Anormalidade ocorrida na floração em 2009 estaria relacionada a condições climáticas atípicas
Florações atípicas do café neste ano de 2009 estão trazendo transtornos para técnicos e cafeicultores das regiões produtoras brasileiras, que estão preocupados com a queda da produção e da qualidade do produto. Por este motivo, pesquisadores do Centro de Ecofisiogia e Biofísica do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) estudaram as causas que poderiam ter contribuído para a ocorrência deste problema.
Os pesquisadores concluíram que a anormalidade ocorrida na floração do cafeeiro em 2009, nestas regiões, estaria relacionada às condições climáticas atípicas, principalmente à distribuição das chuvas, ocorridas no período indutivo da formação de gemas florais e à ausência de um período seco no inverno, necessário à uniformização e maturação das gemas florais. Com a pesquisa verificou-se que o problema é a ocorrência, nestas regiões, de vários períodos de chuvas alternados por períodos secos, o que está provocando amadurecimentos muito desuniformes dos grãos.
O pesquisador do IAC, Joel Irineu Fahl, que participou do estudo, explica que o processo de floração do cafeeiro passa por diversas etapas, desde a indução até o amadurecimento do fruto para a fase da colheita. Todas as etapas são influenciadas pelas condições do ambiente, como a luz, a temperatura do ar e a disponibilidade de água.
O período de chuvas nas regiões produtoras de café no Brasil é caracterizado por excessos hídricos, que começam em setembro/outubro, indo até meados de março/abril. Essa distribuição de chuvas gera, assim, um modal, quando então, inicia-se o período de deficiência hídrica, de maior ou menor intensidade, que se estende até o reinício das chuvas.
O pesquisador explica que a intensidade das temperaturas ocorre, aproximadamente, de acordo com o padrão de distribuição das chuvas, temperaturas mais elevadas nos períodos chuvosos e mais amenas nos períodos secos. Com essas condições do ambiente o período indutivo das gemas florais ocorre de fevereiro a junho.
Conforme explica Joel Fahl, no ano de 2009, semelhante ao que ocorreu em 2008, a cafeicultura da região Sudeste e do Paraná, tem apresentado floração atípica, com várias floradas em períodos diferentes, caracterizada por floradas de baixa intensidade em períodos longos de agosto até novembro. Essa distribuição das floradas, sem uma definição de uma ou duas principais, traz dificuldades na colheita pelo fato de ter frutos de vários tipos de amadurecimento, o que acarreta em diminuição da produção e da qualidade da bebida.
Esse comportamento atípico das floradas está ligado diretamente às condições climáticas, uma vez que depende do clima para a produção de café. Ao analisar o balanço hídrico de 2009, os pesquisadores concluíram que ao contrário dos períodos normais de chuva, houve vários períodos alternados por períodos secos, gerando vários modais durante o período indutivo das gemas florais.
De acordo com o balanço hídrico tivemos um inverno chuvoso sem um período de seca, o qual atuaria uniformizando a maturação das gemas florais. Com isso as chuvas que aconteceram a partir de agosto resultaram em pequenas floradas de intensidades variáveis.
O balanço hídrico climático do ano de 2009 mostra vários pequenos modais, indicando, portanto, a ocorrência de vários ciclos de indução floral durante o período de fevereiro a junho. Esse período irregular que ocorreu neste ano, resultou em frutificação irregular, com frutos nos mais diferentes estágios de desenvolvimento. Isso gera, além de um efeito hormonal negativo dos frutos maiores sobre os menores, uma competição por carboidratos, entre os frutos em diferentes fases de desenvolvimento, o que resulta em redução da produção. E juntamente com os efeitos negativos do clima atrapalha na qualidade da produção.
Além de Fahl, o estudo foi realizado pelos pesquisadores Maria Luiza Carvalho , Carelli, e Marcelo Bento Paes de Camargo.