Chineses miram lavouras de café e açúcar em Minas

10/07/2010 06:07:00 – UAI

Marta Vieira
Estado de Minas


Da disputa agressiva do mercado brasileiro de roupas, calçados e quinquilharias a investimentos bilionários, a nova tática da invasão chinesa se sofisticou e poderá surpreender, passando, de novo, por setores importantes da economia em Minas Gerais. Depois da mineração de ferro, indústria próspera no estado, o agronegócio, em especial o bom desempenho das lavouras de café do Sul e do açúcar no Triângulo, entraram na mira dos investidores de olhos puxados, símbolo de um país com produção de bens e serviços estimada em US$ 4,81 trilhões este ano e que tem de alimentar 1,4 bilhão de habitantes.


A extração mineral e a produção de alimentos passaram a concentrar as consultas de empresas de capital chinês à Câmara de Comércio Brasil-China, que aumentaram 50% no último ano, informa Daniel Manucci, diretor regional da instituição em Minas. Executivos chineses consultam, toda semana, o órgão e os escritórios regionais, ao mesmo tempo em que crescem as missões envolvidas em sondar as possibilidades de investimentos. “O nosso principal desafio é fazer com que eles compreendam a burocracia legal institucionalizada no Brasil, particularmente os nossos sistemas tributário e trabalhista”, afirma Manucci.


Entre sondar oportunidades e definir projetos para investir o caminho é longo, mas está sedimentado pelo destaque da agricultura brasileira no comércio internacional de grãos, observa Ma-Tien Min, presidente da Comissão Técnica de Cereais da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg) e coordenador da Câmara Técnica de Grãos da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas.


O campo de teste para os investimentos chineses no agronegócio pode ser o Nordeste, se confirmada a aplicação de recursos em terras que investidores asiáticos teriam comprado, em maio, na região, lembra Lara Azevedo, analista internacional do Conselho Empresarial Brasil-China, entidade sem fins lucrativos que congrega empresas dos dois países. “É cedo ainda para apontar tendências. Os chineses começaram a experimentar investimentos no Brasil e precisamos esperar para ver se eles vão direcionar seus recursos para um segmento específico de alimentos ou se vão diversificar a carteira”, afirma.


O reflexo mais concreto desses apetite chinês, na avaliação de Lara Azevedo, foi o ingresso, pela primeira vez, da China como origem dos 10 maiores investimentos estrangeiros no Brasil em fevereiro, conforme informação divulgada pelo Banco Central, embora sem detalhamento. De 1978, período em que tiveram começo as reformas econômicas no gigante asiático, até 2007, por exemplo, cerca de 7 mil empreendedores investiram US$ 118 bilhões em 173 países, conforme levantamento feito pelo Centro Internacional de Negócios de Minas, integrado ao sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).


Com mais motivos agora, a China avança sobre as fronteiras de grandes fornecedores de alimentos, petróleo, energia e minério de ferro, para sustentar um processo de industrialização capaz de incluir 750 milhões de chineses ainda vivendo no campo. Não é outra a razão que explica o interesse chinês na mineração brasileira ou na africana. As consultas ao Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) são semanais, segundo o presidente da instituição, Paulo Camillo Vargas Penna. “Mas a efetivação de negócios ainda não se dá no mesmo ritmo”, afirma.

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