ECONOMIA
10/01/2010
Estado volta a se destacar na produção, com a utilização de alta tecnologia
A Bahia retomou papel de destaque na produção de cafés especiais, tipo gourmet, vencendo concursos de qualidade. Os produtores baianos, porém, não se dedicam apenas aos cafés finos que, aliás, correspondem à mínima parcela da produção. No cerrado baiano, oeste do Estado, a cafeicultura assume características empresariais, com aplicação de alta tecnologia, como irrigação e mecanização da colheita. Já no sul do Estado, tradicionais cafeicultores capixabas extrapolaram a divisa para levar às terras baianas o melhor estilo de cultivo de café robusta.
O cultivo de grãos especiais concentra-se em região produtora na Bahia, chamada genericamente de planalto. Nessa área ouve processo de revitalização a partir de 2001, quando cafeicultores de regiões como Chapada Diamantina, Planalto de Vitória da Conquista e região de Brejões e Itiruçu passaram a investir na qualidade do café, como forma de driblar a crise de baixos preços. Além das sucessivas safras pouco remuneradoras, a falta de investimentos e a momentânea “febre” do cacau mantiveram os cafezais do planalto em estado de letargia. Mas a vocação pela produção de grãos finos vem de meados do século passado, quando se tirava desses cafezais o washed Bahia (café lavado da Bahia), da região de Brejões, que na Europa era famoso e valorizado.
Nos últimos anos, os cafés baianos voltaram a se destacar no mercado. Em 2006 e 2007, concurso de qualidade da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) considerou os cafés de Piatã, na Chapada Diamantina, como os melhores do Brasil. Em 2009, especialistas internacionais elegeram o cafeicultor Cândido Vladimir Ladeia Rosa, da Fazenda Ouro Verde, em Piatã, no reconhecido concurso da BSCA.
CLIMA E RELEVO
“As condições de clima e relevo são fundamentais na qualidade do café lavado da Bahia”, diz o coordenador do Programa Estadual de Café, Ramiro Neto Souza do Amaral, da Secretaria de Agricultura do Estado. Na Chapada Diamantina, os cafezais são cultivados em altitude de 800 a 1.400 metros. As chuvas são regulares de outubro a março e as temperaturas médias favorecem o desenvolvimento dos grãos. Entre abril e agosto ocorrem chuvas leves, com o período de colheita. Isso poderia estragar os cafés, mas a colheita seletiva evita a derriça dos grãos e possíveis prejuízos à qualidade.
As regiões tradicionais de produção de café na Bahia abrangem 110 mil hectares: 50 mil hectares na chapada, 45 mil hectares no planalto de Vitória e 15 mil hectares na área serrana. Os produtores colhem anualmente, 1,4 milhão de sacas de 60 kg de café: 650 mil sacas na Chapada, 650 mil no planalto, além de 100 mil sacas na região serrana. Entre 30% e 40% é grão fino, de maior valor. O ágio pode alcançar de R$ 50 a R$ 100, em relação às cotações do café convencional.
Os cafeicultores das regiões tradicionais são favorecidos por solos férteis e oferta de água. “São pequenos produtores da agricultura familiar, com custos mais baixos em relação a outras regiões do Estado”, diz Souza do Amaral. O presidente da Associação dos Cafeicultores de Piatã, Michael Freitas de Alcântara, diz que no município há de 200 a 300 produtores de café, com propriedades cuja área média é de 2 a 3 hectares. Desses, entre 30 e 50 cafeicultores dedicam-se ao cultivo de grãos especiais. A produção de café em Piatã alcança média anual de 18 mil sacas, das quais entre 4 mil e 5 mil são grãos finos.