Agrônomo, Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas e doutor em Fitotecnia (Melhoramento Genético – Cafeicultura), o magnífico reitor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) tem uma história escrita com uma tinta profissional Nobre do café. No comando da quarta melhor universidade do País e a segunda melhor de Minas, Nazareno, como é conhecido, não esconde a saudade e o desejo de retornar às rotinas como pesquisador da academia. Seu nome está marcado em mais de 50 artigos em periódicos, oito livros publicados e mais 18 capítulos em obras que retratam a cafeicultura. Já orientou cerca de 60 estudantes entre iniciação científica, mestrado e doutorado, tendo participado de mais de 130 bancas de avaliação. Nasceu em uma fazenda de café e cresceu apaixonado pela cultura que permearia toda a sua carreira profissional. Em todas as fases de atuação, seja nos campos de avaliação, nos laboratórios ou envolvido em processos burocráticos que lhe impõem uma reitoria, Nazareno empenha-se para o fortalecimento e valorização da cafeicultura.
PEC / Café: Temos um reitor com uma origem no café?
Nazareno: Nasci numa fazenda de café, com parteira ainda. Meu avô era cafeicultor. Mudei para a cidade aos quatro anos, (Pedra Negra 20 km de Lavras). Finais de semana e férias eram inteiros na roça, sempre envolvido com uma lavoura de café terreiro, secadores … A opção para o curso superior não poderia ser outro: Agronomia. Entrei em 1977, na antiga ESAL, hoje Ufla. Desde o primeiro período iniciei como auxiliar de pesquisa em um projeto da Epamig … Optei pelo mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas em Piracicaba (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq). Depois trabalhei na Embrapa em Mato Grosso; embora fosse pesquisa com milho e feijão, arrumei um jeito de trabalhar com café em Alto Floresta. Em 1985, consegui voltar para Minas, para a Epamig em Viçosa, onde efetivamente comecei meu trabalho com melhoramento do café. Em 1994, entrei na ESAL ainda, como professor de Melhoramento Genético e Cafeicultura, continuando os projetos de pesquisa em conjunto com os colegas da Epamig. Apesar dos trabalhos na reitoria me afastarem um pouco da atividade como pesquisador, continuei participando de projetos e orientando estudantes em cafeicultura. Nunca perco uma oportunidade de participar dos eventos, congressos, reuniões …
PEC / Café: na Reitoria da Ufla você buscou Mecanismos para que o café tivesse mais importância, contribuindo para um grande salto de excelência …
Nazareno: Primeiro me envolvi com a Pró-Reitoria de Pesquisa, de 1996 a 1997. Depois, cumpri dois mandatos como vice-reitor e estou no segundo mandato como reitor. Ao todo são 13 anos atuando na gestão da Universidade, focalizando muitas ações para o café. Trabalhamos para que os eventos sobre cafeicultura fossem intensificados, começando com o encontro Sul-mineiro de Cafeicultura, que cresceu e virou o Circuito Sul-mineiro de Cafeicultura, a Expocafé …
PEC / Café: A Coordenação da Expocafé passa para a Epamig, mas a participação da Ufla continua?
Nazareno: Nós ficamos a frente da coordenação por 12 anos, porém, por uma questão operacional exigida pelo Tribunal de Contas da União, a coordenação geral passará a ser da Epamig, que sempre foi nossa parceira neste projeto. O evento é realizado inclusive em uma de suas fazendas experimentais. O que existe é uma restrição quanto às universidades trabalharem os recursos de grandes projetos por meio de Fundações … Pelo tamanho da Expocafé é muito difícil absorver toda sua estrutura. A Epamig tem mais agilidade para esta operacionalização porém, o envolvimento da Ufla Continuará exatamente o mesmo … A mudança será para não deixar que a burocracia comprometa o sucesso do evento.
PEC / Café: Houve também uma intensificação dos projetos de pesquisa?
