Melles: 2010 será melhor para o café

29 de dezembro de 2009 | Sem comentários Especiais Mais Café

Deputado Carlos Melles avalia que o produtor mostrou indignação em 2009 e prevê que 2010 será um pouco melhor para o cafeicultor


Abaixo a entrevista com Deputado Carlos Melles, que é presidente da Cooparaíso e da Frente Parlamentar do Café


 


Capacidade de se Indignar


Na verdade 2009 foi um ano em que o programa brasileiro, ou as políticas brasileiras de café, saíram da inércia, mas saíram da inércia justamente porque o café não tinha nenhuma política. O café ao longo desses últimos anos – e que anos – sobretudo de 2000 para cá, o produtor vem acumulando prejuízos. E acumulando prejuízos e sem comunicar bem com a sociedade, com o governo, no sentido de passar a angústia, os seus prejuízos, a falta de expectativa, a inadimplência, a insolvência. O cafeicultor perdeu a capacidade de indignar, de se inconformar, mas o ano de 2009 foi um ano diferente sob esse aspecto.


Produtores foram para as ruas


Os produtores foram às ruas no SOS Café, foram 25 mil produtores rurais em Varginha, a sociedade desceu as suas portas, fechou as suas portas na maioria das cidades, ou seja, começou haver uma massificação do problema do café, que iniciou-se no dia 10 de dezembro de 2008 numa audiência pública em Brasília. Fizemos essa audiência pública chamada SOS Café, no qual nós colocamos as premissas fundamentais que o setor precisava para solucionar os seus problemas. Mas quem colocava, foi a Frente Parlamentar do Café, que é a representação política do setor; foi o Conselho Nacional do Café – CNC, que representa os produtores e as suas cooperativas, e também participaram os sindicatos, as suas associações, e convidamos as pessoas responsáveis, como do lado do governo o Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda, das lideranças constituídas e expusemos publicamente o problema.


A audiência pública serviu justamente para isso, para levantar o problema, para democratizá-lo e buscar as soluções. E só após um ano de tanta tentativa, parece que saímos da inércia, e o governo entendeu pela pressão, pelo trabalho constante, exaustivo, batalhador de todos, dos políticos, dos líderes, dos produtores, das cooperativas, dos sindicatos, e aí houve uma proposta de um pacote para o café.


No programa oficial, os produtores fizeram um documento muito bem feito, primeiro pela coerência do produtor. O produtor pedindo uma auditoria em suas contas, o produtor não convencendo do seu endividamento, não convencendo do seu prejuízo, pediu ao governo que fizesse uma auditoria em suas contas, para ver se era verdadeiro aquele endividamento.


Medidas do governo


Eu diria que o governo se negava a fazer isso, porque ele sabe que é verdadeiro, ele sabe que as tabelas que o SOS Café demonstrou, que todos os produtos, a energia elétrica, o calcário, o adubo, o salário mínimo subiram mais de 500%, ao passo que o café subiu 25%, isso ficou de uma maneira muito clara, muito incontestável. E o produtor pediu também que desse um prazo de 20 anos, uma vez consolidado esse endividamento e trocasse essas dívidas em café, que fosse pago 5% ao ano em 20 anos com um preço de R$ 320 a saca, que era o preço da conversão. Isso tudo foi feito e muito bem trabalhado, uma luta para convencer todo o governo. E mais no final do ano, ele fez então um pacote. Esse pacote se resumiu em algumas medidas, quais são as medidas nessa retrospectiva:


– primeiro, ele fez um programa de opções de compra de café, ele deu ao produtor o direito de comprar uma opção para vender ao governo. O programa de opções ele enxuga, tira do mercado 3 milhões de sacas, aí a ação das cooperativas foi vital. Nesse programa de opções, o produtor recebe R$ 303,00 no primeiro lote, ou seja, a primeira política de reconstituição de estoque foi feita pelo programa de opções;


– um outro programa foi a aquisição de café num preço mínimo de R$ 261, que é barato, é muito ruim o governo comprar esse café do produtor barato, porque ele vai subir. É uma opção, é uma alternativa que o produtor pode também exercer, para isso, nós colocamos recursos. Existem recursos para isso do Funcafé e do orçamento do governo. Então pode pagar as opções e pode comprar café porque existem recursos assegurados para isso. Mas podem também fazer a conversão das suas dívidas, de custeio, armazenamento e dívidas de colheita.


– Conversão das dívidas para café, pode também alongar a sua CPR por 4 anos, e podem também as cooperativas de crédito emprestarem até R$ 200 mil para os produtores, para que eles possam fazer uma solução de seu endividamento, ou seja, o pacote foi bom, ele não foi completo nos valores que queríamos e está sendo incompleto na execução. É bom destacar que o governo perdeu a capacidade, a agilidade de comprar café, de receber café, de classificar café, e isso tudo está dando certa angústia. Os bancos estão demorando a fazer as negociações, sejam os bancos, as cooperativas de crédito, as cooperativas precisam estar muito mais aliadas e cerradas com o produtor. Mas as cooperativas estão fazendo um trabalho maravilhoso, elas estão fazendo troca de produtos para o produtor fazer o seu ano agrícola, ela está fazendo venda futura a um preço muito melhor. Eu sei que as cooperativas hoje, eu diria que são a alma do setor produtivo, porque elas fazem não só para o seu produtor, mas fazem também para o não produtor. Porque se um faz e eu tenho o mesmo produto, então por isonomia, ali fora eu acabo também tendo a mesma oportunidade ou a mesma vantagem.


Safra menor que a esperada


É um programa de ordenamento de 10 milhões de sacas, que é de uma safra pequena de baixa qualidade, e que atinge a safra do ano que vem, que seria uma safra grande de aproximadamente de 50 milhões de sacas e que não o é mais, ela é pelo menos de 10% a 15% mais baixa, ou seja, ela é de 43 a 45 milhões de sacas. Foi uma época que nós temos aí 6 a 7 floradas, coisas que não aconteciam antes, chuvas é sempre bom, mas também em excesso prejudica. Enfim, é muito cedo para dizer o que vai ser a safra futura, mas ela é seguramente menor do que o esperado, então faz parte da cooperativa fazer uma retrospectiva, fazer um balanço para o produtor sentir como é que foi o ano, vamos fazer com todos, com os gerentes da área comercial da área financeira, com o gerente da área administrativa, da área de café, para que todos possam participar e falar um pouco com o produtor, o que aconteceu nesse ano, que balanço eles fazem, que retrospectiva eles fazem e que futuro nós vamos ter.


2010 melhor para o café


Eu arrisco já dar um palpite para o futuro, o futuro do café é bom. Foram tão difíceis esses anos que a escassez de oferta de café no mundo é uma realidade, os preços vão poder subir bastante, um pouquinho de política de regulagem de oferta que o Brasil está fazendo, vai dar um grande resultado, os outros países não têm a capacidade que o Brasil tem. Nós já temos hoje a maior quantidade de cafés certificados do mundo, nós exportamos, somente o estado de Minas Gerais, mais de 70% dos cafés arábicas para o mundo- o mundo toma o café mineiro, é uma condição quase que única de ser o grande abastecedor de arábica do mundo. Então, prenunciamos dias melhores. E ao prenunciarmos dias melhores, nós desejamos que 2010 seja marcado pela retomada de uma palavrinha mágica, que há muitos anos o produtor não vê: renda, ou seja, ao menos vender um pouquinho acima do preço de produção.


Eu tenho a impressão que em 2010, nós vamos mudar o braço da balança. E o produtor se Deus quiser vai poder ter uma vida um pouco melhor.

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