07/01/2010
Priscila Machado
SÃO PAULO – Um aperto na oferta brasileira e colombiana aliada à uma retração nas exportações da América Central deverão resultar em escassez de café no mercado mundial no próximo ano. Em uma estimativa conservadora, os estoques de grão no Brasil devem cair pela metade na passagem do ano-safra e ficar abaixo de 2 milhões de sacas.
A tendência na redução da oferta mundial já começa a ser sentida pelo mercado e a influenciar as cotações da commodity. Em uma semana, a Bolsa de Nova Iorque (ICE) subiu 4,08% nos contratos para entrega em março próximo. Na semana anterior, o contrato teve o preço médio de 135,85 centavos de dólar por libra-peso. Nesta semana, a cotação média está em 141,5 centavos de dólar por libra-peso.
A cotação interna também se mostra mais firme nas últimas semanas. Nem mesmo os sinais de recuperação do dólar foram capazes de reverter a tendência altista. “A valorização do dólar frente ao real permitiu que os preços internos se mantivessem praticamente nas mesmas bases e a grande demanda por cafés de qualidade contribuiu para a manutenção dos atuais patamares de preços”, avaliou Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Durante anúncio do resultado da safra 2009/2010, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, afirmou que o mercado sinaliza uma forte tendência de melhoria de preço do café nos próximos anos. “O preço do café vem reagindo no mercado internacional, acreditamos em ligeiro crescimento no consumo mundial do grão, no prazo de quatro a cinco anos”. Ainda de acordo com o ministro, os estoques mundiais tendem a diminuir, o que vai elevar o preço do produto. “Essa situação é extremamente favorável para países grandes produtores, como o Brasil”, declarou.
Para Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, a evolução nos preços do café é um sintoma de uma realidade na qual o mercado começa a perceber que será um ano de déficit na produção. “A produção brasileira é menor, não houve queda de consumo e a queda nos estoques reflete o quadro de aperto na oferta”, disse.
Segundo o analista, a tendência é a de que os preços se mantenham em patamares maiores dos que apresentaram ao longo de 2009. Isso porque o gargalo da entrada da safra brasileira e a florada de setembro já foram superados. A partir daí surgiram novos fatores que ajudaram na puxada de preço: a safra brasileira foi prejudicada pelo excesso de chuvas, o que deverá afetar a produtividade. “A safra mudou de status e isso foi precificado pelo mercado”, avaliou Barabach, “As chuvas na colheita já havia resultado na escassez de qualidade de bebida boa e agora isto está mais evidente”, destacou.
O excesso de chuvas pode ainda facilitar a proliferação de pragas e doenças, como a ferrugem, e aumentar os custos de produção com podas e desbrota.
O cenário do café no Brasil pode ser maximizado para o mundo. Para a Colômbia, o ano de 2010 será de recuperação, mas não deve voltar aos patamares de 12 milhões de sacas. O processo de renovação das lavouras foi impactado pelo quadro climático e algumas estimativas dão conta de que a colheita não ultrapasse as 10 milhões de sacas.
Na América Central, o fluxo de embarque também segue abaixo do normal. “Era para estar sendo ofertado mais, mas eles não estão agressivos na ponta vendedora. Talvez esse começo de safra não esteja com o volume esperado”, avaliou Barabach.
Para apertar ainda o quadro de oferta e demanda, a Green Coffee Association divulgou que os estoques norte-americanos de café verde totalizaram 4,7 milhões de sacas em 30 de novembro. Uma redução de 259,2 mil sacas em relação as pouco mais de 5 milhões de sacas existentes em 31 de outubro de 2009.
Levantamento de safra
O ministro da Agricultura anuncia hoje a primeira estimativa da produção de café para 2010. O detalhamento do estudo elaborado pela COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) será divulgado em Brasília. O trabalho de campo para a produção cafeeira foi feito pelos técnicos da empresa estatal, entre 23 de novembro e 4 de dezembro de 2009.
Um aperto na oferta brasileira e colombiana aliado a uma retração nas exportações da América Central deverá resultar em escassez de café no mercado mundial no próximo ano. Em uma estimativa conservadora, os estoques de grão no Brasil devem cair pela metade na passagem do ano-safra e ficar abaixo de 2 milhões de sacas. A tendência na redução da oferta mundial já começa a ser sentida pelo mercado e a influenciar as cotações da commodity. Em uma semana, a Bolsa de Nova York (ICE) subiu 4,08% nos contratos para entrega em março próximo. Na semana anterior, o contrato teve o preço médio de 135,85 centavos de dólar por libra-peso. Nesta semana, a cotação média está em 141,5 centavos de dólar por libra-peso. A cotação interna também se mostra mais firme nas últimas semanas.