(a continuação…)
Atendendo a pedidos, e percebendo a necessidade de maiores explicações segue o texto abaixo:
Vamos ao conteúdo, com comentários, a este relatório.
Teve o inicio de sua elaboração logo após a conclusão de outro, intitulado “Agenda Estratégica do Café”. Muitas similaridades estes dois relatórios possuem, sendo que estas, em nada contribuem para a atividade produtiva, ou seja, a cafeicultura.
Em alguns tópicos o relatório em questão se apresenta totalmente discordante sob os mesmos temas desenvolvidos.
Em outros temas, como, por exemplo, a defesa pelo Draw Back , bem como pela indústria de café solúvel, tornam-se insistentes e não apenas constantes, levando a conclusões diretas pela existência, improcedente ao relatório, de outro foco principal, sendo este em solucionar possíveis problemas na indústria de solúvel e não na atividade cafeeira, aqui denominada cafeicultura. Neste caso, indicado seria outro relatório, com outro título e desenvolvimento, pois este não é o procedente. Indícios desta natureza são presentes nos dois relatórios.
Acreditar que o segmento produtivo cafeeiro defenda o Draw Back, bem como os interesses financeiros da indústria de solúvel, seria ingênuo, assim como o contrário, contudo, por ingenuidade, o que seria inadmissível, ou por outros interesses, neste caso, escusos, os representantes da cafeicultura assinam a concordância por este procedimento e isto necessariamente precisa ser justificado.
Por isto, surgem as questões: Em especial ao título deste relatório, o qual carreia ao desenvolvimento econômico da produção primária de café – Cafeicultura -, o que temas como estes se fazem presentes ou contribuem? Quem seriam os grandes ou únicos favorecidos por estes temas? Cafeicultura significa produção de café, ou os outros elos do agronegócio café são apenas aqui definidos como cafeicultura? Mudou-se o significado da palavra, por qual motivo ou razão? Há de se haver explicações e justificativas, caso contrário, ficará configurado intenções escusas.
Procedimentos como estes, levam a acreditar que a defesa dos interesses da indústria de solúvel e sua relação direta com o Draw Back, ficariam sem sustentação ou visibilidade, caso desvinculados do tema cafeicultura, necessitando desta para atingir seus pleitos econômicos, o que seria outro caso.
Este relatório apresenta omissões, imprecisões e inverdades, como por exemplo:
1. A oferta e demanda estão equilibradas, sendo que a ameaça externa está pontuada no expressivo estoque mundial próximo a 30,0 milhões de sacas, em mãos dos países importadores. O relatório indica o contrário, ou seja, que a produção está excedente ao consumo, o que não é verdade sob os aspectos de avaliação de cenários. Poderá vir a ser, em curto período, porém, com pequena margem de excesso. Ao médio prazo será necessário rever com rigor a expansão da produção cafeeira.
2. O relatório não cita os estoques mundiais, porque? Esta falha é inadmissível, por estarem estes elevados e comprometendo a reação aos preços internacionais. Esta informação é fundamental sob os aspectos técnicos.
3. Os preços estão aviltados devido aos elevados estoques mundiais; e não ao excesso de oferta produtiva, conforme avalia o relatório. Na presença destes estoques mundiais e sendo estes elevados, qual a razão para acrescer com outros estoques aqui no Brasil? Este procedimento torna-se irracional, considerando os fatos.
A finalidade desta ação seria com mais propriedade para atender principalmente a demanda das indústrias, com um produto a baixo preço – considerando que os preços estão abaixo dos custos de produção -, armazenado sem os altos custos deste procedimento, e disponível para quando desejarem, pois não foram apresentados planos ou regras para retenção de estoques, bem como sua futura transferência ao mercado. Esta omissão ou falha é inadmissível sob os aspectos técnicos.
Carregar estoques significa custos elevados, retratado por investimentos em armazéns e logísticas. Estando os estoques sob a responsabilidade de armazenamento e custos pelo governo, torna-se um ponto de extremo favorecimento financeiro à indústria, ou a quem deles se servir.
4. A oferta de crédito é abundante para o setor, o que contribui para elevação da produção, e consequentemente para a queda dos preços, conforme afirma o relatório.
Pode ser abundante o crédito, porém, não suficiente. Além do que, se o setor não mais merece crédito, principalmente em algumas regiões, conforme apontam no relatório. Então por que não determinaram esta projeção antecipadamente através dos imprescindíveis estudos de cenários? Por que injetaram recursos, sabendo que depois a “bolha iria estourar”? A resposta é evidente, sendo justificada pelo fato de que possivelmente nunca elaboraram estudos de cenários no sentido de prever estas condições, possivelmente não o saberiam fazer. Seria, e parece ser incompetência e incapacidade dos responsáveis por isto, e o cafeicultor não pode simplesmente ser abandonado ou desprezado, como se fosse o verdadeiro responsável, pois não o é.
