Ministro da Fazenda espera que política monetária mais flexível abra espaço para crescimento maior
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, minimizou ontem o resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre e disse que trata-se de “um ponto fora da curva”. Na sua avaliação, ocorreu um ajuste de estoques da indústria e o país vai crescer no final do ano e em 2006. Ele reconheceu que a política monetária “tem seu custo” e disse que a recompensa é a queda da inflação.
Mais pessimista, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse que é “preocupante” que a economia esteja reagindo às altas taxas de juros com a contenção de investimentos. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi cauteloso e atribuiu o fraco desempenho da agricultura a fatores como queda do preço das commodities e febre aftosa.
Palocci, Furlan e Rodrigues comentaram o resultado do PIB durante a comemoração do Dia da Amizade entre Brasil e Argentina, em Puerto Iguazú, cidade na fronteira dos dois países. O PIB caiu 1,2% no terceiro trimestre em relação ao segundo na série livre de influências sazonais, segundo o IBGE. A agricultura teve o pior desempenho com baixa de 3,4% na mesma comparação.
Palocci admitiu que o resultado do terceiro trimestre ficou abaixo do esperado. A média dos analistas previa queda de 0,3%. Segundo o ministro, o período foi marcado por expansão do consumo das famílias, aumento nas vendas do varejo e crescimento da renda real. Em contrapartida, houve uma queda na oferta. “O desenho do trimestre é de ajuste de estoques”, concluiu. A análise do ministro se ancora no descompasso entre a produção da indústria e o consumo das famílias. No segundo trimestre, a produção cresceu 1,7%, enquanto o consumo variou 0,9%. No terceiro trimestre, a indústria caiu 1,2%, e a demanda subiu 0,8%.
O ministro afirmou que é preciso “refazer as contas” do crescimento da economia esse ano, mas ressaltou que ainda trabalha com um bom desempenho do PIB. Palocci se esquivou de responder se o país pode crescer menos de 3% como estimam os analistas. A meta do governo é 3,4%.
“O mais importante é que esse resultado do terceiro trimestre não indica uma tendência, mas um ponto fora da curva”, continuou o ministro, ressaltando que o país estava crescendo por oito trimestres consecutivos até agora. “O final do ano, certamente vai mostrar uma retomada do crescimento. E essa é a perspectiva para 2006”, acrescentou. Palocci justifica seu otimismo e argumenta que a flexibilização da política monetária, o aumento das vendas, da renda e da massa salarial vão fazer com que a economia não pare.
O ministro admitiu que “toda política monetária tem seus custos, mas o mais importante é que devemos fechar o ano com dois pontos a menos de inflação”. Segundo Palocci, o Banco Central vai observar o crescimento da economia e o comportamento da inflação para determinar o ritmo de queda das taxas de juros. Ele fez questão de deixar claro que a meta do BC é o combate a inflação. “Se houvesse uma perspectiva de menos crescimento e de retração, certamente nos levaria a reavaliar os instrumentos que utilizamos. Mas olhando para frente, a perspectiva é de crescimento”.
Furlan não está tão otimista em relação ao fim do ano. Ele diz “não dá para refazer outubro e novembro”, que provavelmente seguiram a tendência do terceiro trimestre. “Vai merecer uma reflexão, porque os números do ano virão menor que o imaginado”, disse. Furlan ressaltou que a política econômica produziu os resultados previstos, mas que “é preocupante que a economia esteja reagindo ao aperto financeiro da taxa de juros com a contenção de investimentos”.
Rodrigues disse que o fraco resultado da agricultura “é natural”, porque o ano foi muito ruim para o setor. Ele citou a quebra da safra agrícola, por conta da seca no Sul, a perdas nas exportações após a descoberta dos focos de aftosa, e a queda dos preços de algumas commodities agrícolas, como o café. “Vários fatores, que não tem nada a ver com a política econômica, produziram o resultado”, frisou Rodrigues. Ele estimou as perdas das exportações com aftosa em US$ 250 milhões, mas avaliou que o país pode crescer acima de 3%.