Viciados em Bolsa: eles sofrem online com a queda das ações

15/08/2010 – 23h58 – Atualizado em 15/08/2010 – 23h58

Serviço de home broker criou uma compulsão entre os brasileiros; psicólogos já estão preocupados

Abdo Filho |A Gazeta
afilho@redegazeta.com.br


O investidor Marcos Magalhães não dorme e nem toma café da manhã sem antes dar uma analisada no que está acontecendo com o mercado financeiro de todo o mundo. De noite, às 23 horas, ele olha a abertura dos mercados asiáticos – 12 horas na frente do Brasi. Já  na mesa do café, de posse das informações colhidas na cama, estuda o que fazer na abertura do mercado brasileiro – às 9h45.


Ele, assim como muitos brasileiros, podem estar viciados num serviço que veio para facilitar a vida dos investidores, mas que pode estar criando escravos da Bolsa de Valores. Especialistas dizem que muita gente está ficando compulsiva pelo home broker – sistema oferecido para visualizar online o sobe e desce das ações.


\”Minha esposa já brigou comigo, mas não adianta, não consigo ficar sem as informações do celular, são 24 horas, sete dias por semana. Hoje ela me pergunta como está o mercado na Ásia, se a resposta for positiva, ela me responde: ?pelo menos vamos dormir tranquilos?. Depois que casou comigo ela também passou a investir, assim como o meu filho, de sete anos, que também já tem dinheiro na Bolsa\”.


Mas não é só em casa que Marcos se mostra um aficionado, na sua mesa de trabalho são cinco monitores (você não leu errado, são cinco mesmo) ligados o tempo todo no mercado financeiro e em notícias que podem influenciar o humor do mercado. \”Parece maluco, mas é verdade. Um monitor fica na Bloomberg, outro no home broker, outro no twitter, um em agências de notícias e o quinto ligado no restante das informações. Ter informações frescas é o mais importante\”.


Necessidade
Apesar de reconhecer a compulsão, não se mostra preocupado. \”Não me preocupo com isso. Sinto necessidade de ver e gosto de ver. É algo que não me estressa\”, afirma.


Para os psicólogos, aí é que mora o perigo. Um dos sintomas do vício pelo home broker é justamente sentir alívio enquanto opera. \”Isso favorece a criação da dependência, as informações imediatas e os resultados imediatos proporcionados pelo home broker geram isso. Antes, o investidor precisava ligar para a mesa de operações para dar as ordens e saber das informações, não existia o vício\”, diz o psicólogo Arion Carlos Ribeiro.


O também psicólogo Felipe Pimentel compara o vício em investir na Bolsa ao vício em jogo. \”Muita gente trata a Bolsa não como um investimento, mas como um jogo. Acha que quando perde está faltando sorte e não tem limites para parar e para arriscar, com um agravante, ele se apresenta à sociedade com um investidor de Bolsa, se protege por trás dessa máscara\”. Segundo Pimentel não existe receita  para se tratar do problema, quem perceber a dependência deve procurar um profissional.


Profissional do mercado, o diretor da corretora Uniletra, Leonardo Bortolini, responsável por centenas de carteiras, dá a receita para fugir da dependência. \”Quem trabalha com isso precisa de tomar muito cuidado, se ficarmos o tempo todo analisando o mercado, não fazemos mais nada. Por isso, criei o hábito de olhar de hora em hora. É preciso ter muito equilíbrio, para não ficar 24 horas e o fim de semana tentando antecipar o que vai acontecer\”, ensina.


Livro ensina a realizar o sonho da casa própria
Quanto mais cedo poupar, mais fácil realizar o sonho da casa própria e de uma aposentadoria digna. Em \”O futuro é agora\”, que chega às livrarias esta semana, os economistas Fábio Giambiagi e Roberto Zentgraf colocam na ponta do lápis o custo de adiar os planos e mostram quanto é preciso aplicar todo mês para garantir o futuro. Eles garantem que não é um livro de autoajuda, mas para quem tem capacidade de poupar e, por algum motivo, adia a decisão.


PARA SEU FILHO ENTENDER


o que é home broker?
É um sistema oferecido pelas corretoras filiadas à Bolsa de Valores utilizado para conectar usuários ao pregão eletrônico no mercado de capitais via internet. A ferramenta permite que sejam enviadas ordens de compra e venda através do site da corretora. Esse dispositivo é utilizado como forma de facilitar a entrada de usuários domésticos em negociações, possibilitando maior participação de pessoas físicas no mercado. No Brasil, o home broker começou a ser utilizado em 1999. Hoje, estima-se que 200 mil pessoas tenham  home broker.

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