E, por esta incompetência, quem paga seria o cafeicultor, com recomendação para mudar de atividade? O governo fora e continua sendo omisso, e os representantes da cafeicultura avalizam esta condição. Isto é inadmissível, sob os efeitos técnicos, bem como legais, que neste caso se comprovam pelos deveres do governo em estabelecer políticas de proteção.
Soluções existem; o que não existem, ou não desejam, são solucionadores comprometidos aos interesses da cafeicultura.
Propostas existem; o que não existem são intenções de implantá-las.
Portanto, não se justifica recomendar extinção de regiões cafeeiras, tradicionais ou não. Se fosse assim, então que recomendassem às indústrias de solúvel, ou qualquer outra que atravesse por dificuldades econômicas, que sejam extintas, ou se mudem de país. Por que esta recomendação não fora proposta a estas? Justifiquem! Evidente, que não conseguiriam justificar.
5. O mercado internacional de café, considerada a produção, a comercialização e a evolução do consumo, apresenta características estruturais que tornam lentas as reações da produção aos estímulos de preços, conforme avaliado pelo relatório.
O que tornam lentas as reações são as faltas de propostas solucionadoras, tomadas ao nível da produção e aceitas pelo governo, a tempo e em tempo. Mas, havendo propostas consistentes e estruturantes, como as apresentadas pela APAC, por que não são implantadas? A resposta cabe aos dirigentes ou representantes da cafeicultura, que certamente não saberiam se explicar e justificar. A confirmação a esta afirmativa é retratada por este próprio relatório em discussão, assinado por estes.
6. Os países europeus impõem uma tarifa de 9% sobre os cafés solúveis produzidos no Brasil, encarecendo nosso produto e reduzindo os preços pagos aos produtores brasileiros, conforme dito no relatório.
Este tipo de produto industrializado – solúvel – utiliza, geralmente, os piores cafés do mercado, então que transfiram suas fábricas para países que proporcionem isenção de taxas, pois, principalmente os cafés Arábicas não precisam deste tipo de indústria. Não deveria ser esta a recomendação a ser proposta neste mesmo relatório, conforme fizeram aos cafeicultores? A moléstia sendo a mesma, então a medicação não deveria também o ser?
Se os cafeicultores, que reclamam, com razão, dos aviltados preços do produto, são recomendados a mudarem de atividade, quando na ausência de lucros, então por que não recomendaram o mesmo às indústrias de solúvel? Justifiquem!
Por falar em custos, é importante frisar, que o Governo, não apresentou precisamente suas análises sobre estes, mas sim informa, através deste mesmo relatório que o obteve através de 42 cooperativas de produção. O Governo simplesmente, por incapacidade e incompetência não o possui, por não saber fazê-lo. E, quem não sabe fazer, transfere o problema. É simples, quando não há contestações, porém, torna-se sério na presença destas. E, então como justificar isto?
7. A oferta de cafés de baixa qualidade, e o aumento da produção dos cafés Robustas pelos produtores, contribui para a depressão dos preços do café de melhor qualidade, conforme o relatório.
Então, que seja normatizada a qualidade dos grãos cru a serem comercializados, industrializados, bem como a aplicação da rotulação nas embalagens industrializadas. Que retirem do mercado as impurezas e os PVAs, ordenando assim a produção, sem necessitar retrair ou extinguir um parque cafeeiro já existente e com profundos reflexos sociais, ambientais e principalmente econômicos.
Existe uma relação importante ao referirmos à produção e consumo. O que se produz e comercializa é o café colhido nas propriedades, contendo um percentual de impurezas, além dos famosos PVAs (grãos pretos, verdes e ardidos). Mas, o que se consome, não são apenas estas impurezas e PVAs, como também milho, triguilho, palha melosa, etc. Portanto, existe um percentual expressivo de café, que não é café, ou o sendo seria de péssima qualidade, que mascaram o verdadeiro consumo do produto café, quer seja, Arábica ou Robustas/Conillon.
Desta forma, as propostas da APAC também contemplam a ordenação do mercado, com reflexos diretos aos preços, aos consumidores e à economia. Assim, a solução existe e fora proposta, e se aceita provocará resultados.
8. É preciso efetuar um choque de oferta (redução de oferta) do produto brasileiro, conforme o relatório.
Na verdade é preciso efetuar um choque de lideranças, com líderes capazes, audaciosos e solucionadores. Líder existe, o que falta é espaço para ocupar sua posição em meio a tamanhas obstruções.
9. É preciso reduzir a oferta de café no mercado no ano de 2010, conforme o relatório.
Então retirem os PVAs e normatizem a qualidade do grão cru; apenas isto retirará do mercado um volume superior a 15,0 milhões de sacas anualmente, com elevação imediata dos preços, conforme proposta da APAC.
