A idade do Porto de Santos é coisa desconhecida. Se perde nos tempos coloniais e, a rigor, já estava aqui antes mesmo de Martim Afonso de Souza chegar com suas caravelas em 1532, para iniciar a colonização do Brasil. Contamos o aniversário a partir do início do porto moderno, o que significa a entrega dos primeiros 240 metros de cais de pedras e concreto, em 1892, no dia 2 de fevereiro, quando atracou o vapor inglês Nasmith, 118 anos atrás.
Mas, do mesmo jeito que se diz que o século 20 começou, realmente, em 1910, iniciando o período de mudanças marcado pela 1ª Guerra Mundial, pode-se dizer que o que conhecemos hoje como Porto de Santos consolidou-se, também, em 1910, primeiro ano de funcionamento dos 4.726 metros de cais previstos no contrato de construção. Esse foi o momento que marcou o início da cidade atual, que abandonava os tempos imperiais e estabelecia-se como nação republicana.
Cem anos atrás, Santos vivia um período de grandes expectativas. Como agora, o futuro parecia bater às portas da Cidade projetando novos caminhos e, realmente, seguiram-se pelo menos vinte anos de expansão vertiginosa da atividade econômica e da ocupação urbana. A Cidade havia demorado mais de trezentos anos para romper a barreira dos cinquenta mil habitantes, mas bastaram vinte anos da nova realidade para chegar a 150 mil e consolidar-se, definitivamente, como cidade importante. O café despejado pelos trilhos da São Paulo Railway, a ferrovia inglesa, e o incremento das exportações de outros produtos e da importação crescente, criavam e atraíam fortunas.
Mudanças aceleradas – Foi no período entre 1910 e 1930 que a maior parte do patrimônio arquitetônico que hoje nos orgulha foi erigida. A Bolsa do Café, que então controlava as cotações mundiais do produto, foi inaugurada em 1922; o Teatro Coliseu teve duas inaugurações, uma em 1909 e outra, com a forma atual, em 1924, na época um dos mais importantes do país; e a Catedral é de 1925, quando a Cidade foi transformada em Diocese pelo Papa Pio XI. Exemplos.
Foi também nesse período que a tração animal perdeu espaço no porto para os motores a combustão, as carroças foram substituídas por caminhões e automóveis. Foi o tempo em que os bondes elétricos aposentaram os burrinhos, que o telefone substituiu o telégrafo e que o rádio atropelou os jornais como fonte primária de informação da população. Foi principalmente a época que consolidou a Cidade na forma que tem hoje, com a ocupação marchando para as praias, com a abertura de avenidas. Em 1920 a União cedeu a Santos a área de marinha frontal à praia, que muitos endinheirados já estavam colocando as mãos, o que permitiu, mais tarde, a construção dos jardins, evitando um paredão defronte da areia. Tudo isso foi propiciado pelo crescimento do porto, acompanhando a expansão da produção paulista e garantindo a ela portas de entrada e saída de produtos.
Cem anos exatos – Dizem que raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas parece que vai cair desta vez, embora com cem anos de diferença. O acaso providenciou que, daqueles quase cinco quilômetros de cais de 1910, chegássemos a 2010 com o maior porto do país em nosso quintal, com largos projetos de expansão, que incluem até um novo porto inteiro, e expectativas semelhantes às daquelas gerações de santistas que assistiram à época de ouro da Cidade, ou pelo menos a que tivemos até aqui..
Outra dessas épocas gordas se anuncia agora. Os próximos 20 anos deverão marcar uma nova expansão vigorosa do porto, acompanhando a economia do país que deverá ser a quinta do mundo ao fim desse período. O petróleo deverá equiparar-se ao porto em relação à atividade econômica. Os pequenos edifícios vão se tornando anacronismos com as tecnologias construtivas atuais, trazendo o cortejo de problemas que acompanham as grandes torres que vão pipocando. A tecnologia digital atropelou os modos de trabalho antigos, a internet apavora agora até a TV, e a velocidade do tempo é medida em segundos. O cenário é diferente, mas a situação é a mesma: um período de mudanças anuncia-se grávido de prosperidade no final da primeira década de um século.
