Geada redesenhou agronegócio – Há 35 anos, o Paraná se encolheu sob frio intenso que devastou os cafezais e estimulou o surgimento de um novo modelo a

Da Região  |  Retrospectiva  | Criado 12/05/2010



Geada redesenhou agronegócio

Há 35 anos, o Paraná se encolheu sob frio intenso que devastou os cafezais e estimulou o surgimento de um novo modelo agrícola


Edivaldo Magro
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As baixas temperaturas registradas em julho de 1975 destruíram milhões de pés de café no Estado A madrugada do dia 18 de julho de 1975 foi de insônia para milhares de agricultores paranaenses. Assombrados pelo frio que nos anos anteriores já havia provocado estragos nos cafezais, a maioria dos produtores passou a noite em torno do fogão a lenha, apreensivos.
 
Lá fora a temperatura despencava e cafeicultores experientes temiam pelo pior. O calor do fogo não esquentava a frieza da realidade: geava! A intensidade do frio era tamanha que o crepitar da lenha no calor do fogão não dava conta de aquecer o ambiente. Desespero.
 
Não pelo frio implacável que não recuava mesmo no aconchego das casas, mas pela devastação que provocava nos campos. O amanhecer daquela sexta-feira ficou na história da economia paranaense. A geada devastara quase um bilhão de pés de café, torrando as plantas da copa à raiz.
 
Ao sobrevoar lavouras na região de Londrina e Maringá o então governador do Estado,  Jaime Canet,  definiu o estrago com uma frase: “está tudo perdido!”. Diferente de outros anos, quando a geada atingiu apenas algumas regiões, desta vez o frio não fez distinção: queimou tudo.
 
Junto com o café se foi o trigo e outras lavouras. Extensas plantações viraram lenha e onde antes se sobressaía o verde agora prevalecia um imenso deserto de plantas esqueléticas. Cafeicultores que testemunharam a tragédia lembram-se do cheiro de folhas queimadas.
 
O Paraná, que em anos mais prósperos chegou a responder por 25% da produção mundial, da noite para o dia foi riscado do mapa da cafeicultura. No ano seguinte, a saca de café beneficiada bateu nos US$ 500. O mercado internacional repercutiu o drama paranaense.
 
A geada virou fato histórico e a perplexidade dos produtores, derrotados pelo clima, impôs reflexão sobre o futuro do Estado. A extinção do café redesenhou a economia paranaense em meio ao desespero de agricultores, até então reféns de uma monocultura exercida sem muitos critérios técnicos.
 
Sabe-se hoje que a devastação poderia ter sido menor se os cafeeiros não fossem tão altos e plantados sem a preocupação com a altitude, além da densidade (número de plantas por hectare). A fertilidade da terra bastava e as pesquisas agrícolas ainda engatinhavam de forma muito precária.
 
Apesar das consequências do episódio, como o êxodo rural, que tirou do campo milhares de trabalhadores e os levou para a periferia da cidade e, em muitos casos, para a miséria, a geada de 1975 é apontada como um importante divisor de águas para o fortalecimento da economia do Estado.
 
Até então, prevalecia a monocultura do café. Outras lavouras, como trigo, milho, algodão e feijão, ocupavam pouco espaço, a ponto de ser quase insignificante no contexto da economia agrícola do Estado. A soja, cujo plantio comercial se iniciou no Paraná na década de 50, também não era expressiva.
 
Esse cenário mudou drasticamente a partir da segunda metade de 1970. A erradicação do café estimulou o plantio de outras culturas e investimentos em pesquisas reforçaram a chamada ‘revolução verde’ no campo, um movimento iniciado algumas décadas antes no mundo para fortalecer a produção de grãos.
 
Uso mais intensivo de adubação, manejo adequado da terra e plantio de variedades precoces e mais tolerantes a pragas transformaram a agricultura paranaense em exemplo e já no início dos anos 80 a cafeicultura, como referência da economia do Estado, era apenas lembrança e história.


Temperatura
O cafeeiro morre, em média, quando submetido a -3,5 graus. Em 1975, estima-se que, em algumas regiões, a temperatura caiu para -6 graus. O resfriamento extremo do solo causou congelamento do sistema radicular, ocasionando a morte das plantas.


Branca e negra
Existem dois tipos de geadas: a branca e a negra. A geada branca é formada quando o ar está relativamente úmido, com o ponto de orvalho acima da temperatura de congelamento. Havendo o abaixamento da temperatura, poderá haver deposição de gelo, ou as gotículas de orvalho que estão sobre a superfície das plantas poderão se congelar, dando formação à geada branca. A geada negra aparece quando há o abaixamento da temperatura, mas o ar está com pouca umidade, não havendo formação de gelo.

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