Companhias do setor registram alta de 364,7% no valor de mercado nos últimos três anos
As empresas
brasileiras de agronegócios que possuem capital aberto na Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa) nunca registraram um valor de mercado tão alto. O número é
recorde histórico e apresenta um crescimento, nos últimos três anos, que supera
o já expressivo resultado registrado pelo valor de mercado de todas as empresas
listadas na Bolsa.
Enquanto o valor de mercado das 263 empresas listadas
na Bovespa registrou um crescimento de 335% no período analisado, as empresas de
agronegócios cresceram 364,76%, desconsiderando as empresas que abriram capital
em 2005, como a Cosan e a Renar.
Considerando estas empresas, o
crescimento registrado atinge os 518,97%. “Pode-se dizer que estas empresas
tiveram um crescimento nominal acima da referência para o conjunto das empresas
brasileiras”, afirma Einar Rivero, coordenador da América Latina da Economática,
responsável pelo estudo.
O conceito de agronegócio utilizado engloba
empresas que estão envolvidas de alguma forma com a agropecuária, como as que
produzem insumos e fertilizantes para o plantio e aquelas que processam e
distribuem produtos agrícolas. As ações consideradas na pesquisa foram da Sadia,
Perdigão, Fosfértil, Coteminas, Randon, Avipal, Adubos Trevo, Fertibras, Iguaçu
Café, Cacique, Granóleo, Manasa, JB Duarte, Minupar, Vigor, Usina Costa Pinto,
Café Brasília, Rasip Agro Pastoril e Kepler Weber.
Segundo a Economática,
o valor de mercado destas empresas era, no início de dezembro, de US$ 6,344
bilhões, ante US$ 1,365 bilhão em dezembro de 2002. Incluindo a Cosan e a Renar,
este valor atual sobe para US$ 8,808 bilhões. A participação destas empresas no
valor total registrou, contudo, ligeira expansão, de 1,28%, no fim de 2002, para
1,36%. “O agronegócio tem se mostrado um dos mais dinâmicos setores da economia
brasileira, e isto se reflete na bolsa”, diz Marcio Kawassaki, analista da área
de alimentos da Fator Corretora.
Kawassaki ressalta que o período
analisado se destaca pela abertura do mercado internacional às carnes
brasileiras. “Grande parte do crescimento do valor de mercado das empresas na
Bovespa está ligado à valorização das ações da Sadia e da Perdigão, os
principais exportadores brasileiros de carne suína e de frango”,
explica.
Segundo a Economática, perto de 90% da expansão registrada pelo
valor de mercado refere-se às ações da Sadia, Perdigão e Fosfértil. O analista
da Fator também ressalta o fato de os investidores terem descoberto, nos últimos
anos, as ações de segunda linha, nível em que se encontra a grande maioria das
ações de empresas do setor de agronegócio. “São ações tradicionalmente menos
procuradas, pouco líquidas, e que nos últimos anos se tornaram atrativas para os
investidores porque eles viram que estas empresas tinham uma expectativa de
crescimento maior que as de primeira linha, por causa de seu baixo custo e
potencial de crescimento expressivo”, diz.
Roger Oey, analista de
alimentos do Banco Banif, concorda que a alavanca para o crescimento do valor de
mercado está na expansão das exportações de carne. “O Brasil não só aumentou a
oferta de carne como também aumentou a sua participação no mercado
internacional, transformando-se no principal exportador de carne de frango e de
carne bovina do mundo, além de ser o exportador de carne suína de maior
crescimento”, disse. Para Oye, os investidores estão vendo nestas ações um bom
potencial de crescimento, o que deve garantir a continuidade de um bom
desempenho.
Há, porém, opinião dissonante. Para o analista de
agronegócios do Banco Pactual, José Miguel Vilela, empresas como a Sadia e a
Perdigão, que puxam o crescimento do setor, não podem ser consideradas de
agronegócios. Segundo ele, estas são muito mais empresas de consumo. “O
desempenho da Sadia e da Perdigão é insuficiente para explicar o agronegócio”,
acredita.
Na opinião de Vilela, embora o agronegócio tenha hoje uma
participação no PIB em torno de 30%, sua participação na Bolsa é de quase zero.
“Toda empresa vem para a Bolsa para se capitalizar e essas empresas, por um
motivo ou outro, ainda não descobriram a Bolsa para este fim.” Entre os motivos
estão a existência durante muito tempo de um crédito oficial garantido e de
empréstimos a juros mais baixos.