10. É conveniente evitar uma nova renegociação das dívidas, conforme o relatório.
Evidente, para quem não consegue propor soluções, a única solução seria eliminar alguns produtores. Inaceitável e inacreditável tal recomendação. Isto não é proposta que se apresente. É preciso e necessário renegociar, porém, com um planejamento estratégico consistente para suporte.
11. A solução deve beneficiar principalmente os pequenos e médios produtores, conforme o relatório.
Da mesma forma, para quem não consegue propor solução alguma, que os “santos” beneficiem os pequenos e médios, assim como num naufrágio, a preferência de salvamento é por mulheres e crianças. Regras de salvamento desta natureza são válidas apenas para catástrofes, que não econômicas.
É necessário beneficiar a todos, sem exceção, e de forma equitativa e justa.
12. Procurar retirar do mercado, via AGF ou recebimento de dívidas em produto, os cafés de baixa qualidade e com incentivo de indução à entrega destes cafés mais baixos, conforme o relatório.
Evidente, pois como estes cafés mais baixos não contemplam as exigências para exportação, serão usados pela indústria nacional, sem custos de estocagem, e com disponibilidade total. Este procedimento é para beneficiar apenas a indústria nacional, em detrimento à cafeicultura.
13. Fala-se muito em dívidas, as quais são da ordem de R$7,8 bilhões, mas absolutamente nada sugerem ou recomendam para sanar este grave problema, induzido pelo próprio governo. Para esta solução seria necessária uma série de medidas, além da fundamental recuperação de preços.
Nenhuma proposta solucionadora, onde ocorra a condição de ser controlável, fora proposta.
Relatórios como estes, devido a sua profundidade sob os reflexos diretos à atividade e até mesmo à sociedade chegam a ser insanos sob o ponto de vista técnico, justificado pela ausência absoluta de apresentação de cenários alternativos indicando as soluções, ao contrário de indicar a extinção dos cafeicultores, que este grupo incapaz e incompetente sugere. Além do que, as qualificações técnicas, comprovando as capacitações à finalidade proposta, dos integrantes deste grupo deveriam ser apresentadas, devido a serem responsáveis pelo ordenamento das informações obtidas, traduzindo-as em critérios de estabelecimento de eficiência ou não dos cafeicultores de determinadas regiões, a ponto de sugerir mudarem de atividade.
A responsabilidade pelas conclusões de um relatório desta natureza é potencialmente séria e grave, exigindo capacidades e competências dos elementos formadores do grupo de estudos.
O relatório indica pontualmente a concorrência dos cafés Robustas/Conillon sobre os Arábicas em detrimento dos preços internacionais, o que é fato, porém, como sempre, nenhuma proposta é apresentada como forma de solução.
Sendo concorrentes, conforme o próprio relatório aponta, então se justifica a separação entre eles, ativando a Associação Brasileira de Café Arábica, e criando a de Robustas/Conillon.
Informa também, que os fundamentos da produção, consumo e estoques nem sempre possuem relação direta com os preços. Isto é falso, ao tratarmos de produto primário, principalmente.
Existe sim, relação direta.
Afirma ser importante e fundamental a criação e estabelecimentos dos custos de produção, principalmente para a formulação de políticas públicas para o setor, mas são incapazes e incompetentes para tais. Uma das justificativas a esta afirmativa está no fato que falam em custos obtidos por informações de terceiros, o que seria considerado uma falha técnica comprometedora, e principalmente não relacionam estes custos às produtividades vinculadas aos mesmos, o que é outra falha crucial e comprometedora. E o custo padrão, elaborado antecipadamente pelo governo, como forma de referência, para aceitação ou não dos demais, assim como se faz em toda e qualquer licitação, onde estaria e qual seria? Estas são falhas estruturais técnicas e comprometem quaisquer resultados sobre conclusões.
Concluindo, este relatório apresenta muita “perfumaria”, muitas distorções e nenhuma proposta. Assim, mesmo inconclusivo, recomendam a eliminação da atividade cafeeira em regiões que acreditam não ser eficientes. É inacreditável e agressivo à sociedade produtiva.
Ineficiente é o governo e os integrantes deste grupo.
E, ao cafeicultor, que vá plantar o que achar melhor, desde que não seja café, pois este ineficiente e incompetente grupo de trabalhos recomenda isto ao Sr. Ministro da Agricultura.
O pior é que se o Ministro acatar este estudo,estará contemplando os pleitos da cafeicultura, através deste relatório, se mostrando totalmente ineficiente e incompetente, com o aval das lideranças e a omissão dos cafeicultores (em extinção).
Engº José Eduardo Reis Leão Teixeira
Varginha, 23 de setembro de 2009.
estradacafe@uol.com.br