CIDADES
14/04/2010
Propriedade histórica na SP-340 é invadida por simpatizantes do movimento
Gilson Rei
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
gilson@rac.com.br
Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam ontem uma área da fazenda Monte D’Este, situada às margens da SP-340 (Rodovia Campinas/Mogi Mirim) e pertencente ao grupo Tozan, em Campinas. A fazenda é uma das mais antigas da cidade, datada de 1798, e produz café, milho, tomate e explora o agroturismo. Os proprietários da fazenda ingressaram ontem mesmo na Justiça Estadual de Campinas com pedido liminar de reintegração de posse da propriedade.
Líderes do movimento informaram que 150 famílias estão no local, no entanto, a Polícia Militar calculou em cerca de cem o número de invasores, que chegaram em carros com placas de Hortolândia, Limeira, Jandira, Bragança Paulista e Osasco. Com exceção do carro de Osasco, um Monza, os demais eram novos.
Luis Fernando Amaral Binda, advogado que representou os proprietários da fazenda no pedido de reintegração, alegou que houve invasão de propriedade particular em área produtiva e que o local ocupado é Área de Proteção Permanente (APP). “Não há motivos para esta ocupação do MST. Além de produzir café, milho e tomate dentro das leis ambientais, a fazenda explora o agroturismo e gera emprego e renda ao município”, explicou.
José Freire, um dos líderes do movimento, disse que a ocupação integra a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, no chamado Abril Vermelho (Leia mais abaixo).
O militante disse que a invasão foi programada também para cobrar a desapropriação da área na fazenda. Segundo Freire, o local foi declarado improdutivo pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e há um processo de desapropriação parado na Justiça por motivos desconhecidos. “As famílias do MST reivindicam a aceleração deste e de outros processos semelhantes no Estado e em todo Brasil para atender à crescente demanda pela democratização do acesso à terra e pela garantia do cumprimento de sua função social, assegurada pela Constituição Federal”, disse Freire.
A superintendência do Incra, em São Paulo, foi questionada sobre a existência do laudo de improdutividade na fazenda e se existe processo de desapropriação da área parado na Justiça, mas não deu retorno.
A ocupação ocorreu por volta das 6h de ontem, com a chegada de aproximadamente 40 pessoas em um ônibus com placas de Ribeirão Preto. O policial militar Ricardo Magalhães disse que os integrantes do MST arrebentaram uma cerca de arame farpado às margens da estrada de Furnas para o bairro Recanto dos Dourados. Em seguida, descarregaram ferramentas agrícolas e materiais para cortar o mato na área e iniciaram a instalação das barracas com troncos de árvores e plástico.
Segundo Freire, mais famílias de agricultores deverão chegar até o final da tarde de hoje. São pessoas de cidades da região, como Campinas, Limeira, Hortolândia e Americana.
Monte D’Este está em processo de tombamento
Área é considerada patrimônio e de importância para o País
A fazenda Monte D\’Este totaliza 3,7 mil hectares e desde 2004 está em processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). Fundada em 1798, a fazenda é de grande importância para a história do Brasil, pois se mantém em atividade desde o período do açúcar, passando pela transição agrícola para a cultura cafeeira e pela época da abolição da escravatura. A partir de 1927, a família Iwasaki, fundadora do Grupo Mitsubishi, comprou a fazenda e investiu na diversificação da produção.
Hisaya Iwasaki, comprador da fazenda em 1798, fez a aquisição da área para formar a consciência de conservação e recuperação do solo, além de garantir melhor produtividade e orientar os imigrantes japoneses sobre a cultura do novo País. Hoje recebe visitas agendadas.
A propriedade abriga a Casa Japonesa, erguida após a Segunda Guerra Mundial; uma Casa de Chá, construída em 1957 para receber, no ano seguinte, a visita do príncipe e da princesa do Japão, como parte das comemorações dos 50 anos de imigração japonesa; uma antiga senzala, casas de colonos e as plantações de café. (GR/AAN)
Cinco prédios públicos foram ocupados
O Movimento dos Sem Terra (MST) deu sequência ontem à jornada nacional de lutas pela reforma agrária, conhecida como Abril Vermelho, em São Paulo, com a invasão de cinco prédios públicos e fazendas no Interior do Estado. Cerca de 100 integrantes do movimento invadiram a fazenda Guaçaí, com 450 hectares, em Taubaté, no Vale do Paraíba. Na região de Iaras, Centro-Oeste do Estado, 120 militantes tomaram uma área desmembrada da Fazenda Noiva da Colina, no município de Borebi. As terras estão ocupadas por uma plantação de cana-de-açúcar. A propriedade fica próxima da fazenda Santo Henrique, da Cutrale, invadida e depredada no final do ano passado. O MST, considera todas elas improdutivas. (Da Agência Estado)