A despeito do recuo da moeda americana de R$ 3,15 para a faixa de R$ 2,20
Em seu estilo peculiar, o presidente Lula também criticou as cassandras que atazanavam o antecessor Fernando Henrique Cardoso, apontando para o câmbio sobrevalorizado. As críticas ao real forte pré-1999 se repetem desde o início do ano, quando o dólar desabou – reflexo do crescente fluxo de capitais de curto prazo, atraído não por nossos belos olhos mas pela taxa de juros escorchante.
O saldo comercial flutua ao sabor de variáveis como câmbio e demanda externa, tornando difíceis previsões exatas sobre seu comportamento. No fim do ano passado, esperava-se um superávit de US$ 27 bilhões em 2005. Agora, fala-se em US$ 42 bilhões. Um fator desfavorável, no entanto, traz sempre impacto sobre os resultados da balança, embora a médio prazo. Contratos de comércio exterior são, tradicionalmente, de longo prazo. Portanto, a queda do dólar, por exemplo, só vai doer no bolso do exportador depois de seis meses.
A despeito do recuo da moeda americana de R$ 3,15 para a faixa de R$ 2,20, o governo petista foi pródigo em auto-elogios pela capacidade brasileira de desbravar novos mercados. No último mês, contudo, o saldo cresceu expressivamente menos. Resta saber quem será culpado. Os fazendeiros que não vacinaram seus rebanhos contra a febre aftosa? Ou o Banco Central, que não travou a queda do dólar, nem sob a alegação de reforçar as reservas externas?
A conta virá no ano que vem, quando nenhum petista terá coragem de invocar os saldos comerciais como exemplo de sucesso da gestão Lula. Relatório da MB Associados projeta superávit de US$ 36 bilhões em 2006, devido ao enfraquecimento da demanda por alguns dos produtos que exportamos e também ao impacto do câmbio sobrevalorizado.
Ninguém quer vender lá fora a preço de custo, mas o saldo comercial só não encolheu mais até agora porque os exportadores não querem abandonar mercados conquistados a duras penas.
A aftosa é o de menos. Pelo andar da carruagem, de acordo com as previsões da MB, só o setor de agropecuária (incluindo café, carnes e açúcar) vai continuar ampliando seu saldo comercial. A curva de todos os demais é de queda. Custa nada bater na tecla, mais uma vez: a cada mês que passa com o real sobrevalorizado, comemora-se o crescimento das vendas de commodities, enquanto o país perde competitividade em manufaturados – automóveis, celulares, aviões. Belo modelo de desenvolvimento para o novo Brasil grande dos petistas.