08/12/2009 –
Café natural e premiado
Grãos tipo gourmet, do Noroeste do Paraná, ganham espaço e reconhecimento. Produtora prioriza qualidade e vence prêmio nacional
Marcos Paulo de Maria e Renan Colombo, do Jornal de Maringá On-line
Mandaguari – Um café cremoso com sabor que lembra baunilha e amêndoa. Foi com dez sacos desses grãos que a produtora Olívia Faustinoni da Silva, de Mandaguari, a 35 quilômetros de Maringá, venceu o último Concurso Nacional ABIC de Qualidade do Café. Trata-se da mais recente conquista da cafeicultura local, que neste ano foi premiada outras vezes e desponta como um polo de qualidade da cultura.
A chácara de Olívia, assim como outras da região, é de pequeno porte e se volta para uma produção menor, porém mais qualificada, no que é chamado pelos especialistas de “café gourmet”. Para se ter uma ideia, a cafeicultora, que tem 77 anos e há dez trabalha na cafeicultura, produz cerca de 200 sacas por safra.
O degustador da cooperativa Cocari, que congrega 2,5 mil cafeicultores entre os municípios Marialva e Mandaguari, Mário da Silva, explica que os processos de colheita e secagem são minuciosos. O grão é colhido no que é conhecido como sistema de pano. “O produtor coloca um pano sob os pés de café, que são chacoalhados para que caiam somente os frutos maduros. Depois disso, a secagem é feita em terreiros suspensos, que evitam a umidade e a consequente fermentação.”
Além do manejo cuidadoso, o clima da região também contribui para apurar a qualidade da planta. “A altitude facilita a maturação do café, enquanto o clima equilibrado de sol e chuva propicia grãos uniformes e encorpados”, explica Silva. Isso também deixa o produto mais cremoso e menos ácido.
Olívia destaca ainda o método orgânico que aplica na própria lavoura, que fica em uma área de reserva ambiental, o que restringe o uso de agrotóxicos. “Todos aqui na região são incentivados a cuidar muito bem da lavoura. A Emater e a Cocari prestam ótima assistência técnica. Foi com eles que aprendi a plantar café”, conta.
Mitos
Na opinião do engenheiro agrônomo Florindo Dalberto, que já presidiu o Iapar e hoje trabalha na organização do Concurso Café Qualidade Paraná, também vencido por produtores da região de Mandaguari, as sucessivas premiações da cafeicultura local contribuem para derrubar o mito da baixa qualidade do café paranaense.
“O nosso café sempre foi produzido de forma extensiva. Já fomos os maiores produtores do mundo. O problema é que isso afetava a qualidade do produto. A partir de década de 1990, adotamos um novo padrão tecnológico e a qualidade da safra está crescendo”, explica.
Ele estima que cerca de 30% das lavouras se dediquem a essa produção mais qualificada e menos volumosa, com destaque para regiões como Norte Pioneiro, Noroeste e Oeste. “O nosso desafio agora é aumentar também a qualidade das lavouras que produzem de forma extensiva.”