Comentário Semanal do Mercado de Café – LEVE E PERIGOSO Por Rodrigo Costa

Mercado de Café – Comentário Semanal – de 26 a 30 de julho de 2010

LEVE E PERIGOSO

Rodrigo Costa*


A maioria das empresas americanas que divulgaram os seus resultados do 2º trimestre do ano conseguiu bater a média das expectativas dos analistas, animando investidores. Os fundos mutuais, de pensão e que administram heranças aumentaram a participação das ações em suas carteiras para o maior nível em 15 meses, tendo agora 68% dos recursos em “papéis”.


No mês de julho tivemos uma impressionante recuperação das bolsas (em torno de +8% em geral), do euro (+6.65%), e dos índices de commodities (+6%), com novos recursos sendo alocados para ativos de risco. Curiosamente também vimos os juros de alguns títulos americanos negociar aos níveis mais baixos da história – o que demonstra uma mistura de sentimento já que os últimos são usados como estratégia de defesa, ou seja de aversão ao risco.


O medo da moeda européia ser esfacelada desapareceu durante o mês, com as promessas dos países da União Européia em cortar gastos, aumentar receitas, e finalmente com o resultado dos testes nos bancos da região. Nesta última semana um índice que monitora a confiança econômica de empresários e consumidores na Europa atingiu níveis mais altos, que não se via há 2 anos, ajudado principalmente pelo desemprego menor em economias como a Alemã, que diga-se de passagem se beneficiou de um Euro mais fraco.


As commodities nos últimos 5 dias tiveram uma performance bastante positiva, mesmo com as bolsas ficando de lado. Trigo foi o que mais subiu, 10.94%, seguido por gás natural com 7.49%, alumínio 7.40%, açúcar 7.17%, café 6.20%, e milho com 5.79% de ganho. Bastante para um período curto! Com isso os índices das commodities estão nos maiores níveis desde o começo de maio de 2010, claramente demonstrando nova alocação de dinheiro nos mercados. É verdade que há também razões fundamentais para algumas: os grãos por causa da seca na Europa; o gás natural em função do verão mais quente em mais de 100 anos nos Estados Unidos (o recurso é bastante utilizado para geração de energia); o açúcar por causa dos atrasos nos embarques no Brasil (tem uma fila enorme de navios aguardando para atracar no porto de Santos); e o café em função do aperto.


Aperto? Aperto de quê?


De dinheiro certamente! Mas os altistas estão certos quando apontam para o aperto da qualidade, escassa há algum tempo, e que traz menos vendas para Nova Iorque. Há também o “aperto” dos torradores, que há quase dois meses esperam o mercado voltar a cair. Sem falar dos que achavam que o café faria nova mínima no ano com uma pressão vendedora dos produtores brasileiros, dada a safra grande no país.


Mas o aperto maior neste momento está no fluxo de caixa, já que os exportadores, dealers não só têm que pagar R$ 40 ou R$ 50 a mais por cada saca de café que compram, mas também tiveram/têm que depositar margens nas bolsas – e os dois tipos de margem subiram bem. A margem inicial, ou depósito de garantia aumentou quase 100% desde meados de junho – hoje está em US$ 3,450.00 por contrato. E a mais pesada, a margem de variação, aumentou 30% – que é o montante que o mercado subiu – US$ 15,000.00 por contrato para quem estava vendido a US$ 136.00 centavos por exemplo. O problema é que quase ninguém imaginava esta subida no começo da safra do Brasil, e quando o “C” rompeu US$ 150.00 centavos, o volume de vendas já tinha sido bastante grande. Depois disto aumentou um pouco mais até os preços baterem US$ 160.00 centavos, e de lá para cá o volume de vendas diminuiu.


