de 19 a 23 de julho de 2010
OS ALTISTAS DAS ALTAS E OS BAIXISTAS DAS BAIXAS
Rodrigo Costa*
Dos 91 bancos europeus submetidos ao teste de estresse, apenas 7 foram reprovados, ainda que muitos tenham “passado”de raspão. Um banco alemão, um grego e sete espanhóis ficaram abaixo dos valores requeridos para capitais, mas os críticos dizem que o teste é furado pois desconsidera a marcação a mercado dos títulos das dívidas soberanas que estão nos livros com intenção de serem retidos até a maturação – como se não houvesse risco de default de ninguém, nem mesmo dos PIIGS.
As bolsas de ações começaram a semana pressionadas, mas reverteram as perdas e fecharam nas máximas que vimos na semana anterior. O ímpeto positivo veio dos números de produção industrial melhores do que esperados na Europa, vendas de imóveis usados não tão negativos nos Estados Unidos, e comentários animadores por parte das empresas americanas que divulgaram os seus resultados do 2º trimestre do ano.
Os índices das commodities também subiram, com o CRB tendo o melhor fechamento desde 13 de maio último, sendo que o café em Nova Iorque foi o ativo que mais subiu até agora no ano, com uma valorização de 22.10% – impressionante como a estória mudou rápido, não?!
O contrato “C” teve uma volatilidade forte nos últimos cinco dias, caindo fortemente e testando o ponto de suporte do recente intervalo de US$ 155.00 a US$ 170.00 centavos, e na sexta-feira subindo outros quase 3% pelo segundo dia consecutivo. A movimentação se dá com um volume relativamente pequeno, e mostra que está todo mundo com medo de uma mudança de patamares de preços. Londres fechou um pouco mais fraco na semana, mas recuperou bem das mínimas sofridas, enquanto que São Paulo teve uma alta de US$ 0.50 por saca. Vale notar que o spread na BM&F fechou mais uma semana com o setembro mais alto do que o dezembro, pelos mesmos motivos que mencionamos em nosso último comentário.
O mercado físico teve um volume negociado mais fraco com a oscilação da bolsa. No Brasil os produtores têm sido resistentes em vender seus cafés abaixo de R$ 300.00 a saca, o que tem funcionado bem. Nas outras origens também não se vê muita atividade, e os motivos são o interesse reduzido dos torradores/dealers em pagar os preços que os exportadores/produtores pedem para safra nova, e a pouca disponibilidade da safra corrente. A situação da indústria internacional é de um certo conforto para as necessidades de Brasil e Vietnã, enquanto que a cobertura de café suave continua perto de inexistente – mas para quem aguentou até agora e já viu diferenciais bem mais altos, dá para manter a estratégia.
A queda de Nova Iorque na primeira metade da semana ajudou parcialmente alguns torradores que aproveitaram para comprar o flat-price abaixo de US$ 160.00 centavos/libra. Já os baixistas se decepcionaram com a falta de sequência de venda dos fundos – que permanecem comprados os mesmos 31 mil lotes (líquido) da semana anterior. Com exatos 28 dias para o primeiro dia de notificação do contrato de setembro 2010, a indústria vê a necessidade de fazer algo, mas só o estritamente necessário, isto porquê a que a queda do futuro nunca aconteceu como acreditavam. Os especuladores que tentam acertar o topo do movimento estão inquietos, e os que estão vendidos em calls (opções de compra) tem fresco na memória o susto que passaram quando expiraram as opções de julho, onde mais de 10 mil lotes de opções ficaram dentro do dinheiro há dois dias do vencimento. Talvez isto explique o nervosismo do mercado, e torne difícil a leitura do curto-prazo. O coro dos altistas tem ganhado mais corpo, e como é de costume muitos ficam altistas na alta do mercado, da mesma forma que ficam baixistas na baixa, o que normalmente provoca uma reversão.
Não dá para discutir que o fechamento da semana, com a recuperação forte, foi positivo, e isto deve fazer com que o mercado teste a resistência de US$ 170.00 centavos em Nova Iorque. Por outro lado uma nova quebra do nível de US$ 160.00 centavos pode trazer liquidações, mas só um fechamento abaixo de US$ 155.00 seria de fato negativo. Curioso notar que tanto a volatilidade implícita quanto a estrutura enfraqueceram, o que não dá tanta firmeza para que vejamos novas altas.
Aos participantes do mercado resta aproveitar as oportunidades que a as altas tem dado para negociar diferenciais mais baratos. Não custa refrescar a memória de que estamos no pico da entressafra dos países produtores da América Central, que coincide com o período mais baixo de consumo de café nos principais países consumidores, e que o risco de geada já quase não existe. Novas altas encontrarão novas vendas de origens, e os fundos precisam de um incremento do número de contratos em aberto para acomodarem uma posição comprada maior.
Em resumo, as origens querem vender o mercado próximo de US$ 170.00 centavos e os torradores estão com interesse de compra perto de US$ 155.00 centavos. Que os fundos consigam ajudar ambos!
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting