Belo Horizonte, 6 – Lideranças do setor de café evitam antecipar os números da safra 2006/2007, cuja primeira estimativa será divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na próxima sexta-feira (9). Existe consenso, porém, que mesmo sendo um ano de carga alta, dificilmente o Brasil irá repetir a produção recorde registrada em 2002, de 48,4 milhões de sacas.
As cotações do produto começaram a se recuperar a partir do segundo semestre de 2004. Entre julho e dezembro, o preço médio conforme levantamento do Cepea/Esalq, por saca de 60 quilos, chegou a R$ 223,81. Nos primeiros seis meses deste ano, a média de preços subiu para R$ 314,72/saca, apresentando nova queda na média entre julho e outubro para R $ 246,04/saca. Para o presidente da Cooperativa de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) Carlos Alberto Paulino da Costa, a remuneração ao produtor seria maior não fosse a depreciação do dólar em relação ao real. “O que está ruim é o dólar”.
O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli, concorda e avalia que se não fosse a situação cambial, a geração de renda para o produtor seria maior. “Todo o ganho que os produtores poderiam ter em termos de receita se perdeu por causa da valorização do real”. De acordo com ele, por conta desta situação, o setor ainda não se recuperou dos últimos três anos de crise. “Estamos nos recuperando a um ritmo mais lento do que poderíamos”, conclui.
Para o presidente da Cooperativa de Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel), no Espírito Santo, Antônio Joaquim de Souza Neto, os reflexos dos preços baixos do produto foram observados não apenas na redução dos tratos culturais, como também na dificuldade de obtenção de mão-de-obra para as lavouras. “O café deixou de ser bom negócio e daqui pra frente só vai sobreviver no setor quem tiver um bom índice de produtividade”, diz.
O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli, revelou que a estratégia do setor produtivo para o próximo ano, para garantir a sustentabilidade de preços, será a volta dos leilões de contratos de opção do produto.
Segundo ele, o preço para o exercício dos contratos ainda não foi definido, mas a idéia é retirar do mercado cerca de 5 milhões de sacas. A proposta já chegou a ser encaminhada aos Ministérios da Agricultura e da Fazenda. Há poucos dias, lideranças da cafeicultura se reuniram com o governador Aécio Neves para pedir apoio na aprovação da medida.
O CNC pretende ainda concluir os estudos para formular uma política de longo prazo para o setor e a elaboração de um plano plurianual, por um período mínimo de cinco anos. O orçamento do Funcafé para este ano atingiu R$ 1,25 bilhão, distribuídos entre colheita (R$ 500 milhões), estocagem (R $ 350 milhões) e custeio (R$ 400 milhões), mas o montante a ser liberado no próximo ano ainda não foi fechado.
Segundo o gerente de comercialização da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha (Minasul), Cláudio Brito, o mercado já precificou o volume da safra para o próximo ano e portanto a perspectiva é de calmaria ao longo desta semana. Ele acredita, entretanto, que em 2006, quando for verificada a queda na qualidade do produto, é esperada uma valorização dos preços. O tamanho desta recuperação, de acordo com ele, vai depender de quem terá mais fôlego: se o produtor, que poderá segurar o café até que as cotações atinjam o melhor valor; ou o exportador que será pressionado para vender produto de boa qualidade.