Segundo Braga, os fiscais têm colaborado com os exportadores, no caso específico do café. “Os grevistas têm mostrado flexibilidade, sem a qual os prejuízos poderiam ser maiores.”
Sem o selo da inspeção federal, produtos como carne e derivados são rejeitados em vários países |
A greve dos fiscais agropecuários, que começou no dia 7 de novembro, está provocando prejuízos às exportações brasileiras. A categoria é encarregada do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que certifica os produtos agropecuários que entram e saem do território brasileiro. Importadores costumam rejeitar mercadoria que chegue sem o selo de fiscalização federal. Os embarques do setor de carnes e derivados são os mais afetados pela greve, porque as regras de sanidade são mais rígidas. Ao impedir os embarques de carne de frango, a greve dos fiscais impede o ingresso diário de US$ 14 milhões em receita. A projeção é do presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Ricardo Gonçalves. Segundo ele, a indústria está negociando com os importadores para adiar os contratos. “Mas não é possível prever se todos vão aceitar essa negociação”, diz. “Há clientes mais ‘chatos’.” A projeção da Abef, antes da greve, era de fechar o ano com exportações de US$ 3,5 bilhões. A avaliação baseava-se no crescimento vigoroso dos embarques e dos preços em dólar este ano. Em 2004, segundo Gonçalves, o Brasil faturou US$ 2,8 bilhões com exportações de frango. “Esse número já está comprometido, porque o resultado de novembro será certamente pior”, afirma. Segundo Gonçalves, a greve traz prejuízo para as empresas de qualquer forma, por causa das despesas portuárias e da alteração no ciclo da cadeia produtiva. “Animais que deveriam ser abatidos em 45 dias para ser substituídos por novos pintos de corte ainda ocupam espaço nas granjas”, diz. O principal problema da indústria é a armazenagem. Segundo o presidente da Abef, a produção de frango vem crescendo rapidamente e o aumento da capacidade instalada em câmaras frias não consegue acompanhar esse ritmo. “Uma paralisação do comércio lota os armazéns rapidamente.” Algumas empresas estão deixando de realizar abates. A Doux Frangosul, por exemplo, resolveu antecipar o feriado de 15 de novembro e não abateu frangos na sexta-feira anterior (11). No caso da indústria de suínos, também já ocorrem atrasos nos abates. Segundo Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), Seara e Aurora pararam seus abates por um dia este mês, por causa dos problemas logísticos. “Também perdemos alguns embarques por causa dos atrasos”, diz o executivo. Ele explica que novembro é o último mês para embarcar carne suína para a Rússia, mercado que absorve mais de 60% das exportações brasileiras. “No inverno, o acesso aos portos da Rússia é limitado pelo gelo e as exportações são naturalmente menores.” As exportações de carne suína brasileira atingiram US$ 1 bilhão de janeiro a outubro, 63% a mais do que o mesmo período de 2004. No caso da carne bovina, o setor diz estar sendo afetado, mas ainda não quantificou os prejuízos. “É cedo para conseguirmos dividir o que deixou de ser embarcado por causa dos embargos feitos depois dos focos de aftosa e o que deixou de ser embarcado por causa da greve”, informa Antonio Jorge Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina (Abiec). Segundo ele, os sindicatos fizeram um excelente trabalho para evitar que os embarques ficassem totalmente paralisados, mas mesmo assim um grande volume de carne espera para ser embarcado. ALGODÃO E CAFÉ O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Sérgio Mendes, disse que os embarques brasileiros estão paralisados desde o início da greve. Segundo ele, os contêineres se acumulam em Santos sem poderem ser embarcados. “O valor da carga está em torno de US$ 10 milhões, e grande parte tem como destino a China.” Mendes explica que é pouco provável que a China cancele os contratos, mas o país poderá pedir a renegociação dos valores. A se confirmar, o atraso nos embarques irá se repetir pelo segundo ano consecutivo. Isso porque problemas logísticos atrasaram as exportações em 2004. Já o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, diz que a greve atrapalha os embarques do produto para alguns destinos, que exigem o certificado fitossanitário emitido pelos fiscais agropecuários federais. “Alguns países, como Japão, Coréia do Sul, e outros do Oriente Médio, só aceitam a carga com o certificado”, diz. Mas ele observa que os principais compradores de café do Brasil, com exceção do Japão, estão localizados na União Européia, além dos Estados Unidos, e não impõem a obrigatoriedade do certificado. Segundo Braga, os fiscais têm colaborado com os exportadores, no caso específico do café. “Os grevistas têm mostrado flexibilidade, sem a qual os prejuízos poderiam ser maiores.” |