Apostila de Cafeicultura Orgânica – Sérgio Pedini

Esta apostila é parte integrante do curso de Cafeicultura Orgânica da ESACMA – Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado, ministrado por Sérgio Pedini, engenheiro agrônomo, formado pela UFLA, com mestrado em Administração Rural, consultor da FA

Por: ESACMA - Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado - Machado/ MG / 2000
 

Esta apostila é parte integrante do curso de Cafeicultura Orgânica da ESACMA – Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado, ministrado por Sérgio Pedini, engenheiro agrônomo, formado pela UFLA, com mestrado em Administração Rural, consultor da FADEPE, do SAPUCAÍ e da AAO – Associação de Agricultura Orgânica, professor da ESACMA e secretário executivo da ACOB – Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil e Ivan Franco Caixeta, engenheiro agrônomo, formado pela UFLA, com mestrado em Cafeicultura pela UFLA, professor da ESACMA e presidente da ACOB. Todos os contatos estão anexados à apostila.

Esta publicação contem capítulos gerais sobre Agricultura Orgânicos e outros específicos sobre Cafeicultura Orgânica.
 

Introdução

 O agricultor “orgânico” é orgânico não só porque utiliza intensamente matéria orgânica, animal e vegetal, mas principalmente porque sua produção deve ser conduzida de modo semelhante à vida de um organismo (um sistema articulado, inter-relacionado e complexo) que tem ritmos e limites naturais, que devem ser respeitados pelo homem. 

Diversas são as denominações dos sistemas de produção agrícola que tem por objetivo produzir alimentos porém perturbando o menos possível o equilíbrio do meio ambiente. E para tal todos incorporam como princípios básicos a não utilização da maior parte dos chamados produtos agroquímicos elaborados industrialmente, sejam os fertilizantes na forma solúvel, sejam os agrotóxicos, propriamente ditos denominados eufemisticamente de “defensivos agrícolas” e a economia de energia. Diferem, entretanto, entre si em aspectos específicos de alguns itens como a organização da produção, relações, solo, planta, animais, homem, filosofia. 

A linha Biodinâmica destaca-se das demais basicamente por levar em consideração a influência dos astros sobre o comportamento das plantas e utilizar preparados “homeopáticos” feitos a partir da diluição de um conjunto de substância, entre elas o esterco de vaca, cascas de carvalho, etc., cuja finalidade seria despertar energias do solo e planta. Este tipo de agricultura é ligado ao movimento filosófico de Antroposofia. 

As denominações, orgânica e biológica podem ser entendidas da mesma forma. A orgânica entretanto pode ser entendida de duas formas, sendo que uma a define em função da utilização de matéria orgânica como o principal nutriente e outra que além dessa característica incorpora a necessidade da produção agrícola estar articulada organicamente no estabelecimento agrícola., interrelacionado o conjunto das atividades desenvolvidas no estabelecimento. 

A denominação socialmente apropriada pode ou não ser incorporada as demais denominações principalmente quando leva em consideração à situação cultural, social e econômica dos atores da produção.

A agricultura ecológica parece ser a idéia mais abrangente, uma vez que coloca a produção agrícola no contexto do meio ambiente onde se desenvolve e que é composto pela vegetação e fauna nativas, solo, topografia, fontes de água, distribuição das chuvas, temperaturas durante o ano e as interelações desses fatores entre si e com o homem.

 

Quadro Comparativo entre as duas formas de produção
 

 

Agricultura Convencional

Agricultura Orgânica

Objetivos Gerais Atender, de maneira geral, a interesses econômicos de curto prazo. Atender a interesses econômicos, mas, sobretudo, a interesses ecológicos e sociais autossustentados
Estrutura do Sistema Monocultura Sistema diversificado
Maneira de Encarar o Solo Como um substrato físico, um suporte da planta Como um ser vivo (meio eminentemente biológico)
Recursos Genéticos

Redução da variabilidade;

Susceptibilidade ao meio;
Espécies transgênicas

Adaptação ambiental;
Resistência ao meio.

Adubação

Fertilizantes altamente solúveis;

Adubação desiquilibrante.

Reciclagem;

Rochas moídas;
Matéria orgânica.

Como lidar com pragas e doenças Agrotóxicos

Nutrição equilibrada e adequada;

Diversificação e consorciação;
Controles alternativos.

Entradas do Sistema

Alto capital e energia;

Pouco trabalho.

Pouco capital e energia;

Mais trabalho.

Saídas do Sistema e Conseqüências

Alimentos desbalanceados e contaminados;
Baixa valorização do produto;
Agressão ambiental.

Alimentos de alto valor biológico;

Equilíbrio ecológico;

Alta valorização do produto;
Sustentabilidade do sistema.

