22/1/2010 – Aquisições de café: cochilo imperdoável
Depois do normal arrefecimento nas transações com café no fim de ano, o
mercado físico começa a trabalhar com mais dinamismo neste meado de janeiro. O
governo federal divulgou na primeira semana do ano a primeira estimativa da
safra 2010/2011, sinalizando para uma produção em torno de 48 milhões de sacas.
Bem verdade, é cedo para qualquer projeção, haja vista o veranico que assola o
Espírito Santo, o 2º produtor nacional de café e o primeiro na produção de
conilon.
Neste momento, as operações com café estão centradas no curto prazo e parece
que as estimativas de safras, para mais das previsões do Governo, pouco estão
afetando os preços no mercado spot. No curto prazo, o comportamento dos preços
internos estão mais sob a influência da taxa de câmbio e da demanda por
embarques do que por comportamento futuro da nova safra cheia.
Nestas circunstâncias, nos surpreende e até nos provoca indignação a notícia
do atraso nos pagamentos do café depositado pelos produtores, por decorrência
das opções de venda do ano passado. Não bastasse isto, o Governo demorou em
liberar recursos, no ano passado, para as operações de aquisição de café, dentro
da Política de Garantia de preços mínimos. Esses fatos mostram que o café não
vem merecendo do Governo Federal atenção à altura de sua importância econômica e
social, particularmente neste momento de ciclo de baixa, em que qualquer cochilo
nas operações das políticas de comercialização de café pelo Governo acaba por
oportunizar especulação no mercado.
Não se deve esquecer que o mercado do café não opera por decretos, tampouco é
insensível às ineficiências das decisões políticas, ou obedece à lógica
burocrática das execuções orçamentárias. Isto é falha imperdoável e desmoraliza
os instrumentos de defesa dos preços do café, tão necessários nesse momento, e
crucial para a próxima safra.
Não se pode transferir aos produtores mais insegurança do que aquelas com que
já convivem no cotidiano de seu árduo trabalho na produção do café. A hesitação
dos produtores em vender para o Governo, pela demora nos pagamentos, interfere
na leitura das disponibilidades imediatas de café, reprimindo preços no mercado
físico.
No Espírito Santo foram poucas as opções de venda para o Governo, mas foi
importante o início das operações de AGF com o arábica tipo 7, principalmente,
depois de quase duas décadas sem aquisições oficiais de café. Pena que as
operações começaram em dezembro do ano passado e duraram poucos dias, para logo
depois serem interrompidas por questões de execução orçamentária, de fim de
exercício pelo Governo Federal.
Para o País das emergências, é estranha a omissão na busca de solução legal,
plausível e oportuna, em vista do caráter de excepcionalidade da situação de
prejuízos aos cafeicultores, pelos baixos preços do mercado.
O problema continua, pelo que sinaliza o mercado futuro, ainda que tais
sinalizações sejam tênues. Está na hora do Governo Federal tomar decisões
firmes, pagar sem atrasos os compromissos já assumidos com os produtores, e
definir logo as intenções de lançamento de contratos de opção, e os preços
mínimos de garantia para a próxima safra, sinalizando que o governo não hesitará
em comprar café da nova safra, a preços minimamente remuneradores, seja para o
arábica ou para o conilon.
Wolmar Roque Loss
Engº Agrº, Ms em Desenvolvimento
Econômico
Fonte: http://www.campovivo.com.br/noticias_online.asp?id_noticia=7406