Para ilustrar é só olharmos para o relatório do COT, que mostra a participação dos agentes. No dia 8 de junho os comerciais estavam vendidos em 80,965 contratos, ou 22.95 milhões de sacas e o mercado tinha fechado a US$ 135.10 centavos. Duas semanas mais tarde, no dia 22 de junho, a posição bruta vendida dos comerciais foi para 107,966 lotes, ou 30.61 milhões de sacas, com Nova Iorque atingindo US 165.45 mas fechando no dia a US$ 160.75 centavos. De lá até a última terça-feira, 27 de julho, a posição (vendida) destes participantes aumentou outras 2.57 milhões de sacas, e o mercado no período fez a então máxima de US$ 176.50 centavos, e negociou próximo de US$ 170.00 centavos por algumas vezes. Ou seja, apesar de novas altas não tivemos muito mais vendas.


Parte do motivo é que a colheita no Brasil (do arábica) apenas recentemente passou dos 50%, mas não há dúvida que há uma limitação, se não de obtenção de recursos, ao menos do departamento de risco.


De qualquer forma, por conta de novas entradas de recursos, menor poder de venda das origens, recuperação do Euro, e proximidade do primeiro dia de notificação do contrato de setembro, o café nesta semana teve ganhos de US$ 13.62 por saca na ICE. Na BM&F o ganho foi o mesmo, US$ 13.60 por saca, e na LIFFE ficou em US$ 4.80 por saca.


Coincidentemente o mercado rompeu a alta de US$ 176.50 centavos em uma quinta-feira de novo, e no último dia do mês teve sequência de compra de fundos, fechando no maior nível desde 24 de junho de 1998 (considerando o mês presente – no caso agora o contrato de setembro). A volatilidade implícita das opções de setembro, que vencem sexta-feira 13 de agosto próximo, subiu 10% em uma semana, demonstrando que houve uma corrida para compra de mais proteções.


A indústria ainda não repassou o aumento de preço para os consumidores, que estão consumindo mais cervejas ou refrigerantes neste verão quentíssimo que estamos tendo no hemisfério Norte. Imagina aumentar o preço em um período baixo de consumo, que é o sazonal que estamos. Porém, a manutenção do preço alto do terminal, aliado com diferenciais praticamente inalterados deixa pouca alternativa para os torrefadores. E o pior! Em época de riscos de deflação por causa de altas taxas de desempregos, redução de gastos e de estímulos dos governos que precisam equilibrar seus orçamentos, capacidade ociosa elevada das indústrias dos países ricos, e uma confiança dos consumidores abalada, a dose de café diária deve sofrer um aumento.


Se os altistas que dizem que Nova Iorque se equilibrará acima de US$ 200.00 centavos (para que estimule maior produção mundial) estiverem certos, será que não haverá mais gente consumindo café com uma maior mistura de conillon/robusta, forçando uma diminuição da utilização do arábica? O robusta está nada menos do que US$ 94 centavos por libra mais barato do que seu primo rico, o contrato “C”!!


Não custa lembrar que o aumento do consumo no mundo tem sido grande em novos-bebedores de café, leia-se nos países emergentes, ou seja, embora sempre se falou da demanda inelástica no café, deve haver um ponto que se atingido causará no mínimo uma menor taxa de crescimento do consumo mundial (ainda não é o caso).


O mercado está muito leve e portanto perigoso. Uma média de 6 mil contratos negociados isoladamente (excluindo spreads e AA’s) no dia, consegue levar os preços para cima com facilidade. O risco acaba se tornando não apenas para quem está vendido, mas também para as novas compras que estão sendo feitas, pois em baixa liquidez o movimento pode ser brusco para qualquer um dos lados. Voltamos a alertar para a necessidade de gerenciar o fluxo de caixa, e tentar o máximo que for possível aproveitar o momento para vender café.


Os próximos objetivos de uma alta são os US$ 184.80 e então US$ 190 centavos por libra, e para baixo o risco é romper US$ 171.00 e principalmente US$ 163.80 centavos. Os extremos parecem longe, mas não para este mercado.


Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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