Se a Cidade e seu porto conseguirem aproveitar os anos que se avizinham — e se esses anos realmente confirmarem as expectativas, naturalmente —, podemos estar iniciando um tempo que legará novas belezas, vitórias e projetará prosperidade até o final do século, atravessando todos os problemas que, é claro, virão também pela frente.
SEP e Codesp apresentam na terça o plano para Santos 2024
O ministro-chefe da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, estará na cidade na terça-feira, dia 2, data do aniversário do porto, para apresentar à sociedade, juntamente com o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), José Roberto Serra, o Plano de Expansão e o Estudo de Acessibilidade do Porto de Santos, que nortearão o crescimento do complexo até 2024.
O Plano de Expansão, desenvolvido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a SEP, custou cerca de US$ 1,3 milhão e durou aproximadamente 11 meses para ser finalizado. O estudo irá contribuir de maneira direta para o desenvolvimento do porto, uma vez que irá definir e localizar áreas para novos terminais e cargas, projetando demandas para os próximos 15 anos e a infraestrutura necessária para este crescimento.
Já o Estudo de Acessibilidade, custeado pela Codesp, realizado para complementar a pesquisa do BID, foi desenvolvido pela Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), e teve o valor de R$ 750 mil, sendo concluído em 7 meses. Brito e Serra ressaltam que “o evento permitirá a todos os segmentos envolvidos na logística do Porto de Santos conhecerem previamente as demandas de cargas até 2024, dimensionando-se os acessos rodoferroviários de acordo com a necessidade para esta nova expansão portuária”.
O secretário de Transportes do Governo do Estado de São Paulo, Mauro Arce, fará uma explanação sobre os Projetos de Desenvolvimento de Transporte e Logística do Governo do Estado, e, a seguir, os principais setores envolvidos na logística de transporte debatem os temas apresentados. O evento acontecerá no Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini —Concais, Armazém 25 Interno do porto, das 8h30 às 14h. Os planos serão apresentados às 10h30. Haverá mesa- redonda de debates e o ministro encerra os trabalhos.
O que um século pode fazer à nossa volta
A imagem acima é de um grande cartão postal, colorizado à mão, datado da década de 1920, quase cem anos atrás. Nele se pode ver a área do Valongo até a curva do Paquetá. Santos, então, era pouco mais que o que foi registrado na foto feita pelo pintor Benedicto Calixto. Os mais abastados rumavam para as praias nesse período, mas era ainda, basicamente, uma região de sítios e chácaras. A vida pulsava no Centro. Era ali que estavam a atividade econômica e as moradias mais luxuosas da época. O mais notável, porém, é o vazio da margem esquerda do porto, a parte pertencente a Guarujá, na época um próspero balneário inaugurado em 1893 — a palavra é essa mesma, “inaugurado”, porque trata-se da primeira, senão única, cidade brasileira totalmente construída com a única finalidade de atender os abastados paulistanos que queriam passar férias no litoral. Foram importados dos EUA, totalmente desmontados, um cassino, um hotel, uma igreja e 46 casas, tudo em pinho da Geórgia. Um serviço de barcas e um trenzinho, entre o Itapema (Vicente de Carvalho) e a Vila Balneária, garantiam o transporte.
O vazio que se vê na imagem era resultado histórico dos problemas de colonização da ilha e também do domínio, de quase meio século, da Companhia Balneária da Ilha de Santo Amaro, de Prado Chaves. O tempo mudou tudo e agora, pouco menos de cem anos depois, justamente na margem esquerda, estão as possibilidades de expansão do porto para o futuro. Um porto melhor, mais rápido e moderno.