Nazareno: Uma das estratégias adotadas pela gestão da Universidade foi Integrar os recursos de pesquisa para infra-estrutura, sobretudo do Consorcio (Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café), Bioex (Programa Biotecnológico de Apoio à Competitividade Internacional – CNPq) e outros recursos, para a construção do Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão do Agronegócio Café (CEPE / Café). A Ufla reuniu todo o recurso para montar uma infra-estrutura conjunta, que se tornou o ponto de apoio para os 13 departamentos da Universidade que trabalham com o café com o café. Além das estruturas completas, mantemos uma área de café para condução de experimentos. Com esta experiência conquistamos o Polo de Tecnologia em Qualidade do Café, o Polo de Excelência do Café, o Pólo de Tecnologia em Pós-Colheita do Café e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café, que tem suas sedes no CEPE/Café. Esta foi uma ação estratégica importante, que nos assegura uma continuidade dos trabalhos. Uma tentativa de perenização de uma estrutura que já se tornou referência em café.
PEC / Café: Temos ainda novidades para o futuro?
Nazareno: Com esta referência, outras estruturas da Universidade, mesmo que não sejam vocacionadas somente para o café, passam a priorizar alguma ação voltada para o café. Temos projetos para uma construção do Parque Tecnológico de Lavras, cujo primeiro passo foi a recente inauguração da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incubatec). Biofábricas voltadas para o café já estão surgindo … O café passa a ser um componente forte em todas as ações da Universidade. O Parque Tecnológico, que é um grande projeto , certamente terá empresa vocacionadas para o agronegócio café. Assim, costumo dizer que somos privilegiados por estarmos localizados no centro geográfico da cafeicultura brasileira, da maior concentração de café arábica do país.
PEC / Café: Este Centro de Referência é responsável pela formação de novos profissionais especializados em cafeicultura …
Nazareno: Além dos professores e pesquisadores não só da Ufla, mas de instituições parceiras, os programas de graduação e pós-graduação formam profissionais com um diferencial em agronegócio e cafeicultura, independente do curso, sobretudo pelo envolvimento em estudos sobre a cultura.
PEC / Café: A Universidade vivencia uma fase em que é Exigida uma Maior Aproximação da Ciência com o mercado ea sociedade. Como você vê a atuação do Polo de Excelência do Café, que chega com uma proposta de ser o articulador entre estes elos?
Nazareno: O Polo de Excelência do Café tem esta Capacidade de Integração entre os vários segmentos do café. Acho estratégica esta visão do secretário Portugal (Alberto Duque Portugal) para tornar Minas referência em conhecimento sobre o café. O Polo é uma estrutura muito enxuta, extremamente funcional, quase virtual, que possui uma capilaridade muito grande com os vários segmentos da cadeia, com todas as Instituições envolvidas, estrategicamente localizado em uma Instituição que mantém ampla rede de parcerias. Por meio do Polo, Em outras regiões cafeeiras estão passando a Interagir em projetos grandes. Num curto prazo vamos projetar as ações de Minas para o mundo.
PEC / Café: Num contexto de grandes inovações, a própria Universidade acaba por reavaliar o seu papel? Como é lidar com esta transformação, de formadores de conhecimento para uma cultura do empreendedorismo ?
Nazareno: Num passado não distante, uma universidade se preocupava muito em gerar conhecimento, muito desse conhecimento era pouco difundido. Havia um preconceito com a ideia de pesquisadores envolvidoso com o setor empresarial. A Universidade era o templo do conhecimento científico, não voltado para a solução de problemas diretamente ligada ao mercado. Hoje esta cultura mudou. Há uma inversão, tornou-se regra, não exceção, pesquisadores e professores estarem focados na geração de tecnologias aplicáveis. Este é um caminho sem volta. Assim a universidade interage muito mais com uma sociedade usuária do resultado de suas pesquisas. O foco em cursos de pós-graduação também reforça uma imagem diferenciada da Ufla neste sentido. Mais de 20% de nossos alunos são de Pós-Graduação, em mais de 20 cursos de mestrado e 20 cursos em doutorado. Este direcionamento exige uma maior qualificação dos professores e profissionais de apoio, formando um círculo virtuoso da pesquisa em uma Instituição que era Tradicionalmente Ensino de … Hoje nós temos um perfil de universidade efetivamente voltada para o ensino, pesquisa e extensão.
