ENCAFÉ: INDÚSTRIA TEM DE ENFRENTAR BAIXA RENTABILIDADE COM ALTA QUALIDADE

21 de novembro de 2009 | Sem comentários Consumo Torrefação

Por Lessandro Carvalho, de Camaçari/Guarajuba, Bahia

SAFRAS (20)  As indústrias de café tiveram mais um ano de muitas dificuldades com a baixa rentabilidade na venda de seus produtos. Como a cafeicultura, como o produtor, também a indústria enfrenta o paradoxo de estar vendo um consumo em ampliação constante mas com altos custos, tendo de vender mais e mais para compensar a baixa rentabilidade. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), Nathan Herszkowicz, só
através do investimento em cafés de alta qualidade se pode enfrentar esse paradoxo e o problema da baixa rentabilidade.

Em entrevista à Agência SAFRAS durante o 17o Encontro Nacional da Indústria do Café (Encafé), Herszkowicz destacou que o evento deste ano está focado na alta qualidade do café. “É uma realidade geral no mercado, não é mais apenas um nicho”, afirmou. Em 2009, apesar da crise e das dificuldades das empresas, não houve redução de demanda neste segmento. 

O Encafé, que se realiza de 18 a 22 de novembro na Praia de Guarajuba, município de Camaçari, próximo a Salvador, na Bahia, tem justamente como tema “O crescimento do Mercado de Cafés de Alta Qualidade”. Herszkowicz destacou que esta é mais uma oportunidade para as empresas discutirem e se posicionarem para enfrentar a baixa rentabilidade. No formato desse ano, há mais espaço para debates e trocas de experiências entre as empresas, buscando caminhos para se chegar à produção de mais marcas de alta qualidade, com maior valor agregado, o
que pode compensar a rentabilidade baixa que as indústrias se deparam na venda de seus cafés mais comuns, tradicionais.

A ABIC possui o Programa de Qualidade do Café (PQC), cujas indústrias participantes tem a qualidade de seus cafés certificada desde que atinja certos padrões de qualidade. Assim, suas marcas ganham o selo do PQC, o que demonstra ao consumidor final que aquele café e sua empresa fabricante seguem normas específicas de qualidade desde a compra dos seus grãos até a produção final do torrado e moído. 

A ABIC conta hoje com 430 empresas associadas, que representam um total de cerca de 1.200 marcas. Atualmente, 60 empresas possuem a certificação do PQC, representando um total de 332 marcas. Destas, 80 são marcas de cafés especiais, gourmets.

A maioria das empresas associadas da ABIC ainda tem apenas o Selo de Pureza, que é a condição básica para a indústria fazer parte da Associação. Herszkowicz afirma que a adesão ano a ano ao PQC é crescente por parte dos industriais. Observa que os cafés tradicionais certificados pelo PQC tem uma valorização média de 11% contra marcas tradicionais não certificadas. 

Herszkowicz lembra que o setor enfrenta muita concorrência e concentração no varejo, que quer “preços baixos” e pressiona a indústria. Ademais, o café é o produtor que menos subiu de preço desde a instituição do Plano Real. Por isso, vendendo grandes volumes de cafés tradicionais sem certificação, as indústrias terão somente baixos índices de rentabilidade, tendo que cada vez vender mais e reduzir custos, o que acaba no final das contas afetando a
qualidade.

O caminho tem que ser o inverso. Para enfrentar a baixa rentabilidade em marcas tradicionais, as indústrias têm que buscar a produção de cafés de alta qualidade, com maior valor agregado, tentando certificar seus cafés para melhorar a rentabilidade geral das empresas no seu mix de produtos. Por isso mesmo, no Encafé deste ano estiveram presentes e atuando em palestras e debates grandes empresas certificadoras, como Utz Certified e Rainforest Alliance. LC

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