15/01/2010
Agência Estado
Depois de enfrentar dificuldades para cumprir o padrão de exigência para a entrega de café no primeiro exercício dos contratos de opção de venda ao governo, em novembro, os cafeicultores mineiros estão indecisos quanto à entrega do produto referente ao próximo exercício, que vence hoje (15). Desta vez, a grande preocupação é se o pagamento dos prêmios será feito no prazo estipulado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou seja, até o dia 15 de fevereiro.
Conforme edital de venda, o prazo para liquidação dos contratos é de um mês após o início da entrega. Dessa forma, para o primeiro exercício, a data prevista para o início do depósito do produto nos armazéns da Conab foi o dia 15 de novembro, determinando a data de 1º a 15 de dezembro para a liquidação dos contratos. No entanto, houve atraso na liberação do crédito suplementar aprovado pelo Congresso Nacional no dia 25 de novembro, destinado à política do Ministério da Agricultura de apoio à comercialização de produtos.
Embora a liberação dos recursos tenha sido anunciada no fim de dezembro passado, algumas cooperativas que atuam em Minas alegam que receberam apenas parte do pagamento. A alternativa encontrada por boa parte delas foi antecipar o dinheiro aos cooperados que exerceram os contratos em novembro, com recursos próprios. “A Cooparaíso já pagou 100% dos produtores que participaram do primeiro exercício com recursos próprios e agora estamos aguardando o pagamento da Conab”, disse o gerente de Comercialização da Cooperativa de Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), Marlon Braga Petrus. A cooperativa estuda se irá tomar a mesma medida para o próximo exercício.
“Esta situação pode atrapalhar a entrega, porque alguns produtores que depositaram o café (nos armazéns da Conab) em novembro, esperando o pagamento no mês seguinte, ainda não receberam. Muitas pessoas que estavam com intenção de entregar o café estão com medo de não receber”, diz o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa. A empresa também antecipou o pagamento do primeiro exercício.
Na região do Cerrado mineiro, a Cooperativa de Cafeicultores de Monte Carmelo (Coopermonte) alega que só adiantou os recursos para os produtores com dificuldade em honrar compromissos no mês de dezembro. “Com este atraso, já que o governo ainda não pagou boa parte, muitos cafeicultores que tinham compromissos financeiros em dezembro estão inadimplentes. Muita gente começou a desanimar”, aponta o gerente de comercialização da cooperativa, Érico Suzuki.
De acordo com ele, vem crescendo entre os cafeicultores a insegurança diante da possibilidade de que possa ocorrer um novo atraso na próxima liquidação de contratos. O gerente argumenta que o preço do exercício é de R$ 309,00 a saca de 60 kg para o próximo exercício. A cotação do produto no mercado físico, com mesmo padrão de qualidade, está em cerca de R$ 270,00 a R$ 290,00 a saca em Minas, dependendo da região. Se optar pela entrega do café, o produtor terá de gastar com o preparo, sacaria e frete, cerca de R$ 10,00/saca, o que levaria o produtor a ganhar cerca de R$ 10,00 por saca.
Suzuki acredita que o produtor levará em conta se há possibilidade de uma reação dos preços no mercado físico para os próximos dias. “Com uma diferença pequena em relação ao valor de mercado, e na dúvida se o pagamento (dos contratos) vai atrasar, o produtor prefere vender no mercado físico”, diz ele. Conforme o gerente da Coopermonte, como os preços praticamente mantiveram-se estáveis desde o Natal, as perspectivas são de que apenas os produtores que tiverem fôlego para honrar os compromissos até a data de liquidação irão exercer os contratos. Este quadro, de acordo com ele, poderá mudar, caso o governo liberar o restante dos recursos referentes ao exercício de novembro.
Para o gerente de Comercialização da Cooperativa de Cafeicultores de Três Pontas (Cocatrel), Manoel Piedade, “o governo falhou muito no compromisso de pagamento das opções”. A entidade também antecipou o pagamento para os associados. Piedade acredita que 70% dos cooperados deverão optar pelo exercício, que deve representar 4 mil sacas.
O presidente executivo da Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite (Sincal), Armando Matielli, informa que o pagamento das opções de novembro vai se normalizando, apesar da morosidade. “Temos a informação de que o dinheiro está à disposição”, diz.
Matielli comenta que alguns produtores chegaram a retirar café dos armazéns, referente às opções, por causa da falta de pagamento. No entanto, segundo ele, o problema foi localizado, em algumas áreas produtoras do sul de Minas. “As grandes cooperativas já pagaram antecipadamente ao produtor”, observa. A Sincal vai recomendar a entrega do produto ao governo no vencimento do segundo lote das opções. “É importante consolidar essa política.”