Optou-se nesta publicação pela denominação de agricultura orgânica por ser atualmente a mais divulgada e pelo fato de historicamente opor-se à agricultura convencional, química, e à sua nova versão “light” – agricultura sustentável – já citada, que tem servido de abrigo à diversas tendências surgidas mais recentemente no refluxo do esgotamento do modelo de produção agrícola mas ainda fundamentada nos princípios da agricultura química e demais preceitos da chamada “Revolução Verde”.

 

Composto orgânico

Compostagem nada mais é, que a reorganização de materiais orgânicos e inorgânicos disponíveis na propriedade ou região, transformando materiais crus (folhas, mato, resto de verdura e de cozinha, resíduos de beneficiamento, esterco, cama de animais etc.) em composto curado. Esta decomposição acontece pela ação de microorganismos e pela fauna do solo.

A compostagem tem como objetivo adiantar o processo de decomposição que aconteceria no solo, fora do solo. Diminui problemas com relação a patógenos e sementes de mato que poderiam estar sendo transmitidos pela matéria orgânica não decomposta. Ao contrário, apresenta uma altíssima quantidade de fungos, bactérias entre outros microorganismos benéficos.

Juntamente com substâncias que apresentam efeitos positivos sobre a resistência das plantas a pragas e doenças. Contém 10 a 13 vezes mais nutrientes, se a matéria prima for variada, do que os estercos puros. Embora esses contenham maior quantidade de macro nutrientes. Estimula a vida do solo, isto se for usada no momento em que a temperatura começa a baixar, ou seja não totalmente decomposta.

Para que o processo de compostagem se realize com eficiência, devemos suprir as necessidades do microorganismos que são os operários deste processo. Isto significa uma relação carboidrato proteína – relação C/N da mistura de 25 a 30/1. Materiais ricos em proteínas (restos de cozinha, esterco, grama recém cortada, cama de animais, sementes entre outros) possuem uma relação C/N baixa, e se combinam bem com materiais ricos em energia – carboidratos (folhas, palhas secas, papel, serragem, normalmente são partes secas, duras e rijas) de relação C/N alta.

Tabela: Relação C/N (carbono/nitrogênio) de alguns materiais orgânicos:
 

Material Relação C/N
Restos de comida 15-1
Lama de esgoto

6-1

Lama de esgoto digerida 6-1
Madeira 700-1
Serragem 500-1
Papel 170-1
Grama cortada 19-1
Folhas 80-1 a 40-1
Restos de frutas 35-1
Esterco decomposto 20-1
Resíduos de cana-de-açúcar 50-1
Talos de milho 60-1
Palha 80-1
Alfafa 13 -1
Húmus 10-1
Trevo verde 16-1

Feno de leguminosas

25-1
Palha de aveia 80-1

Como conseguir esta relação 25 a 30/1? Suponhamos que você tenha disponível em sua casa, para fazer um composto restos de comida e grama recém cortada cuja as relações C/N são respectivamente 15/1 e 19/1. Os dois materiais juntos na proporção 1:1, daria uma relação C/N igual a 17/1 (basta somente somar 15 + 19 carbonosa divididos por dois nitrogênios). Para que o composto aconteça com eficiência, sem perdas de nutrientes e maior rapidez a relação deveria ser maior (25 a 30/1). E isto só irá acontecer se colocar outra matéria rica em carbono. Caso contrário a relação C/N circulará entre:

·      1:0 só grama recém cortada, relação C/N 19:1

·      1:1 uma parte de cada, relação C/N 17:1

·      0:1 só resto de comida, relação C/N 15:1 

Então colocamos uma parte de folhas secas de relação C/N igual 40/1 (veja a tabela), naquela mistura de 1:1 (17/1). E obtivemos uma mistura de relação 28,5/1. Ou seja, uma proporção de 1:1:1 em peso. Sendo assim tem um volume bem maior de folhas secas. A tabela de relação C/N ajuda a nortear as proporções, mas você no fazer é que descobrirá melhor caminho, mesmo porque as relações C/N variam e o que está na tabela pode não ser verdade para o seu caso. O correto seria fazer análise do seu material. Mas caso não puder, vá observando a temperatura. Você montou a pilha e a temperatura não subiu dentro de 24 horas, desmanche a pilha e refaça, utilizando um pouco mais de material rico em nitrogênio. É sempre bom inocular o composto com microorganismos favoráveis. E isto pode ser feito sem haver a necessidade de comprar qualquer inoculante, basta tirar uma porção de solo orgânico. Esta porção será polvilhada por cima das camadas durante a confecção da pilha. Depois de feita a primeira pilha, as próximas, receberam ao invés da terra uma porção de composto ( inoculante).