PEC / Café: A Ufla também foi uma das fundadoras e uma das principais Instituições que compoem o Consórcio Pesquisa Café. Como você visualiza o futuro deste modelo?
Nazareno: É um modelo exemplar e diferenciado, que a Embrapa deseja reproduzir para outras culturas, em outras áreas de atuação. Porém, é um modelo ainda pouco valorizado pelo governo. Temos dificuldade de captação de recursos no próprio governo federal. Para 2010, por exemplo, não conseguimos o recurso para o custeio dos projetos já aprovados em edital. A expectativa de 15 milhões foi frustrada. Falta ainda uma maior conscientização pela própria representação da cadeia, que engloba o Conselho Nacional do Café (CNC), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Abics (Indústria de Café Solúvel), Cecafé ( Conselho dos Exportadores de Café) … Existe uma ideia de que o Consórcio anda com pernas próprias e não é bem assim. Sem o recurso para o fomento da pesquisa corremos o risco de reproduzir o modelo do final da década de 80, início de 90, em que as Instituições se dispersaram. Além disso, com a criação do Consórcio nós passamos um ter um problema com uma capitação de recursos nos Estados de origem, já que as Instituições que fomentavam Tradicionalmente uma pesquisa em café Deixaram de fazê-lo achando que existia o Funcafé como fonte. Quando este recurso não chega, coloca-se em risco todo um programa de pesquisa muito estruturado. O próprio Consórcio corre este risco. Está faltando uma ação estratégica das Instituições que representam os diversos segmentos, talvez via do CDPC (Conselho Deliberativo da Política do Café) e Ministério da Agricutura, para Assegurar uma continuidade desses orçamentos ao longo dos anos e a manutenção dos Projetos e trabalhos.
PEC / Café: Como é o Nazareno produtor de café?
Nazareno: Mantenho uma pequena lavoura de apenas seis mil pés de café para não perder de vez a rotina da atividade. Eu sinto que está cada vez mais próximo de acontecer o que há tempos eu previa … Que sobreviveria na atividade o pequeno cafeicultor familiar em uma ponta e o cafeicultor empresarial na outra. Penso que o médio cafeicultor tradicional não vai resistir na atividade.
PEC / Café: Mas a mensagem continua sendo de perseverança?
Nazareno: Nós, enquanto pesquisadores e professores, não podemos desistir da atividade nunca. Mesmo os Produtores devem ter esperança na recuperação do setor. Como? Não sei. Talvez por meio de uma política pública ou uma guinada do mercado próprio. Gosto de citar uma frase: o café sempre será um bom negócio e, de quando em quando, ele é um péssimo negócio. Nós estamos vivendo um desses momentos, esperando que se torne novamente um bom negócio. Sobretudo, pelo O envolvimento de tantas pessoas …
PEC / Café: O caminho pode ser um produto diferenciação fazer?
Nazareno: Acredito neste caminho. A indústria nacional deve valorizar um produto de qualidade diferenciada, certificado por programas como o Certifica Minas Café. Um prêmio que estimula uma inserção de mais produtores no caminho da diferenciação e valorização de seus produtos.
PEC / Café: Com o fim do mandato, para onde vai o pesquisador / professor Nazareno?
Nazareno: Eu estou começando o caminho de volta. Quando terminar meu mandato na reitoria terei pela frente pelo menos 8 a 10 anos de carreira, que pretendo retomar como pesquisador e professor de Cafeicultura. Este é o meu sonho, com toda a sinceridade. Terão sido 16 anos de atividade administrativa. Fui convidado para esta área justamente para tentar reproduzir na Ufla o modelo que nós vínhamos implementando no Setor de Cafeicultura. Também não tenho qualquer pretensão política. Vou voltar para a pesquisa, que foi o que sempre gostei.
PEC / Café: Ganha a pesquisa cafeeira com o seu retorno …
Nazareno: Ganho também em qualidade de vida, em fazer o que mais gosto nos anos que faltam para eu encerrar minha carreira …. Se Deus quiser!