CAFÉ – DEPUTADO DIZ QUE GOVERNO DEMOROU MAS VÊ ACERTO NA RETIRADA DE 10 MILHÕES DE SACAS, E ALERTA PARA QUE A CONVERSÃO DA DÍVIDA DO PRODUTOR CUBRA OS CUSTOS DE PRODUÇÃO
VEJA A TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO PRESIDENTE DA FRENTE PARLAMENTAR DO CAFÉ, DEPUTADO FEDERAL CARLOS MELLES, À RÁDIO NACIONAL.
1- Rádio Nacional – Nós vamos agora conversar com o deputado federal Carlos Melles (DEM/MG), ele que também já foi Ministro do Esporte e Turismo, está com a gente pra falar justamente do assunto, que o brasileiro gosta demais, que é o café. Qual brasileiro que não gosta de café, dificilmente se encontra algum que não gosta de tomar aí o seu cafezinho. Mas será que o nosso cafezinho está com problemas? Pois bem, como está essa questão do nosso café, ele que esteve aí sendo debatido e discutido inclusive por comissões, por entidades, e de repente não se chegou à uma conclusão deputado?
Carlos Melles – Eu vou tentar situar os problemas para que os nossos ouvintes entendam. O café, a matéria-prima café, o grão do café custava mais ou menos 30% do produto final, do nosso cafezinho na xícara. Hoje ele está equivalendo a 7% só, ou seja, houve uma transferência de renda muito grande. A matéria- prima caiu 23% em média, do que era em termos de receita final. E o preço do café ficou quase que tabelado durante 8 anos. Enfim, há um trabalho escravo na ponta da produção, porque o produtor está produzindo, o trabalhador está ganhando menos, e a ponta final ganhando muito, mas quem ganha muito é o intermediário.
Então houve um movimento aqui na Câmara, chamado SOS Café, pra mostrar que o salário mínimo que saiu de R$ 70,00 lá em 1994/ 1995, foi pra R$ 500,00 agora, o que nós aplaudimos e queremos. O adubo saiu de R$ 250,00 para R$ 1.500,00 a tonelada. E assim tudo subiu e o café ficou para trás. O Brasil é o maior produtor e vai ser o maior consumidor de café do mundo. E agora o governo começa a entender que precisa formular uma política de café, uma política justa, uma política correta. Porque o que o Brasil faz em café reflete no mundo. O Brasil exporta um volume formidável de café, mais de 30 milhões de sacas, mas com uma receita pequena, ou seja, exporta o patrimônio, exporta o suor do trabalhador brasileiro.
E aqui internamente, o consumo é muito bom, é uma reserva de mercado formidável para os produtores, mas os preços também são muito baixos. Enfim, nós temos que discutir a política interna para o Brasil e o presidente Lula sinalizou com o ministro Reinhold com o ministro Mantega, que vai refazer os estoques reguladores, vai comprar 10 milhões de sacas que o Brasil ordene a oferta mundial, para que realmente os preços tenham um equilíbrio melhor para o produtor e o trabalhador brasileiro.
2- Rádio Nacional – Agora quando o sr. fala em política justa do café, o que seria essa política justa deputado?
Carlos Melles – Olha a política justa do agronegócio como um todo, todo mundo fala em agronegócio, mas o agronegócio na verdade é da porteira pra dentro. A política justa é você vender dentro de um nível de produtividade, que você seja competitivo com o mundo e aí eu explico melhor o que é uma política justa. O Brasil produz, o produtor brasileiro produz 20 sacas de café por hectare, o produtor mundial produz menos que o brasileiro que é em média de 12 até 15 sacas de café por hectare, ou seja, então o produtor brasileiro é mais eficiente enquanto produtor. Essa eficiência que deveria ser lucrativa, ela não é porque não tem preço interno.
Então o que é uma política justa, é você ter pelo menos preços de venda, pelo menos que você cubra o preço de produção dentro de uma produtividade, que você seja competitivo com o mundo. Uma produtividade que você não premie aquele produtor mal, ineficiente. Então essa é a política justa. E nesse aspecto, o Brasil ainda continua sendo mais eficiente no arroz, no milho, no leite, no café, no feijão, na soja, conseqüentemente na carne, porque esses produtos transformam-se em quilo de carne, em quilo de proteínas, mas o preço de venda é menor que o preço de produção. Então eu chamo de política justa essa, quando você tem bons níveis de produtividade, você é um produtor eficiente acima da média do mundo, você tem um preço compensatório para aquilo que você produz.
3 – Rádio Nacional – A sinalização apontada pelo presidente Lula para buscar uma correção nessa questão dita pelo sr. tranqüiliza a classe?
Carlos Melles – Ela demorou. O ministro Reinhold é um homem formidável, sensato, coerente, ele percebeu que a política do café está atrasada, ela não foi feita no tempo e nem na hora certa. Esse é um outro grande problema. Quando você está colhendo, tira o dinheiro para a colheita, depois que você colhe, precisa do dinheiro para estocar o produto. Quando você está na entressafra, você precisa de recursos para fazer o custeio da lavoura. E nesse tempo, ele foi defasado, já que os recursos não chegaram. O produtor teve que buscar recursos livres na média de 2%, 2,5% ao mês, que é uma loucura.
E nesse aspecto, o governo tenta fazer um redimensionamento da política de café e acho que o presidente Lula está sensível e correto. Primeiro vai comprar 10 milhões de sacas, com direito do produtor recomprar esse café, caso ele suba. E como eles estão pensando em comprar em um preço muito baixo, que é abaixo do custo de produção, certamente ele vai subir e o produtor pode ter o direito de recomprar esse café. Essa é uma política coerente, sensata, a melhor seria já comprar pelos preço justo de R$ 300,00, mas o governo insiste em comprar por R$ 261,00, ou seja, essa diferença tem que esperar o tempo chegar na melhora de preço para o produtor poder ter esse ganho de até R$ 300,00.
O segundo é a conversão das dívidas, acumularam-se umas dívidas nesse período, de 2000 a 2001 até 2007/2008. Esse endividamento que é superior a R$ 5 bilhões, o setor também pede que se transforme essas dívidas em produto, em café com um prazo decente, vamos dizer assim, condizente que possibilite o produtor pagar em café ou em produto. Essas coisas também já estão autorizadas, mas os preços não são compensadores, é preciso que tenha um preço melhor de conversão da saca de café, da dívida na saca de café pelo menos a R$ 300,00 a saca. Então é muito importante que essas coisas sejam esclarecidas, e eu como presidente da Frente Parlamentar de Café, uma Frente que tem quase 200 deputados e senadores, preciso reafirmar que o café tem uma importância social muito forte no Brasil.
São mais de 1.800 municípios que tem como a maior fonte de renda e de emprego, o café. Você imagina, nós temos mais de 5.500 municípios aproximadamente, e pouco menos da metade produz café. Então ele não tem mais a importância econômica, perde a importância política, mas tem a importância social e ambiental que é muito grande. Dessa forma nós estamos nesse diálogo permanente, terça-feira às 16h, o presidente Lula recomendou ao ministro José Lúcio (Ministro das Relações Institucionais) que também nos recebesse, recebesse a liderança da produção brasileira de café, juntamente com os deputados e senadores da Frente Parlamentar do Café, para que a gente continue esse diálogo de um acerto da política da política cafeeira para o Brasil e para o mundo.