A “Geada Negra de 1975”, responsavel pela erradicação total da cafeicultura paranaense naquele ano e com conseqüências profundas nos campos social, politico e econômico do Norte do Paraná ainda hoje.
A Geada Negra de 1975
Por Roberto Bondarik*
Em
18 de Julho de 1975, há trinta e cinco anos, ocorria a Geada Negra, que
erradicou a cafeicultura no Estado do Paraná. Naquela ocasião muitos não tiveram
discernimento da amplitude dos problemas causados e das conseqüências que seriam
geradas por esta geada, talvez ainda hoje muitos ainda não tenham essa
compreensão.
Revistas e jornais daqueles dias mostram o frio europeu que atingiu o sul do
Brasil. Em Curitiba ainda se relembra e comemora a neve daquela ocasião. No
norte, onde o café era a principal atividade econômica, o frio intenso assumiu
ares de tragédia, não sobrou espaço lembranças alegres. Haviam ocorrido geadas
fortes em 1963, 1964 e 1966, prenúncios da maior de todas. No dia seguinte, a
Folha afirmava que os cafeicultores estavam de luto, mas os órfãos, a história
mostra isso, eram a população do Norte, em especial os colonos, os pequenos
proprietários, os comerciantes, as cidades, todos aqueles que se relacionavam
direta ou indiretamente com a cafeicultura. Foram todos atingidos em seu modo e
no seu estilo de vida, tivemos de reaprender a viver.
Com as lavouras destruídas era preciso recuperar os prejuízos. As terras eram
caras, precisavam continuar lucrativas, plantou-se soja, trigo e milho,
principalmente. A mão-de-obra necessária era a mínima possível para as novas
atividades. As colônias das fazendas começaram a se desfazer, os não
proprietários passaram a se fixar nas cidades da região, muitos viraram
bóias-frias. Londrina era sempre a melhor opção, surgiram bairros imensos,
grandes conjuntos habitacionais como o “Cincão”. Outros foram para Curitiba e
São Paulo. Próximo a Campinas, existem bairros inteiros habitados por gente que
se orgulha e chora de saudade, por ser do Paraná. Para aqueles que já eram
proprietários, optaram em vender o que possuíam e comprar novas terras em
regiões livres do frio, assim hordas de paranaenses rumaram a Mato Grosso,
Rondônia e Acre. Rapidamente Rondônia virou um Estado. Mato Grosso virou dois,
no do norte estão muitos dos nossos antigos vizinhos.
Dizem que foi o maior fluxo migratório em tempos de paz, o êxodo rural
norte-paranaense retirou do Estado quase 2,5 milhões de pessoas na década de
setenta e 1,6 milhão na década de 1980, segundo dados do IBGE. Não é surpresa,
cidades da região perderem lugar no ranking das mais populosas da região
Sul.
Talvez tenha sido a Geada Negra de 1975, o maior golpe da história na
economia e na sociedade do Paraná, um acontecimento que precisa ser estudado,
explicadas as suas conseqüências. Buscamos, tateando, ainda hoje uma nova
identidade econômica. Pessoalmente acredito que a solução de nossa economia e a
construção de nossa riqueza se encontra na terra, em novas culturas e
atividades, com a industrialização derivando, também, dessas atividades.
Prof. Roberto Bondarik de Cornélio Procópio, Paraná,
Brazil, que é Professor de História e pesquisador da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Campus Cornélio Procópio (bondarik@utfpr.edu.br)
Texto de Roberto Bondarik publicado na FOLHA DE LONDRINA em 2005 e
republicado no blog http://robertobondarik.blogspot.com/2008/07/geada-negra-de-1975-erradicao-da.html
Comentário
Fábio Garcia Ribeiro
fabgarib@hotmail.com
Prezado Professor. Lembro-me muito bem daquela manhã. Tinha 10 anos e passava
as férias de julho numa das fazendas da família em Siqueira Campos, no Norte
Pioneiro. Dormimos os quator primos de 7, 8 e 10 anos de idade. Todos juntos
numa mesma cama para nos aquecer. A tarde voltei para Fartura (SP), onde morava,
no fuscão “Fafá” de meu primo, então estudante de Agronomia na Esalq em
Piracicaba. Por onde passamos, só viamos os cafezais negros, como se houvesse
atirado fogo.
Só sobraram as cinzas: Siqueira Campos, Quatiguá, Joaquim
Távora e Carlópolis. Qual não foi a nossa surpresa, ao chegar na Fazenda Passo
dos Leite, também de meu pai e tios, e verificarmos que apenas os cafeeiros nas
baixadas estavam sapecados. O restante das árvores estavam intactas. Tempo
depois, viemos a saber que o nosso cafezal não foi afetado devido a proximidade
com a Represa de Xavantes (na época, da CESP), que criou um micro clima,
protegendo a lavoura. Grande abraço.