A confecção da pilha se dá em camadas, a fim de facilitar a visualização das proporções. Normalmente três partes de carbono para uma de nitrogênio. Mas se o material já foi separado previamente na proporção certa, não é necessário haver camadas, é até melhor pois assim os componentes ficam mais próximos o que facilita o trabalho dos microorganismos. 

Quando feita em camadas, coloca-se primeiro o material palhoso e sobre ele o rico em nitrogênio, se houver necessidade de água, irrigue. Vá fazendo até o monte atingir dimensões máximas de 2 metros de largura por 1,5 de altura por comprimento variável. Importante num composto além da relação C/N é a umidade e o ar. e por isto que a pilha não pode ser muito larga. Alguns materiais frescos não precisam de muita água por exemplo grama recém cortada. Outros secos necessitam, e isso deve ser feito no momento em que se monta a pilha, camada por camada, como foi dito à cima. A pilha não deve ficar encharcada pois os microorganismos necessitam de oxigênio. Depois de montada a pilha deve-se protegê-la de chuva, utilizando para isto palha seca, saco plástico etc. sobre o monte. Se houver condições para fazê-lo em local coberto, plano e com água próxima, melhor. 

Os microorganismos necessitam de oxigênio, se houver encharcamento ou demora para revirar a pilha, o processo de digestão pode ser atrasado. Mesmo mantendo a umidade ideal, o oxigênio é consumido em aproximadamente 3 a 4 dias. E a única maneira de supri-lo é revirando a pilha. O revolvimento do composto deve acontecer com maior freqüência possível, sempre se preocupando em cortar bem o material (o enxadão é uma ferramenta que se presta a este serviço), colocando a parte externa para dentro e a parte de dentro para fora.

 

Adubação Verde

Não podemos limitar o fornecimento de matéria orgânica estritamente à criação animal. a produção de biomassa de origem vegetal tem possibilidades ainda inesgotadas por nós. 

A matéria orgânica de origem vegetal poderá vir pela adubação verde em consórcio e rotação de culturas, delimitação de divisas, cercas-vivas, quebra-ventos, faixas de contorno, beiras de estrada, restos de cultura e capineiras. Podendo atender diferentes fins dentro da propriedade, por ex. alimentação animal , cama de animais ,cobertura morta e composto. 

A utilização de todas estas formas irá depender principalmente da intensidade do uso da terra. A intensidade de uso é maior quanto menor é a área e aí a pressão pode vir tanto por parte do mercado como da família, que depende daquela área para subsistência. Sendo a terra utilizada intensivamente maior será a dependência do solo e do agricultor com relação à insumos externos a horta. Isto porque na horta não sobra tempo e espaço para uma adubação verde. a não ser que esta possa trazer renda. Desta forma pode ser mais viável no programa de rotação, consórcios de culturas comerciais e adubos verdes. 

Um consórcio que vem dando muito certo para o verão, é o plantio de milho, mucuna e abóbora. Semeando a mucuna um a dois meses depois do milho, esta leguminosa irá fixar nitrogênio do ar que fertilizará a terra quando for incorporada junto com a pagada do milho. Nesse sistema colhe-se abóbora, milho verde ou maduro à mão, já que a mecanização de colheita fica dificultada pela mucuna. Outros consórcios como trigo morisco com plantas da família das brássicas ( couve, brócoli, couve-manteiga, couve-flor entre outras), no verão. E no inverno com a mesma família a ervilhaca, aveia preta entre outras.

O consórcio que é o cultivo simultâneo, ou seja no tempo e espaço, deve ser melhor estudado pois quase sempre causa competição entre as plantas consorciadas. Principalmente com os adubos verdes de verão que são muito agressivos. mas depois do período de mato competição (período em que a planta sente muito a competição alterando sua produção) não há mais necessidade do controle do mato. Sendo então, este o momento de quebramos a monotonia da monocultura e sentirmos efeitos positivos do mato. 

Uma forma alternativa aos consórcios, causando menor competição, é o cultivo em faixas. Em uma faixa cultiva-se o adubo verde, permanecendo o restante da área ocupada pelas culturas de interesse econômico. As faixas de adubos verdes podem ser compostas por mais de uma espécie, e se forem anuais ou bianuais, você pode caminhar com elas dentro da horta. Ou então, faixas de leguminosas perenes que serão mantidas fixas utilizando-se as podas na alimentação animal, cobertura do solo ou economia de fontes de nitrogênio. 

