ARTIGO – Cadeia de Produção Agroindustrial do Café

25 de maio de 2008 às 11:52 Por Daniel Pereira Scombati 1. INTRODUÇÃO Os primeiros relatos do café se estendem desde o ano mil e se misturam entre lendas e realidade, mas a história mais aceita é do pastor Kaldi, o qual viveu na Etiópia e que ao ver as suas ovelhas comerem o fruto […]

25 de maio de 2008 às 11:52


Por Daniel Pereira Scombati


1. INTRODUÇÃO


Os primeiros relatos do café se estendem desde o ano mil e se misturam entre lendas e realidade, mas a história mais aceita é do pastor Kaldi, o qual viveu na Etiópia e que ao ver as suas ovelhas comerem o fruto do café e ficarem com energia extra. Repassou a experiência para um monge da região que começou a utilizar e este relatou que conseguira resistir o sono ao ingerir a infusão.

O café possui diversas qualidades, entre as mais conhecidas podemos citar o Café Arábica(Coffea Arábica) e Café Robusto(Conillon), sendo que cada uma das duas tem um grande número de variedades e linhagens. O Arábica produz um café mais fino, requintado, tem origem no Oriente Médio e é cultivado em regiões com altitude acima dos 800 metros. Já o Robusto tem um trato rude e pode ser cultivado ao nível do mar, tem um sabor típico e único, muito utilizado em café solúvel, tem maior concentração de cafeína do que o Arábica e é originário da África.

No Brasil, o café chegou pelo norte do país, em Belém no ano de 1727, trazido diretamente da Guiana Francesa pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta devido ao pedido do governador do Maranhão e Grão Pará. Desde esta época o café já possuía muito valor comercial e o tipo de muda a qual ele trouxera era Arábica.

Devido às condições climáticas, o café se espalhou rapidamente atendendo o mercado doméstico e em pouco tempo passou de um produto secundário para a de produto-base da economia da época. Em 1929 em meio à crise mundial devido à quebra da bolsa de Nova York, os cafeicultores viram o valor do café cair bruscamente. Milhares pés de café foram erradicados e milhões de sacas de café foram queimadas na tentativa de levantar o valor do produto.
Economicamente, o café é importante desde a época imperial. As primeiras exportações do produto se iniciam a partir de 1731/32 e se tornam expressivas a partir de 1802. Em 1831 a receita proveniente da vendas de café no mercado representou efetiva contribuição ao pagamento da dívida externa brasileira. Em 1849/50, a produção brasileira de café atingiu a 40% da produção mundial. Chegou a contribuir isoladamente com 70% do valor de nossas exportações no período de 1925/1929 e, embora tenha, ao longo do tempo, diminuído essa participação, dada à contínua diversificação de nossa pauta de exportações, o produto constitui-se, ainda hoje, expressivo gerador de divisas.

No período 1987/98, de uma produção mundial média anual de 100 milhões de sacas de café, cerca de 25% eram provenientes do Brasil. Em nível mundial, o café constitui-se o segundo mais importante produto em valor agregado. Apenas em 1997, esse produto gerou mais de US$ 3 bilhões em receitas cambiais para o Brasil.

Em 1998, a receita de exportação do café atingiu US$ 2,6 bilhões, correspondendo a 5,1% do valor total das exportações brasileiras. Em 1998/99, de uma produção global de 106 milhões de sacas, o Brasil participou com 24,9% e em 1999/2000, de um total de 111,1 milhões de sacas, 23,9% são provenientes do Brasil.


2. DESENVOLVIMENTO


Hoje o café é o segundo maior gerador de riquezas do planeta, perdendo só para o petróleo. É um mercado gigante que movimenta anualmente 91 bilhões de dólares e emprega cerca de meio bilhão de pessoas, 8% da população mundial.

Atualmente o Brasil possui uma área plantada de 2,7 milhões de hectares com aproximadamente seis bilhões de pés plantados. Com uma exportação média de 28 milhões de sacas, é o principal exportador e corresponde por um terço de toda produção mundial. O setor é responsável por sete milhões de empregos diretos e indiretos e gera uma riqueza de dez bilhões de reais (cerca de três bilhões de dólares).

Em 2006, o Brasil produziu 42.512 milhões de sacas entre arábica e robusta, o segundo e o terceiro colocado são, respectivamente: Vietnã com 15 milhões de sacas do café tipo robusta e Colômbia com 11.600 milhões de sacas do tipo Arábica.

