O Mercado De Commodities Ensaiou Recuperação Em Setembro

Para o café arábica, a redução foi de 8,71% em relação à média de agosto. As cotações apresentaram forte tendência de queda, devido ao efeito da especulação por parte dos fundos com os investimentos em petróleo, saindo das posições investidas em café e da

25 de outubro de 2005 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Nelson Batista Martin

Setembro foi o mês em que ocorreram fortes especulações com o preço do
petróleo, que atingiu cotação próxima dos US$ 70 o barril. Isto influenciou
fortemente as ações dos fundos de investimentos, com efeitos nos mercados das
commodities agropecuárias.

            Dessa
forma, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, seis tiveram
alta de preço nos mercados de futuros, mas três com expressiva importância nos
volumes negociados nas bolsas apresentaram expressivas quedas (casos do café, da
soja e do milho). A borracha natural foi altamente beneficiada pela alta do
petróleo e seus preços cresceram 10,20% no mês.

            O boi
gordo, que apresentava queda nas cotações desde o início do ano, reverteu a
tendência, tanto em dólar quanto em real por arroba, apresentando alta na Bolsa
de Mercadorias e Futuros (BM&F). A sinalização de que ocorrerá redução na
oferta no final da entressafra do produto deverá dar sustentação à alta nos
próximos meses.

            Já no
acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta, com
exceção do café arábica e do boi, em real, que apresentam queda. Porém, no
acumulado de 12 meses, apenas o milho e o boi gordo cotado em real apresentaram
queda nas cotações, enquanto as demais commodities tiveram
crescimento.

            A
tabela 1 apresenta os resultados da análise das cotações das principais
commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos
futuros de segunda posição de entrega, realizados em setembro e negociados nas
bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e
suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do
boi na BM&F.




Tabela 1 – Variação dos preços médios
mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição,
setembro de 2005 e acumulado em 12 meses
(em percentagem)


 










































































Commodities
Mercado

Setembro de
2005

Acumulado
2005

Acumulado 12
meses
Açúcar
NY

6,82

20,08

24,63
Algodão
NY

3,43

18,53

3,33
Café
arábica

NY

-8,71

-6,40

21,43
Café
robusta

Lo

-13,90

19,29

37,33
Suco
Laranja CC

NY

3,17

14,79

19,45
Soja
grão

CHT

-7,49

8,61

3,42
Milho 
CHT

-5,00

3,84

-3,11
Trigo
CHT

0,26

9,42

0,79
Borracha SM20
Malásia

10,20

33,15

35,18
Boi
BM&F

4,88

2,35

9,76
Boi –
em reais

BM&F

0,13

-13,73

-12,99
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das
Bolsas Internacionais e da BM&F

            O
avanço na colheita norte-americana de grãos e os bons rendimentos médios que vem
sendo obtidos têm influenciado e reforçado a tendência de queda nas cotações da
soja e do milho no mercado de Chicago no mês de setembro, como já havia
acontecido em agosto.

            O
preço médio da soja, no mercado de Chicago, caiu 7,49% em relação à média de
agosto. Com o bom rendimento que se vem obtendo no início da colheita e
indicação de produção acima do previsto inicialmente pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1, as expectativas são de
continuação da tendência de baixa neste início da comercialização da nova
safra.

            No
caso do milho, o comportamento em Chicago foi semelhante ao da soja, mas com
queda de 5% em relação à média de agosto. Já a cotação média do trigo se mostrou
estável, com leve alta de 0,26%, devido à menor concorrência do trigo canadense
que apresenta baixa qualidade neste início de colheita.

            Para
o algodão, as expressivas exportações norte-americanas sustentaram a alta das
cotações que cresceram 3,43% em relação à média de agosto


Ainda quanto às commodities negociadas na
Bolsa de Nova York, têm-se o café arábica, o suco de laranja e o açúcar. No caso
do suco de laranja, a expectativa de recuperação da produção na nova safra
citrícola da Flórida é pessimista em função do fraco desenvolvimento dos pomares
e dos ataques de doenças, como o cancro cítrico, o que elevou a cotação média do
produto em 3,17%, em relação à média de agosto. A alta acumulada foi de 19,45%
em 12 meses.
            Para
o café arábica, a redução foi de 8,71% em relação à média de agosto. As cotações
apresentaram forte tendência de queda, devido ao efeito da especulação por parte
dos fundos com os investimentos em petróleo, saindo das posições investidas em
café e da boa florada nos cafezais brasileiros, indicando maior oferta na safra
futura.

