Mercado de Café – Comentário Semanal – de 9 a 13 de agosto de 2010
TOMANDO CAFÉ PARA VIGIAR O OURO
Rodrigo Costa*
O banco central americano (FED) manteve os juros baixos e disse, nesta semana, que a recuperação econômica está mais lenta do que o comitê havia antecipado. O banco central inglês também prevê um crescimento mais baixo e sinaliza que a economia pode precisar de mais estímulos.
As notícias nada animadoras provocaram queda das bolsas (em torno de 3%), a firmeza do dólar americano (alta de 4% sobre o euro) e uma nova onda de compra de títulos do governo americano, que estão pagando apenas 0.4892% por ano aos investidores que aplicam nos papéis com vencimento de 2 anos – a menor taxa da história.
Os índices das commodities também caíram, com destaque para a gasolina, o petróleo e o óleo de aquecimento, que perderam 7.99%, 6.32% e 6.72% respectivamente. Do lado dos ganhadores temos o açúcar com alta de 6.47%, algodão 3.66% e o café que subiu 4.84% em cinco dias.
A valorização da saca de café foi de US$ 10.71 na ICE, US$ 9.70 na BMF, e de apenas US$ 0.78 para o robusta na LIFFE.
Um misto de desconforto com as contínuas chuvas na Colômbia e América Central, e conversas (esquisitas) de frio no Brasil, ajudaram a rarear ainda mais o número de vendedores. O vencimento das opções de setembro na sexta-feira 13, e a proximidade do primeiro dia de notificação, dia 23 de agosto, foram outros fatores que contribuíram para o rally. O primeiro por causa do nervosismo que a alta de quinta-feira provocou naqueles que estavam vendidos em calls (opção de compra), e que causou a subida de 4% da volatilidade implícita das opções de outubro, e o segundo por causa do desequilíbrio entre a necessidade de compra dos torradores e a necessidade de venda dos produtores.
Poucos agentes do mercado acreditavam que a bolsa subiria (tanto) durante o começo da colheita no Brasil, e mais do que isto, pouquíssimos imaginavam que a alta conseguiria se manter por tanto tempo. Em função disto, enquanto as origens aproveitaram para vender, a indústria protelou o quanto pôde as suas compras, e agora há uma semana do começo da entrega (período de notificação) Nova Iorque negocia próximo das máximas de 12 anos e meio. O aumento de preço do torrado e moído ajudou a mudar o patamar de fixações dos torradores, não há dúvida, mas os fundos discricionários que entendem bem das regras do “jogo”, e vendo um mercado leve como o que temos visto, têm conseguido com mais facilidade aproveitar a oportunidade para buscar rentabilidades melhores para suas carteiras.
Ao mesmo tempo os exportadores e comerciantes de café que carregam estoques aproveitaram a posição comprada de 57 mil contratos dos fundos de índice, e de 45 mil lotes comprados dos outros fundos, que por terem que rolar suas posições do contrato de setembro para dezembro acabaram forçando o alargamento entre os preços dos dois vencimentos para US$ -2.10 centavos por libra – bela ajuda. O enfraquecimento do setembro/dezembro confunde os altistas, e chateia aqueles que apostavam em squeeze, algo ainda improvável como explicamos aqui há algumas semanas – em função das regras do contrato.
No mercado físico a atividade no Brasil foi muito boa, mas não se traduziu em muitas vendas FOB já que o comprador quer pagar próximo de US$ 30 centavos abaixo de NY e o vendedor pede entre US$ 23 e 25 centavos abaixo. As exportações brasileiras em julho somaram um total de 2,441,262 sacas, segundo a CECAFE, volume que acumulou alguns contêineres que não encontraram espaço em navios no mês de junho. Em agosto o volume deve ser maior ainda, sem falar do valor exportado que é alto por causa da subida dos preços.
Um leitor e contribuidor assíduo apontou para um erro que cometi no comentário da semana passada com relação aos estoques privados no Brasil, que a CONAB divulga. O número que citei, 14,656,397 sacas, é de 31 de março de 2009 e não de 2010 (que ainda não foi informado). Então aproveitando o equívoco vamos fazer um exercício para imaginar o que deverá ser o número oficial, que provavelmente saberemos no fim deste mês. Se considerarmos a exportação de abril de 2009 a março de 2010 de 30,203,362 sacas, e o consumo de 18.5 milhões do período, teremos um desaparecimento total de 48,203,362 sacas de 60 quilos. Como a própria CONAB diz que a produção de 2009/2010 foi de 39,74 milhões de sacas, imagina-se que o tamanho dos estoques a ser divulgado pela entidade, agora sim, em 31 de março último, será de 5,693,035 sacas – número que o mercado considera abaixo do real. Não é preciso falar que há sempre muita polêmica envolvendo os números oficiais, e veja porquê: nos meses de abril e m aio foram embarcadas 4,241,026 sacas de arábica (obrigatoriamente de safras remanescentes), e o consumo interno (normalizado) foi de 3 milhões de sacas, o que faria com que o estoque de passagem para a safra 10/11 fosse em teoria de 1,631,324 sacas negativo – e isto assumindo que a partir de junho 100% do que se embarcou de arábica, conillon e solúvel, e o que se consumiu no mercado interno foi safra nova.
Compreendem agora o motivo de tanto questionamento do mercado com relação as estatísticas oficiais?
O mercado futuro ainda pode tentar subir, ajudado pela última semana antes do primeiro dia de notificação em Nova Iorque, e que conforme o próprio COT demonstra há mais torradores que precisam comprar do que origens precisando vender. O cenário macroeconômico por outro lado pode começar a atrapalhar, a não ser que se acredite que mais dinheiro será investido em café, assim como em ouro, talvez para manter acordados os vigias dos cofres onde são guardados as barras amarelinhas. Grandes indústrias alimentícias estão revisando seus prognósticos de vendas para o resto do ano e para 2011, em função das economias estarem mais lentas.
O curto-prazo está vulnerável pelos fatores externos e pela posição comprada dos fundos.
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting