a sofrer revisões baixistas, em função de adversidades climáticas.
Não só a produção caiu em 2009/10, mas também o consumo mundial, que para 2009 é indicado em 128,8 milhões de sacas, queda de 1,5% comparado com os 130,7 milhões de sacas de 2008. A queda é resultado dos reflexos da crise financeira internacional, especialmente nos mercados emergentes, como o leste europeu. As quedas mais expressivas estão previstas para a Polônia (-18,5%), Rússia (-15,7%), Ucrânia (-15,7%), Suécia (-11%), Coréia do Sul (-6,8%) e Alemanha (-6,7%). \”Deve ser salientado, no entanto, que esses dados não levam em conta o uso de estoques em substituição de importações. Portanto, é provável que os dados superestimem a redução no consumo mundial de café e que a performance real seja de alguma forma melhor. Na verdade, informações recebidas por várias fontes diferentes indicam que a demanda mundial de café deverá se recuperar em 2010\”, destaca o diretor da OIC, com a melhora na situação financeira global.
O analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, comenta que a queda no volume consumido é significativa e interrompe um ciclo virtuoso de avanço, expondo as sequelas de um momento delicado da economia mundial. O avanço no Brasil e Leste da Europa é que vinha puxando o deslocamento mundial do consumo de café. E foi justamente o Leste da Europa quem mais acusou o golpe da crise financeira. É verdade que o mundo como um todo andou para trás em 2009, com a atividade econômica recuando 0,6% segundo Fundo Monetário Internacional (FMI) em sua última projeção de julho de 2010. Mas o tombo foi muito mais drástico no Centro e o Leste da Europa, onde a economia recuou 3,6%, avalia.
Barabach ressalta a perspectiva da OIC de retomada da linha de crescimento do consumo em 2010, com tendência de melhora na economia mundial no pós-crise. O FMI projeta que mundo crescerá 4,6% em 2010 e 4,3% em 2011, o que fundamenta uma melhora na renda e por extensão facilita o avanço do consumo mundial.
Em 2009, mesmo com o consumo caindo, ainda foi alto o déficit na oferta em relação à demanda, com déficit de 8,8 milhões de sacas em 2009 e quedas nos estoques mundiais de café com isso. É a grande explicação de fundamentos para as recentes altas nas cotações internacionais, com os preços do café arábica em Nova York tendo atingido os níveis mais altos
Agora em 2010, se levarmos em conta a produção estimada pela OIC entre 133 e 135 milhões de sacas e um consumo crescendo novamente ao menos para a faixa de 130 milhões de sacas, teríamos um superávit na oferta relativa à temporada 2010/11 de 3 a 5 milhões de sacas, o que não é expressivo após um ano de 2009 de déficit de 8,8 milhões de sacas.
Os baixos estoques de café aliviam o efeito do excesso de oferta de 2010/11 e justificam a firmeza do mercado, mesmo em um ano de produção acima do consumo. É bem provável que os estoques dos importadores no início do ciclo 2010/11 estejam bem baixos, inferiores aos 20,9 milhões de sacas da temporada 2009/10, indica Barabach. Ele coloca que ao final de 2009 projetava-se estoques dos importadores em torno de 22,6 milhões de sacas. Os estoques certificados das duas principais bolsas de café do mundo recuaram em média 37% entre o final do ano passado e o último mês de julho. Com base nessa queda dá para projetar estoques dos importadores atualmente ao redor de 14,2 milhões de sacas entre os importadores, estima o analista de SAFRAS.
A chegada da safra brasileira alivia um pouco esse aperto, mas os cafés suaves da América Central e Colômbia, fonte de maior receio no abastecimento, vêm somente a partir de outubro, com volume mais expressivo mais para o final do ano. Por isso, com estoques em queda depois de uma temporada 2009/10 de déficit na oferta, as cotações seguem sustentadas no mercado internacional de café, com o superávit previsto para 2010/11 servindo para atenuar essa recente baixa nos volumes estocados. A OIC alerta, e o analista Gil Barabach também comenta, que o produtor deve estar atento para quando o mercado reverter uma tendência de alta com a chegada de boas safras da Colômbia e América Central a partir de outubro.