Como exemplo desta opção temos exemplo da horticultura biointensiva (HBI) do IIRR (Instituto Internacional de Reconstrução Rural) nas Filipinas. Lá eles plantam faixas de leguminosas de crescimento rápido a cada 4 a 5 metros, alternadas com faixas de canteiros lado a lado. Estas plantas começam a ser cortadas com um ano, a 50 cm a cima do nível do solo e 3 a 4 vezes por ano. E o mais interessante é que eles utilizam partes das podas para fazerem biofertilizante líquido. Colocam 30 a 50 kg de podas mais um pouco de esterco num saco, que é colocado dentro de um tambor de água de 200 litros. Três semanas depois já pode ser usado, diluindo uma parte da solução para quatro de água e aplicado no solo ao redor das plantas, com a freqüência de 10 em 10 dias.  

Estas mesmas faixas é que podem ainda ocupar beiras de estradas, linhas de contorno, cercas-vivas e quebra-ventos. Mas para cada utilização procure adotar a espécie de planta mais adequada. Se caso houver mais espaço na propriedade podemos lançar mão da adubação verde solteira ou em coquetel (consórcio de adubos verdes) . Que são altamente capacitadas na regeneração do solo. Por ex., segundo Veiga et al. (1982) a crotalária juncea, produziu em 61,7 ton. de matéria verde, 244 kg de nitrogênio , 208 kg de potássio , 156 kg de cálcio e 37 kg de magnésio. Esta crotalária ao 120 de idade tinha 2 metros e meio de altura e raízes a uma profundidade média de 4 metros. Apenas sua parte aérea, incorporou uma quantidade equivalente a 1,2 ton. de sulfato de amônia e 350 kg de cloreto de potássio. 

O coquetel para adubação verde foi desenvolvida pelo Instituto Biodinâmico em Botucatu – São Paulo. E a técnica consiste no consórcio de espécie de adubos verdes, complementares com relação ao hábito de crescimento, exploração de diferentes extratos, profundidade de raízes, demanda nutricional etc. São utilizadas 12 espécies, no mínimo. 

Estão relacionados a seguir as espécie e quantidades recomendadas.

Tabela: Discriminação das espécies e sementes indicadas para o coquetel de adubos verdes 

Indispensáveis:

Espécie Nome Quilos de sementes por hectare
Zea mays Milho (porte alto) 24
Stizolobium aterrum Mucuna preta 16
Canavalia brasiliensis Feijão de porco 16
Dolichos lab-lab Lab lab 12
Cajanus cajan Guandu 10
Heleanthus annus Girassol 8
Crotalaria juncea Crotalaria 5
Ricinus communis Mamona 5
Vigna inguiculata Feijão catador 4
  Painço 4
Leucena leucena Leucena 2
Tephrosia candida Tefrósia 1

Opcionais:

Espécie Nome Quilos de sementes por hectare
Canavalia obtusifolha Feijão bravo 8
Crotalaria ochoroleuca Crotalária africana 5
Calopogonio mucunoides Calopogônio 4
Sorgo vulgaris Sorgo forrgaeiro 4
Crotalaria anageroides Anageroides 3
Fennisetum typhoideum Milheto 2
Fogopirum esculentum Trigo sarraceno 2
Cucurbita moschata Abóbora 5

Fonte: Instituto Biodinâmico, Botucatu.

 

Supermagro

O biofertilizante (Supermagro) é um adubo orgânico líquido, proveniente de um processo de decomposição da matéria orgânica (animal ou vegetal) através de fermentação anaeróbica (fermentação bacteriana sem a presença de oxigênio),.em meio líquido. O resultado da fermentação é um resíduo líquido, utilizado como adubo foliar, defensivo natural, chamado biofertilizante (Supermagro). E um resíduo sólido, utilizado como adubo orgânico. 

O biofertilizante (Supermagro) é utilizado como adubo foliar, complementar a adubação orgânica do solo, fornecendo micronutrientes (os micronutrientes são sais minerais essenciais ao metabolismo, crescimento e produção das plantas, porém exigidos em pequenas quantidades). O biofertilizante (Supermagro) também atua como defensivo natural por ser meio de crescimento de bactérias benéficas, principalmente Bacillus subtilis, que inibe o crescimento de fungos e bactérias causadores de doenças nas plantas, além de aumentar a resistência contra insetos e ácaros. 

Este biofertilizante (Supermagro) é composto de esterco, água, sais minerais (micronutrientes), outros resíduos animais, melaço e leite. Esta composição é tão variada e rica para que o biofertilizante (Supermagro) sofra um completo processo de fermentação e seja nutritivo para as plantas.
 

Ingredientes:
Tabela 1 (ingredientes básicos):  
 

Ingredientes Unidade Quant.
Esterco fresco de vaca kg 40
Água litro 140
Leite litro 9
Melaço litro 9

Tabela 2 (sais minerais):

Ordem Sais Minerais  Unidade Quant.
1 Sulfato de Zinco* Kg 3,0
2 Sulfato de Magnésio Kg  

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