No Brasil o café se produz basicamente em 11 estados e abrange 1.850 municípios. Principais Estados produtores e previsão de safra 2007/2008:
Minas Gerais – 14.372 milhões de sacas;
Espírito Santo – 8.882 milhões de sacas (maior produtor de robusta);
São Paulo – 2.580 milhões de sacas;
Bahia – 2.028 milhões de sacas;
Paraná – 1.855 milhões de sacas.
Os principais paises importadores do café brasileiro são: Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão e Bélgica.
De 2002 a 2006, o Brasil exportou cerca de 134,10 milhões de sacas.


A estimativa para a safra 2007/2008 é de 32 milhões de sacas de 60 quilos (safra menor em virtude da característica bienal da lavoura). Desse total de sacas, 22,3 milhões, ou 69,5%, são de café Arábica e 9,8 milhões, ou 30,5%, são de café Robusta.

O rendimento médio nacional em 2008 está previsto inicialmente para 1.142 kg /ha (19 sc/ha). A área total ocupada pela cultura, está estimada em 2.405.517 ha, enquanto a área a ser colhida está estimada em 2.198.758 ha. A participação no total produzido pelo país, divide-se assim: Minas Gerais (51,1%), Espírito Santo (23,9%), Bahia (6,6%), São Paulo (6,3%), Paraná (5,6%) e Rondônia (3,9%), Acre, Pará, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal respondem, em conjunto, por 1,9% da produção nacional prevista, enquanto o Rio de Janeiro representou 0,6% e o Mato Grosso do Sul apenas 0,1%. Hoje o preço médio da saca de 60 quilos de café tipo arábica está R$ 268,03 ou US$ 159,54.

A tecnologia maquinaria empregada na produção de café vai desde tratores agrícolas, seguindo por colheitadeiras, pulverizadores, semeadoras e em grandes plantações, faz-se uso de aviões pulverizadores para a aplicação de defensivos agrícolas. Além da tecnologia maquinaria, existe a tecnologia empregada para a criação de novos, mais eficazes e menos agressivos defensores agrícolas, sementes de melhor qualidade, fungicidas, fertilizantes e outros produtos que contribuem para um aumento considerável da produção e de qualidade do produto. A modificação genética do café já se faz presente, o Brasil é grande pioneiro nas pesquisas, mas ainda não permite levar os experimentos a campo. A Nestlé, gigante do setor de alimentos, conseguiu a patente do café transgênico na Europa. A patente concedida refere-se variedade geneticamente modificada de café que bloqueia a produção de uma enzima e aumenta a solubilidade do café em pó. Existem trabalhos de cientistas que pretendem criar uma espécie de café sem cafeína, mas não deve ter resultados significativos nesta década.

Para se transformar o café em produto pronto para o consumo, tem que passar por alguns processos básicos, por exemplo, necessita obrigatoriamente ser torrado. Antes de torrados, os grãos são selecionados, passam por triagem e calibragem. O processo de torra consiste em submeter o grão à elevação progressiva e rápida da temperatura, fazendo com que sua umidade interna chegue a 3%. Durante o processo, os grãos são mexidos continuamente para que a torra seja uniforme. Esta fase é determinante na característica final da bebida, pois o grau de torra evidencia e/ou esconde muitas propriedades do grão.

Para cada cliente ou mercado consumidor, para cada tipo de café (variedade e preparo) há um grau de torra diferente. Esta é a marca registrada de cada empresa e seus diferentes produtos. Depois de torrado o café precisa passar por um processo de desgaseificação e, depois deste descanso, ele será moído ou apenas embalado (café em grãos) dependendo do tipo de utilização a que se destina.

O setor é integrado por mais de 1.500 torrefadoras, a grande maioria de pequeno porte, que respondem por mais de três mil marcas. O mercado é concentrado: as 30 maiores empresas respondem por 50,59%. As torrefadoras são as principais empresas que transformam o café natural em café próprio para o consumo. Podemos destacar entre as maiores e mais importantes do estado de São Paulo, estado que estaremos focando neste trabalho, onde as principais se encontram no município de Barueri: Café Pilão, Café do Ponto, Cia. Cacique de Café Solúvel, sendo que a Cia. Cacique é uma das maiores exportadoras de café solúvel do mundo, Sara Lee Cafés do Brasil, que inaugurou uma fábrica em Jundiaí com investimentos de R$ 90 milhões entre outras.

