20/05/10
De São Paulo
Embora ainda não tenha motivado erosões consideráveis nas cotações internacionais das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior, o recrudescimento da crise financeira europeia nas últimas semanas tornou-se um fator de pressão baixista permanente sobre os mercados.
De oito produtos negociados nas bolsas de Nova York (açúcar, café, café, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo), apenas os futuros (segunda posição de entrega) de açúcar e suco de laranja, que registraram forte queda em abril, aparecem com variações positivas em maio – 1,25% e 6,57%, respectivamente. Há baixas para café (1,11%), cacau (1,82%), algodão (6,98%), soja (6,86%), milho (1,93%) e trigo (3,23%), segundo o Valor Data.
Entre outras consequências, os movimentos financeiros derivados dos tremores europeus estão provocando a queda do euro e a valorização do dólar. Referenciadas nas bolsas dos EUA, as commodities agrícolas costumam reagir negativamente ao fortalecimento da moeda americana, até porque as pujantes exportações agrícolas do país perdem competitividade. Para os preços agrícolas, o balanço das moedas também não é bom pelo lado dos europeus, que tem de gastar mais em suas compras – e a situação não permite excessos.
Na mesma linha de raciocínio, só que na frente dos fundamentos de oferta e demanda, o prolongamento da crise europeia tende a reprimir as compras no Velho Continente, importante destino das exportações mundiais de commodities. A União Europeia tradicionalmente é o principal destinos das exportações brasileiras do agronegócio, posto que passou a ser ameaçado – e usurpado em alguns períodos – pela Ásia, sempre puxada pelo apetite da China.
É verdade que a crise na Europa motivou o aumento da demanda por ouro, que tem peso importante nas carteiras de commodities de grandes fundos de investimentos e até agora ajudou a segurar as cotações de outros produtos presentes nos mesmos cardápios, como notou recentemente o analista Vinícius Ito, da Newedge, em Nova York. Mas, em geral, a fase é de pessimismo e de previsões de queda das commodities nos próximos meses, exceto em casos de problemas na oferta. Em tempo: ontem o as cotações do ouro recuaram. (FL e Eduardo Campos)