            A
queda nas cotações médias do produto, a partir de abril, praticamente levou os
preços médios mensais de setembro aos níveis observados em dezembro de 2004.
Assim, apresentaram uma variação acumulada negativa de 6,40%, em 2005, e
positiva de 21,43% no acumulado de 12 meses.

            Esses
resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:



O café robusta na Bolsa de Londres foi o produto com maior queda
na cotação em setembro (13,90%), em função de maior oferta deste tipo de por
parte dos países asiáticos. Mas o crescimento observado nas cotações médias do
produto, de novembro de 2004 a junho de 2005, resultou na elevação de 37,33% nos
últimos 12 meses e de 19,29% no ano de 2005 (tabela 1).
            Esses
resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:



 

Pelas informações anteriores, verifica-se melhora nas condições de
mercado para a maioria das commodities agrícolas no mês de setembro, com exceção
do café, da soja e do trigo. Isto ocorre no momento em que os agricultores de
grãos e fibras estão em plena colheita (caso do trigo) ou em pleno plantio
(casos do milho, da soja e do algodão).
            Das
crises que hoje atingem o agronegócio, constituídas por aumento dos custos,
redução de receita, elevada taxa de juros e câmbio valorizado, a pior é o efeito
do câmbio. O câmbio valorizado come a receita dos agricultores, o que reduz a
competitividade e aumenta o endividamento.

            Uma
indicação do efeito do câmbio na competitividade dos produtos agrícolas de
exportação pode ser dada pela análise do caso de um produtor de soja que planta
em Sorriso (MT). Em setembro de 2004, quando ele planejava o plantio para o ano
agrícola 2004/05, o mercado de Chicago, segunda posição, indicava cotação média
de US$ 5,67 o bushel. Isto equivalia a US$ 208,34 por
tonelada FOB Paranaguá (PR).

           
Considerando o frete até o porto de R$ 180,00/tonelada, ou US$ 62,34/tonelada ao
dólar médio da época de R$ 2,89, tem-se uma renda bruta de US$ 146,00/tonelada
no seu município, o que equivale a R$ 25,29/saca. Considerando o custo de R$
1.200,00/ha, há que se ter um rendimento de 47,44 sacas para cobrir seus
custos.

            Veja
agora a situação deste produtor em setembro de 2005. A cotação média da soja em
Chicago, para a segunda posição, era de US$ 5,87/bushel ou US$ 215,69/tonelada,
correspondendo ao valor FOB Paranaguá (PR).

            Dado
o custo de transporte até o porto de R$ 200,00/tonelada ou US$ 88,90/tonelada ao
dólar de R$ 2,25, tem-se uma renda bruta de US$ 126,79/tonelada no seu
município, o equivalente a R$ 17,12/saca. Considerando o custo de R$
1.000,00/hectare para a safra de 2005/06, o produtor vai ter de produzir com um
rendimento de 58,41 sacas somente para cobrir seus custos. Verifica-se, assim,
que o produtor vai ter de produzir mais 11 sacas por hectare para manter a
competitividade, devido a perdas cambiais.

            Esse
exemplo indica como o câmbio come a receita do produtor, afeta seu fluxo de
caixa e deve elevar seu endividamento. O resultado é uma crise setorial no setor
de grãos e fibras, com efeitos nos próximos anos e limitação da capacidade
produtiva dos agronegócios brasileiros.

            Nos
últimos anos, o agronegócio foi um dos motores do crescimento da economia
brasileira. A crise que o setor está enfrentando começa a ratear este motor e,
assim, o setor não deve crescer mais no curto prazo, pois está reduzindo
fortemente seus investimentos, especialmente no Centro-Oeste. Isto, além de
afetar os níveis de exportação no futuro, também deverá aumentar os custos de
alimentação, devido à estimativa de menor oferta de produtos na próxima para os
mercados externo e interno.

            Tudo
indica que o ciclo de expansão do setor deverá manter-se num patamar de
estagnação, necessitando de novas políticas públicas e de medidas de política
econômica para que o setor retome sua expansão futura.

 


__________________________

1 USDA: www.usda.gov

2 Artigo registrado no
CCTC-IEA sob número HP-90/2005
















Data de
Publicação:
13/10/2005

Autor(es):

Nelson
Batista Martin (
nbmartin@iea.sp.gov.br)


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