ECONOMIA
06/01/2010
O excesso de chuvas no segundo semestre de 2009 comprometeu a formação dos brotos florais resultando floradas irregulares e baixo ‘pegamento’ dos frutos
Tomas Okuda
Agência Estado
São Paulo – O clima é uma preocupação para o setor cafeeiro em 2010. O excesso de chuvas no segundo semestre de 2009 comprometeu a formação dos brotos florais nos cafezais e o resultado foram floradas irregulares com baixo ‘pegamento’ dos frutos. ”A safra deste ano é cheia, mas pode não ser tão exuberante como se imaginava inicialmente”, diz o especialista Celso Luis Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Pior: o excesso de umidade induz a produção de folhas no pé de café, que fica vistoso, mas encarece a colheita por causa da maior dificuldade de se apanhar os grãos. O produtor também vai gastar mais com podas e desbrota do cafezal, observa Vegro. Além disso, cresce o risco de incidência de pragas e doenças, já que o excesso de umidade, as altas temperaturas do verão e a grande quantidade de folhas tenras são ‘um prato cheio’ para a ferrugem, principalmente. ”A safra 2010/11 deverá ser trabalhosa, custosa e a qualidade talvez seja até inferior à deste ano, que já não foi boa por causa das chuvas durante a época de colheita”, avalia o pesquisador.
O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes, endossa que a cafeicultura deve ter dificuldades em 2010. De acordo com ele, o produtor está descapitalizado, sem condições de tratar a lavoura. ”O excesso de chuva provocou floradas irregulares, o que deve reduzir a próxima safra, apesar de cheia.”
O cenário da safra de café no Paraná é parecido. Segundo Paulo Sérgio Franzini, secretário executivo da Câmara Setorial do Café do Paraná, ligada à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), o problema foi o volume e a frequência da chuva no início da floração, a partir de setembro do ano passado. ”O período que normalmente é seco e frio – o que favorece a boa formação dos brotos – foi de muita chuva”, conta. ”É um fato que não me lembro de ter acontecido em outros anos”, diz o secretário.
O resultado disso, acrescenta Franzini, é que hoje em uma única planta pode ser encontrado grãos já formados e grandes, médios, pequenos e ainda flores. ”Não está uniforme” lamenta, frisando que isso dificultará a colheita. Por conta dessa situação, pontua ele, o produtor terá que optar por colher parceladamente – em duas ou três vezes -, mas ver o custo de mão de obra onerado, ou retirar os grãos de uma única vez e perder em qualidade.
Franzini informa que nesta safra a previsão é que sejam colhidas de 2 milhões a 2,2 milhões de sacas de café, segundo levantamento feito pelo Departamento de Economia Rural, órgão ligado à Seab, no ínicio do mês de dezembro de 2009. O volume, por sua vez, é maior que o colhido no último ciclo: 1,5 milhão de sacas.
Mercado
Em relação às perspectivas de comercialização, o especialista Celso Luis Vegro, do IEA, diz que regiões tradicionais consumidoras – Estados Unidos, Japão e União Europeia – ainda não se recuperaram totalmente da crise financeira de 2008. O desemprego provocou a descapitalização das famílias, o que, na avaliação de Vegro, deve levar a uma mudança no hábito de consumo, que tende a se voltar para marcas mais baratas. A consequência é ”a redução do valor agregado pela cadeia”, explica o especialista.
O pesquisador do IEA comenta que as cotações do café, e das commodities em geral, mostram tendência de alta, em dólar. Isso porque os Estados Unidos, maior mercado mundial, deve persistir na trajetória de desvalorização de sua moeda, ”para recompor a economia” desestruturada pela crise financeira. ”Provavelmente, as commodities agrícolas e metálicas devem continuar a subir em dólar”, diz.
No caso específico das cotações do café, Vegro projeta que os grãos tipo robusta continuarão pressionados pelo aumento da oferta do Vietnã, assim como os cafés arábica mais fracos, de qualidade inferior. Em contrapartida, ele estima que grãos mais finos tipo arábica continuarão valorizados, em virtude da menor oferta de arábica lavado, produzido principalmente na Colômbia e América Central. O especialista argumenta que as condições de mercado em 2010 podem ser uma excelente oportunidade ”para o Brasil ganhar mercado de alta qualidade, atuando na reformatação dos blends, em particular para espresso”, deslocando concorrentes.
Ele pondera, no entanto, que nos últimos cinco anos a saca de 60 kg de café tem sido cotada entre R$ 250/R$ 260, quando o ideal, em termos de rentabilidade para o setor, seria preço acima de R$ 300. (Colaborou Erika Zanon)