O café após ser processado, é comercializado basicamente em pó ou em forma solúvel, e consumido internamente ou exportado. O Brasil também é um dos maiores e mais tradicionais exportadores de café solúvel. Em 2006, os negócios gerados pelo setor somaram US$ 385 milhões com a exportação de quase três milhões de sacas. São nove indústrias com equipamentos e tecnologia de ponta que atendem aos mercados interno e externo. Além disso, é o segundo maior consumidor mundial, perdendo somente para os Estados Unidos. No Brasil, o café é a segunda bebida mais consumida depois de água e segundo estimativa em 2010 seremos o maior consumidor mundial de café, consumindo em média 21 milhões de sacas, contra a média estadosunidenses de 18-20 milhões de sacas em média por ano. Enquanto o mercado mundial cresce na casa de 1,5% ao ano, o Brasil só em 2004 cresceu 9% e 2005 5,1%.

Sendo assim, as grandes responsáveis por atender a demanda interna são as grandes torrefadoras, em especial ao grupo de torrefadoras do estado de São Paulo, pois produzem um número enorme de café solúvel e em pó.


A parte de distribuição após a industrialização é feita através principalmente do varejo, onde mercearias, mercados, supermercados e hipermercados são os principais comercializadores de café industrializado para o consumidor final. O consumidor brasileiro de café cresce cada dia mais e já chega a 94% da população acima dos 15 anos. O café industrializado atende as diversas classes sociais, tendo produtos de qualidade maior e com valor alto e de qualidade inferior e valor mais atrativo e isso faz com que seja amplamente distribuído.

A cadeia de distribuição é básica, sendo o produto adquirido pelo atacadista ou já pelo varejista, a logística não é um problema grave, visto que as grandes torrefadoras do estado de São Paulo, atende não só a demanda paulista como dos demais estados, aproveitando da malha rodoviária fazendo uso de caminhões de médio e grande porte. Para atender a demanda dentro do estado, o frete não encarece e torna o produto viável para a compra, com rápida entrega e conversando o produto com as características naturais.

Um setor que cresce a passos largos são as cafetarias, que já estão fazendo parte do cotidiano dos brasileiros e paulistanos. O setor tem um potencial de crescimento de 20% ao ano e este ano, estima-se que existam cerca de 3 mil unidades no país inteiro, com maior concentração na capital paulistana. Uma prova disso foi a inauguração de uma franquia da rede mundial de cafeteria Starbucks na capital paulistana.



3. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Considerando as estimativas para a produção e consumo são animadoras. O consumo está crescendo e a estimativa que continuará a crescer numa proporção de 1,9% ao ano até cerca de 2020 e a produção estará aumentando em cerca de 0,6% ao ano. Sendo assim, os produtores de café estarão vislumbrando uma oportunidade de crescimento para atender a demanda, fazendo com que os valores estejam em crescente. De outro lado se vê em gráficos que em 2007 alcançamos um dos mais altos valores de revenda e isso pode fazer com que o preço caia no decorrer dos anos. Porém as estimativas demonstram exatamente o contrário.
Para melhorar a produtividade e qualidade do café do estado de São Paulo, faz-se necessário programas e projetos de incentivo aos produtores, programas de qualidade total desde a lavoura até a torrefação, procurar operar com o menor custo possível e com isso fazer com que o café nacional tenha qualidade e valor competitivo para manter a hegemonia de liderança no mercado mundial, além de promover o desenvolvimento sustentável dos micros e pequenos produtores rurais, fazendo com que o mercado se abra para a pequena agricultura e a torne competitiva.



BIBLIOGRAFIA


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Associação Brasileira da Indústria de Café. ABIC. História. http://www.abic.com.br/scafe_historia.html#cafe_brasil. Acesso em: 28 de fev. de 2008.


Café Damasco. Sobre Café. http://www.cafedamasco.com.br/sobre_cafe/tipos.htm. Acesso em: 26 de fev. de 2008.


Revista Cafeicultura. Dados Café. http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=10335. Acesso em: 04 de mar. de 2008.


Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo. Base de Dados. http://www.sindicafesp.com.br/nota_consumo_jan08.html. Acesso em: 04 de mar. de 2008.


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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Café. Histórico. Disponível no endereço http://www22.sede.embrapa.br/cafe/unidade/historico.htm. Acesso em: 05 de mar. de 2008.


Terra Biotecnologia. Terra. http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI534587-EI1434,00.html. Acesso em: 07 de mar. de 2008.


Centro de Inteligência do Café. CIC BR http://www.cicbr.org.br/pensa/tela1.php?ic=1&is=1&c=oferta&ip=4. Acesso em: 29 de fev. de 2008.

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